top of page

CURSO DE JOSEFOLOGIA Parte 3

  • Foto do escritor: Traços de Maria
    Traços de Maria
  • 19 de mar. de 2019
  • 72 min de leitura

Curso de Josefologia (3/3)

A ESPIRITUALIDADE JOSEFINA (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 41)

Espiritualidade pode ser exprimida com alguns sinônimos, tais como: caminho de espiritualidade, método, modalidade, mentalidade, norma de vida, interpretação do ideal evangélico, estilo de vida religiosa… Tudo isso entendido num sentido de serviço a Deus.

A palavra espiritualidade não se encontra nos escritos patrísticos dos primeiros séculos e nem na antiga versão latina da bíblia, embora no século V esta passou a indicar uma vida segundo o espírito, a qual implica renúncia ao pecado e esforço para aproximar-se de Deus. Já no século XVII este termo vinha designar seja a vida espiritual enquanto experiência vivida, a qual implica sobretudo ascese, mística, como também a ciência da vida espiritual. (Dizionário degli Istituti di perfezione, ed Paoline, Roma 1997, col 6). No século XX a espiritualidade é definida como: “um conjunto de inspirações e de convicções que animam interiormente os cristãos na sua relação com Deus, como também o conjunto de reações e de expressões pessoais ou coletivas, de formas exteriores visíveis que concretizam tal relação” (Storia della Spiritualità, in Nuovo Dizionario di Spiritualità, ed Paoline, 1985 pg 1543). Difere-se também espiritualidade como “experiência religiosa, entendida como presença vivida e encontro de comunhão com Deus”.

Seja como for, na espiritualidade está presente a fé como a abertura do homem a Deus. É crer nele e não na existência dele, ou seja, implica em “acolher com consciência, com liberdade e com gratuidade a obra de Deus realizada em Cristo” como afirma o Concílio Vaticano II. Isto implica uma fé operosa na caridade. Naturalmente é a luz do Espírito Santo que nos introduz no coração da espiritualidade, e é o Espírito Santo que faz o cristão agir sob a sua ação. Foi o Espírito Santo que honrou São José com o nome de pai, como disse Orígines. Foi o Espírito Santo que o adornou de qualidades, pois houve, como afirma João de Cartagena, uma “simpatia entre o Espírito Santo e São José”. Deus procurou um homem conforme o Espírito Santo. Como o Espírito Santo foi o pedagogo de Cristo na terra, também ele o foi para São José em relação a Jesus. Como o Espírito Santo operou em Maria, também operou em José. José obediente ao Espírito Santo e nele encontrou a fonte de seu amor esponsal (Redemptoris Custus nº 18).

Portanto, São José chamado para ser o Guarda do Redentor, é guiado pelo Espírito Santo de um modo especial, a fim de que corresponda ao empenho de sua missão. Justamente com Maria, José percorre o mesmo caminho traçado pelo desígnio redentivo de Deus, que tem o seu fundamento no mistério da encarnação. Ele fez a “peregrinação da fé” como fez Maria (LG 58), um caminho que corresponde ao conceito de espiritualidade em relação a fé, que é a abertura do homem para Deus. Maria é bem-aventurada porque acreditou, José também é porque respondeu afirmativamente à Palavra de Deus. Portanto, na sua peregrinação de fé, Maria é acompanhada por José, seu esposo, pois ele é juntamente com Maria o singular depositário do mistério “escondido nos séculos na mente de Deus” (Ef 3,9), participando desta fase culminante da auto-revelação de Deus em Cristo.

Nele vemos uma estupenda docilidade e prontidão excepcional de obediência e de execução da Palavra de Deus, pois o seu comportamento ordinário era movido por um autêntico diálogo com o anjo que o indicava o que fazer: “José não temas, faça isso, parta, volte…”. Para São José o “Fiat voluntas tua” era o segredo de sua grande vida.

SÃO JOSÉ, NA LITURGIA (Curso de Josefologia – Parte III – Capítulo 42)

O culto público e litúrgico de São José é relativamente recente, enquanto a sua devoção e veneração são muito antigas. A Igreja Oriental precede, neste culto, a Ocidental. No Ocidente, o culto torna-se local a partir do século IX e por fim público e litúrgico só no século XV.

No Oriente, o primeiro indício encontra-se no Egito. A “História de José Marceneiro” (apócrifo do século IV) traz ao capítulo 26 a indicação do dia 20 de junho como dia comemorativo de São José, e o mesmo fazem os calendários captos.

Em seguida, as fontes calam-se até o século X. Aparece então o “Menológico de Basílio II” (976-1025), com o dia 25 de dezembro como festa de São José, juntamente com os Santos Reis, enquanto outros sinassários e calendários a comemoram no dia seguinte, 26/12, ou no domingo antes (ou depois) do Natal, sempre com outros santos (Davi, etc.) ligados ao nascimento de Jesus.

No Ocidente, os martirológios locais abreviados do século IX (por exemplo o de Reichenau, Rheirus e Trévici) anotam o nome de São José no dia 19 de março. O mesmo fazem os martirológios dos séculos posteriores (Stablo, Verdum, Mantova, Verona, Ratisbona…)

As Cruzadas favorecem a propagação do culto de São José. Em Nazaré os Cruzados construíram em sua honra uma basílica; outras Igrejas surgiram em Bolonha (Itália, 1129), Alcester (Inglaterra, 1140), Joinville (França, 1254).

O seu culto difundiu-se pelo esforço de grandes santos e teólogos, como Ruperto de Deutz (+1133) e São Bernardino de Clervô (+1153). Cresceu ainda mais nos séculos XIV e XV com Santa Brígida da Suécia (+1375); na Espanha com são Vicente Ferreri (+1419); na França com o Card. Pedro d’Ailly (+1425) e com o célebre chanceler João de Gérson (+1429); na Itália com São Bernardino de Sena (+1444), Bernardino de Feltre (+1429) e o Pe. Bernardino de Bústis (+1500); e finalmente de novo na Espanha, com Santa Tereza de Jesus (d’Ávilla, + 1582).

Nesta época, as várias Ordens Religiosas foram inserindo a Festa de São José em seus calendários: os Carmelitas, os Servos de Maria (1324), os Franciscanos (1399); vieram em seguida os Dominicanos e Premontatenses, ao passo que ela não se acha entre Cartuxos, Cistercenses e Cluniacenses.

Trata-se, porém sempre de culto privado. Mas sob Sisto IV (1471-84), a festa de São José finalmente inserida no Breviário Romano, impresso em Veneza em 1479, como de rito simples, a partir de 1482 já promovida a festa de rito duplo com 09 leituras. Enfim, o Breviário de 1499 contém o Ofício completo próprio.

Devagar, a festa de São José foi sendo celebrada na Igreja inteira, especialmente em conseqüência da Reforma Tridentina. Em 1621 (com decreto de 08 de maio) Gregário XV a incluiu entre os dias de guarda.

Clemente X (1670-76) decretou que fosse festa de rito duplo de 2ª classe, e Clemente XI (1700-21) mandou redigir (03/02/1714) um novo Ofício, o mesmo atualmente em uso; os três hinos (Te Joseph, Caelitum Joseph e Iste quem laeti) foram compostos pelo Carmelita espanhol João Escalar. E finalmente, com a proclamação do Santo como Padroeiro da Igreja Universal, a festa de 19 de março tornou-se festa de rito duplo de primeira classe por iniciativa de Pio IX (1870), e o Código de Direito Canônico (cân. 1247, 1) a inclui nos dias santos de guarda.

No século XVIII uma nova festa foi se propagando, aquela do Patrocínio de São José.

Já muitas Ordens Religiosas e muitas Irmandades, como por exemplo: os marceneiros, tinham eleito São José como padroeiro especial e há tempo pediam uma festa especial.

Os Carmelitas da Itália e das Espanha conseguiram-na em 1680, para ser celebrada no 3º domingo depois da Páscoa; pouco tempo depois, o mesmo conseguiram os Agostinianos. Em 1721, para os Dominicanos ela já é festa com direito à oitava.

Príncipes, imperadores e reis declaram São José, Padroeiro de seus territórios: Luís XIV na França, Fernando II e Leopoldo I na Boêmia (1655) e Áustria (1675), Carlos II (1665-1700) na Espanha e na Bélgica. O mesmo fizeram muitos Bispos- Príncipes em suas dioceses ou territórios.

Especial importância teve o culto de São José para as Missões Estrangeiras. Por exemplo: para o Canadá, Urbano VIII concedeu em 1637 que São José fosse o Padroeiro territorial e a sua festa tornou-se festa nacional; assim para os territórios de Madura, Paraguay, Ilhas Marianas, China, etc…

O século XIX foi um século de culto especial a São José. Pio VII concedeu a festa de Patrocínio ao clero romano, em 1809; Pio IX estendeu a festa do Patrocínio de São José a toda a Igreja (10/09/1847), e declarou São José “Padroeiro da Igreja Universal” (08/12/1870).

Em nosso século, Pio X (28/10/1913/ fixou a data da festa do patrocínio, com oitava, à quarta-feira do 2º domingo depois da Páscoa, tirando-a do domingo, depois de ter já substituído (24/07/1911) o termo “patrocínio” com aquele de “Solenidade de São José esposo da Bem-aventurada Virgem Maria, Padroeiro da Igreja Universal)”.

Uma terceira festa em honra de São José é a Festa dos “Esponsais de Maria Santíssima e São José”, já celebrada em Chartres (França) no começo do século XV, recomendada por João de Gerson, adotada e difundida pelos Frades Menores (que lhe reservavam o dia 07 de março) e pelos Dominicanos (no dia 22 de janeiro). Com indulto de Bento XIII (22 agosto 1725), a festa foi definitivamente fixada para o dia 23 de janeiro.

O próprio Bento XIII inseriu o nome de São José na Ladainha dos Santos (19/12/1726); sob Pio VIII o seu nome foi acrescentado na oração “A cunctis” (17/09/1815); Pio X enriqueceu a Ladainha do Santo com muitas indulgências (18/03/1909); Bento XV deu-lhe um “prefácio” próprio (09/04/1919) e acrescentou a sua invocação na oração “Bendito seja Deus” (23/02/1921, para celebrar o 50º aniversário de sua proclamação como Padroeiro da Igreja Universal).

SÃO JOSÉ, NO CULTO (Curso de Josefologia – Parte III – Capítulo 43)

Pio IX no decreto “Quemadmodum Deus, com o qual proclama São José “Patrono da Igreja Universal”, afirma que a “Igreja sempre venerou a São José com grandes honras e louvores”. Não se trata, é claro, de afirmações hiperbólicas, próprias do estilo dos documentos legais: trata-se, pelo contrário, da verdade de inúmeros testemunhos históricos ao longo dos séculos.

É necessário reconhecer, com certeza, que a Igreja primitiva enfrentou dificuldades não pequenas com relação ao patrimônio doutrinário, por ela possuído como semente ainda por desenvolver. A convivência de José no interior da Sagrada Família acabou absorvendo a memória do nosso santo na luz bem mais luminosa de Jesus e de Maria Santíssima. É por este motivo teológico que as lembranças de José são raras e genéricas até mesmo na Palestina, onde por outro aspecto existem basílicas desde o séc. IV (em Nazaré e Belém), que se tornaram centros de culto em honra do santo. Em Nazaré, na Basílica da Anunciação, acreditou-se até mesmo na descoberta do sepulcro de São José, quando debaixo da basílica foi achada uma pequena gruta. Hoje, porém, se supõe que seja o sepulcro de Conde José de Tiberíades, primeiro construtor da Basílica , ou do mártir S. Cono, que teria sido originário de Nazaré.

Na Europa, os mais antigos exemplos de construções em honra de São José pertencem à Itália. Junto da Catedral de Parma há um oratório a ele dedicado desde o ano de 1074. A primeira Igreja (conhecida) dedicada a São José é reivindicada por Bolonha desde o ano 1129. Ignoramos por quem e quando ela foi construída; sabemos, porém que pertenceu primeiro aos Beneditinos, passando em 1300 aos servos de Maria.

A Abadia Beneditina de Alcester (Warwickshire) em 1140 incluiu São José como padroeiro secundário de sua Igreja. Em 1254 uma capela foi construída por um ex-Cruzado, o senhor de Joinville, na Igreja de São Lourenço da mesma cidade (Joinville – sur – Marne), a fim de custodiar uma relíquia de São José por ele achada na Palestina.

Em Avinhão, na Igreja de São Nicolau, uma capela foi dedicada ao Santo pelos idos de 1375, como resulta pelo brasão de Gregório XI (1370-1378), que decora o altar da mesma.

Em Milão, o santuário de São José começou a ser construído em 1503.

Em Roma, desde 1540 a veneranda Arquiconfraria de São José dos Marceneiros construiu sobre o Cárcere Mamertino uma igrejinha de madeira, que em 1598 foi substituída por outra de alvenaria desenhada pelo arquiteto milanês João Batista Montani, e consagrada em 11 de novembro de 1663. Além da Igreja, havia ao seu lado amplo oratório reservado aos exercícios de culto dos membros da Irmandade.

Em 1541, o monge cistercense Desidério do Adjutório, Cônego de Nossa Senhor dos Mártires (Pantheon), conseguiu faculdade de erigir no mesmo templo um altar em honra de São José da Terra Santa”, título devido ao fato de ter sido colocada, no interior do altar, Terra trazida dos Santos Lugares.

Santuário Josefino muito celebrado é, ainda hoje, o de São José Vesuviano, perto d Nápoles, cujas origens remontam do ano 1622.

Em 1613, Maria de Médici deitou em Paris a primeira pedra da Igreja dos Carmelitas Descalços, considerada por todos a primeira Igreja dedicada a São José em terras de França, mas que divide esta honra com a Igreja dos Jesuítas de Lyon e com ela partilha o fato de ter sido fruto da devoção do Jesuíta Pedro Cotton (+1626). Ainda em Paris, há outra Igreja que um grupo de Cistercenses Reformados (chamados “Feuillantes” dedicou a São José: nela, Bossuet em 1657 fez o seu primeiro panegírico do santo. Deve ser lembrado, também, o Santuário de São José em Cotignacvar de Provence: foi erigido em 1660, depois da aparição do santo e o aparecimento de uma fonte milagrosa. Outro Santuário famoso em terra de França é o Espaly.

Dois há na Bélgica, respectivamente em Bruxelas (dos Redentoristas; é de 1842), e em Luvaina (dos Pes. do Sagrado Coração; é de 1860).

A Holanda tem seu santuário Josefino em Smakt (Linburgo).

A Espanha edificou em Barcelona, no fim do século XIX, dois templos ao santo: o primeiro é dedicado a “São José da Montanha”; o segundo, à Sagrada Família, mas com intenção evidente de propagar a devoção a São José.

Em Londres (mill Hill), desde 1874 admira-se a bela Igreja dedicada a São José por vontade do Card. Vaugham.

O Canadá possui a Basílica de Montreal, Santuário Nacional de São José, fundado em 1904 pela fé e devoção de um Irmão leigo da Congregação de Santa Cruz, o Irmão André (do século, Alfred Bassette, (+ 1937)).

Na Itália existem outros santuários Josefinos em Roma (São José do Bairro Trionfale, Asti (Santuário dos Oblatos de são José), Veneza, Trento, etc.

O Brasil tem seu santuário Josefino em Barbacena (Minas Gerais) e em outros lugares como o Santuário de São José na cidade de Apucarana-PR.

O México, em Monterrey.

O Equador, em Salinas.

A Califórnia (USA), Em Santa Cruz, etc.

Nem é possível sequer lembrar todas as paróquias e capelas dedicadas ao santo no mundo inteiro. Seja suficiente dizer que no fim do séc. XVIII a ordem do Carmelo já tinha, sozinha, mais de 150.

SÃO JOSÉ, NAS FESTAS E RECONHECIMENTOS (Curso de Josefologia – Parte III – Capítulo 44)

Comecemos, mais uma vez, pelo Oriente. O teor da apócrifa “História de José Carpinteiro” e sua grande difusão a partir do séc. IV, comprovada pelas inúmeras traduções, levam a admitir o fato de um culto mais antigo nas regiões influenciadas pela mesma “História”, com a instituição de uma festa entre os Coptos Monofisitas egípcios que de fato comemoram a morte do santo a 20 de julho.

A “História” contém passagens que demonstram a sincera estima daquele povo para São José.

No “Sinaxário” medíceo da Igreja Copta de Alexandria, escrito pelo ano de 1425, ao dia 26 de abril (20 de julho) se lê: “Morte do Santo velho e justo José, marceneiro, esposo da Virgem Maria Mãe de Deus, que mereceu ser chamado pai de Jesus Cristo”.

Os calendários que lembram a festa de São José no Oriente são do séc. X e foram compilados no mosteiro palestinense de São Saba. Desta época, precisamente, é o primeiro testemunho certo de seu culto em Oriente, a saber: o “Menológio” de Basílio II. Este fixa a comemoração de São José para o mesmo dia de Natal e a comemoração da fuga para o gito no dia seguinte. Outros calendários marcam para o dia 26 de dezembro uma festa de Maria e de José, seu esposo; e celebram no domingo antes do Natal (chamado “Domingo dos Santos Pais”) a festa dos antepassados de Jesus “desde Abraão até José, esposo da Bem-aventurada Mãe de Deus”; e no domingo entre a oitava do Natal, a festa de São José, juntamente com o rei Davi e São Tiago Menor. Trata-se como vê, de festas não exclusivas do Santo; mesmo assim, todas bem perto do Natal, com o intuito de inserir também a José no mistério ao qual de direito ele pertence intimamente. Como prova disso, pode-se lembrar o fato que os católicos Ucranianos, querendo introduzir uma nova festa de São José em obséquio à encíclica “Quanquam Pluries”, escolheram exatamente o dia depois do Natal, honrando de tal forma a São José em união (sináxis) com a Santíssima Mãe de Deus.

No Ocidente, os documentos são mais antigos dos orientais, de pelo menos um século.

O culto de São José é atestado pela primeira vez no manuscrito Rh 30,3 (do séc. VIII) da Biblioteca de Zurig: “José, esposo de Maria”. Trata-se de um calendário, ou estrato de martirológio, que fixa a comemoração de José a 20 de março (que será em seguida o “seu dia”). Provém da Abadia Beneditina de Rheinau (cantou Zugig), mas ignora-se ainda hoje o lugar de origem primitiva (provavelmente, o norte da França ou a Bélgica); como também se desconhece sua importância na tradição monástica.

Nos martirológios e calendários do séc. X em diante (Fulda, Verona, Ratisbona, Stovelot, Werden – sobre a Ruhr, Reichenau,…) a referência a São José aparece sempre a 19 de março: “Em Belém, (comemoração) de São José, nutrício do Senhor”.

Permanece, todavia, certa confusão de data entre 19 e 20 de março nos documentos de Saint-Rémi de Reins e Saint-Maximin de Trévir. A explicação mais provável da escolha e intercâmbio das duas datas talvez esteja na harmonia entre dois mártires: José de Antioquia e Joserus, que teriam sido comemorados em tais dias por antigas recensões do Martirológio Jeronimiano.

A Abadia Beneditina de Winchester reivindica para si a honra de ter sido a primeira a celebrar a festa de São José, pelos idos de 1030. A menção da primeira inserção do nome do nosso Santo nas Ladainhas encontra-se no “Missale Plebarioum” (séc XII) da Biblioteca Vaticana. O primeiro ofício canônico completo, inclusive com notação musical, em honra de São José, é do séc. XIII e provém da Abadia Beneditina de São Lourenço de Liége. No mosteiro austríaco de São Floriano, um missal do final do séc. XIII traz uma “missa votiva do pai nutrício do Salvador”.

No séc. XIII, o culto particular de São José é comprovado pelo místico Hermann de Steinfeld (+1241), monge premoristratense querecebeu o nome de José numa visão de Nossa senhora; como também pelas Santas Margarida de Cortona (+1257) e Gertrude (+1302).

Pelos “Anais dos servos de Maria” (I, 248) acerca do Capítulo de 1324, resulta que eles celebravam com solenidade a festa de São José.

Os Franciscanos adotaram a mesma festa no Capítulo Geral de 1399, usando como texto litúrgico, na missa, o “Corumune Confessorum”. Mas Francisco Fiorentini, em seu livro: “O mais antigo Martirológio da Igreja Ocidental atribuido a São Jerônimo” (Lucca, 1668), seria testemunha de uma festa de São José em vigor na ordem desde o séc. XIII.

Os Carmelitas celebravam a festa de São José, no final do séc. XIV, em diversas localidades da Europa; no início do séc. XV, seu nome está em primeiro lugar entre os santos do dia 19 de março.

João de Gerson, em 1416, no Concílio de Constança, afirmava que a festa de São José (na época, já bastante difundida) era celebrada pelos Agostinianos de Milão a 19 de março e pelos ingleses a 09 de fevereiro, na oitava da Purificação de Maria.

Foi de João de Gerson a idéia de celebrar a liturgicamente “os Esponsais de Maria Santíssima como São José”: a festa foi realizada em 1537 pelos Franciscanos, que a adotaram em honra a Nossa senhora, seguidos depois por muitas outras Ordens Religiosas.

Inocente XI permitiu a celebração da mesma festa nos domínios do Imperador Leopoldo I e na Espanha. Foi suprimida por João XXIII com instrução da Sagrada Congregação dos Ritos de 14 de fevereiro de 1961.

A festa de 19 de março entrou no Breviário e no Missal Romano em 1479 por obra do franciscano Sisto IV, mas limitadamente à cidade de Roma. A pedido dos Menores Conventuais, o mesmo Pontífice aprovou uma missa de São José, de rito simples, que mais tarde o Papa Inocente VIII promoveu a festa de rito duplo. A 08 de maio de 1621, Gregário XV tornou obrigatória a festa na Igreja inteira, apesar de o decreto não ter sido executado plenamente e ter precisado por isso ser renovado em 1642, sob Urbano VIII. Clemente X declarou a festa de rito duplo de 2ª classe em 06 de dezembro de 1670; e Clemente XI concedeu a São José, no dia 19 de março, missa e ofício próprios (04/02/1714). Bento XIII inseriu o nome de José nas ladainhas dos santos de todos os livros litúrgicos, imediatamente após o nome de São João Batista (19/12/1726).

Pio VII acrescentou o nome de José na oração “A cunctis” (De todos os perigos…”), logo após o nome da Virgem Maria. Pio IX, no dia 10/12/1847, estende à Igreja Universal a festa do Patrocínio de São José, fixando-a ao 3º Domingo da Páscoa com rito duplo de 2ª classe, a mesma festa, porém, já era celebrada pelos Carmelitas em 1680, pelos Agostinianos em 1700 e pelo Clero Secular de Roma desde 1809.

A 24/07/1911 a festa do Patrocínio se transformou em “Solenidade de São José, Esposo da Bem-aventurada Virgem Maria, Confessor e Patrono da Igreja Universal”.

A 28/10/1913 foi-lhe mudada, mais uma vez, a data: desta vez foi fixada para a 3ª quarta-feira depois da Páscoa, com rito duplo de 1ª classe com oitava.

A 24/10/1956 um decreto da S. Congregação dos Ritos aboliu esta solenidade, substituindo-a com aquela de São José Operário, a ser celebrada no dia 1º de maio. O título de Patrono da Igreja Universal foi acrescentado à festa principal, de 19 de março.

Pio IX multiplicou as provas de sua devoção a São José, concedendo indulgências a muitas práticas devotas em sua honra. A pedido dos Padres Conciliares do Vaticano I., no dia 08/12/1870, declarou São José Patrono da Igreja Universal e elevou a festa de 19 de março à solenidade de rito duplo de 1ª classe.

Leão XIII incluiu a invocação de São José entre as orações depois da Missa (06/01/1884) e em 1889 prescreveu uma prece especial em honra do Santo, a ser rezada no mês de outubro, depois do terço.

Pio X promulgou e indulgenciou a Ladainha do Santo para uso público.

Bento XV inseriu no Missal um Prefácio próprio de São José (09/04/1919) e na oração “Bendito seja Deus” mandou acrescentar a invocação do Santo (23/02/1921), em memória de sua proclamação como Padroeiro da Igreja.

Pio XI a 09/08/1922 quis inserir o nome de São José nas orações para os moribundos.

Pio XII instituiu a festa de São José Operário e compôs uma oração apropriada.

João XXIII, a 19/03/1961, declarou-o “Protetor do Concílio Ecumênico Vaticano II”, e a 13/11/1962 mandou inserir seu nome no Canôn da Missa, no “Communicantes” (“Em união com…”).

SÃO JOSÉ, NAS DEVOÇÕES (Curso de Josefologia – Parte III – Capítulo 45)

a) PIAS PRÁTICAS

Um capuchinho italiano, João de Fano (+1539) na sua “História de São José e de sua intercessão”, propôs a devoção das “Sete dores e alegrias de São José”, atribuindo sua autoria ao mesmo santo que, depois de ter salvado dois monges do naufrágio, teria-lhes pedido de rezar todo dia sete Pai Nosso e sete Ave – Maria em memória de suas dores e alegrias em vida. A devoção parece moldada sobre aquela correspondente de Nossa Senhora das Dores, então muito popular. A pia prática, aprovada pelos Sumos Pontífices, é hoje muito difundida e sua formulação (clássica) atual é atribuída ao Ven. Genuaro Sarnelli (+1744).

O “Cíngulo de São José” é devido a uma religiosa agostiniana de Antuérpia, que em 1659 foi sarada de alguma doença pela imposição de um cordão benzido em honra do Santo.

Outras práticas mais comuns: O Culto perpétuo, do qual já tivemos ocasião de falar; “O Manto Santo de José”; o “Escapulário de São José; Os sete domingos de São José”; “A escravidão do glorioso coração de São José”… (Como se vê, continua a preocupação de estabelecer devoções paralelas àquelas Marianas bem conhecidas…).

Tempos particulares dedicados ao Santo: “O mês de março” e toda quarta-feira. Na Bélgica, durante o séc. XVII, foram aprovadas as devoções das 07 ou 15 ou 19 quartas-feiras, que precedem a festa do Santo.

b) RELÍQUIAS

Perúgia (na Itália), desde 1477 gloria-se de possuir a aliança nupcial de São José, provinda de Chiusi, onde por sua vez teria chegado de Jerusalém no séc. XI. Infelizmente, há pelo menos mais seis entre mosteiros e igrejas reclamando a mesma honra.

Notre-Dame de Paris afirma possuir as 2 alianças do noivado entre José e Maria.

Em 1254, um dos Cruzados trouxe para a França a “cinta” de São José, que foi, porém destruída no incêndio da Capela onde estava guardada, pelo ano de 1668. Parte da relíquia, todavia, tinha sido doada em 1649 à Igreja da Ordem dos “Feuillants” em Paris e outra, em 1662, ao Bispo de Châlon para sua Catedral.

Aquisgrana possui faixas com as quais o Santo teria protegido as pernas ou, como outros pensam, protegido o Menino Jesus.

Outras Relíquias foram introduzidas nos séc. XIV e XV. A Igreja dos Carualdolenses em Florença (Santa Maria dos Anjos) guarda um bastão de São José, trazido de Constantinopla nos tempos do concílio Florentino. Fragmentos dele acham-se em Roma (nas Igrejas de Santa Cecília e Santa Anastácia), em Beauvais e Alhures…

As duas Igrejas romanas supramencionadas possuem também parte do manto ou da túnica, mas (como parece costume acontecer em tais casos) compartilham esta honra com duas Igrejas de Bolonha (São José do Mercado e São Domingos), com a Igreja dos Carmelitas Descalços de Antuérpia, e muitas outras mais…

Contrariando todas as tradições mais antigas, algumas Igrejas chegam a afirmar até mesmo de possuir relíquias ósseas.

Objetos vários, pertencidos ao Santo, são guardados em Roma (São Alécio; SS. João e Paulo), Orvieito, Fracati, Loreto e em muitos outros lugares.

Fragmentos do seu túmulo existem em Roma (S. Maria in Pórtico e S. Maria in Campitelli) e Alhures…

SÃO JOSÉ NA ICONOGRAFIA )Curso de Josefologia – Parte III – Capítulo 46)

São José é representado no arco triunfal da Basílica de Santa Maria Maior em Roma, em atitude varonil, com barba, túnica, e manto: é confortado pelo Anjo, segundo o texto de Mateus 1,19-22; está presente na cena da apresentação do Menino no Templo e no episódio (apócrifo) do encontro com o Rei Afrodísio.

Na cátedra de marfim que foi do imperador Maximiano, em Ravenna, São José aparece sempre com túnica e manto, tanto na prova das águas amargas, como no sonho e depois na viagem para Belém e na adoração dos Magos.

Era representado também no oratório Vaticano de João II (705-707), nas cenas da Natividade, Adoração dos Magos e Apresentação ao Templo.

No Oriente, São José é representado acompanhado por seus servos na representação do recenseamento de Quirino (mosaicos de Kahrié-djami, em Constantinopla, pertencentes ao mosteiro de Chora, do século XIV) Nos murais de Mistra Peribleptos (do século XIV), São José recebe do Sumo sacerdote o bastão florido.

Nas colunas do sacrário de São Marcos (Veneza) é representado como um velho que protege a Virgem e segura na mão o bastão florido.

Interesse especial têm as pinturas do Santo feita por Giotto em Pádua, Tadeu Galddi em Florença, Nicolau e João Pisano nos púlpitos de Sena, Pisa e Pistoia, e por Arnolfo no presépio de Santa Maria em Roma.

Na Catedral de Limburg (século XIII) São José é representado como jardineiro da vinha divina.

Somente no “Tondo (= redondo de) Doni”, de autoria do sumo Miguelângelo, pode ser encontrada uma representação potentemente expressiva de São José como Chefe de família, chamado por Deus a uma altíssima função.

Contemporaneamente, na Alemanha os entalhadores difundem as maravilhosas imagens do Santo devidas ao Dürer e aos escultores das estátuas de madeira do Santo, das cidades de Dottighofen e Brandemburg (1459).

No final do século XVIII, encontra-se na Espanha uma série de pinturas (o “Repouso no Egito” de Bartalomeu Gonzales, a “Circuncisão” de Roelos, a “Sagrada Família” de Zurbarán) em que São José é representado em veste de Patriarca do Novo Testamento, protegendo e educando o Menino Deus. Aparecem, neste mesmo tempo, os instrumentos típicos da sua profissão: a serra e o machado.

Este tipo de representação alcança a perfeição no quadro do Herrera (que mostra São José sentado, com Jesus Menino sobre os joelhos) e nas muitíssimas pinturas do Murillo (em que o Santo segura pela mão a Jesus)…

No grande quadro da Igreja dos Capuchinhos em Cádiz (Espanha), São José ampara o Menino já adolescente. No quadro de autoria de L.G. Carlier, São José é coroado por Jesus. Nas obras posteriores, como por exemplo do Tiépolo, o Santo mostra-se intercessor junto ao Redentor ou símbolo do trabalho humano santificado.

SÃO JOSÉ, NO FOLCLORE (Curso de Josefologia – Parte III – Capítulo 47)

Na tradição popular o Esposo da Virgem Maria, antes de mais nada, é o Santo protetor dos pobres.

O episódio que mais atingiu a fantasia popular é aquele do santo casal chegando em lugares estranhos e procurando abrigo na iminência do nascimento de Jesus, sem encontrar hospedagem de ninguém. Como reação psicológica encontra-se nas expressões de culto popular uma evocação dramática do episódio, com um final que visa aplacar o sentimento de caridade da alma popular.

Há muitas e lindas canções populares que evocam a figura de são José em episódios mais ou menos lendários, imaginários acerca da Sagrada Família. Pertence a este tipo de narrativa popular uma lenda que visa fazer ressaltar a grande força de patrocínio de São José: mas a maneira de demonstrá-lo (fazendo com que até mesmo um ladrão consiga alcançar o Paraíso) é um típico fruto da fantasia do povo. Esta lenda tem certa ligação com o “Debate em Paraíso”, peça do teatro popular entre as mais aplaudidas da Idade Média.

São José é também padroeiro dos marceneiros, e as corporações dos artesãos madeireiros dos séculos passados foram as que mais incentivaram e promoveram a sua festa.

Duas, especialmente, são as características mais recorrentes na festa do Santo: os fogos e os pastéis. Em muitos lugares a antiquíssima tradição dos fogos da primavera se faz coincidir com o dia 19 de março. Pilhas enormes de lenha são preparadas por devoção e incendiadas nas encruzilhadas e praças das cidades, por obra especialmente dos jovens; e quando o fogo vira brasa, eles pulam em cima, revivendo antigos ritos agrestes de purificação. A tradição dos pastéis é comum em quase todos os lugares onde se celebra a festa, mas em Roma apresenta traços de férvida originalidade: o interesse pelo produto comestível é avivado pelas mais variadas e originais iniciativas de tipo publicitário, como por exemplo, por meio dos conhecidos “sonetos”, que tanto atraíram a atenção dos letrados no final do século passado e no começo do atual…

O amor e a piedade popular dos fiéis para com São José teve e continua a ter um matiz de gosto folclórico em muitos lugares. Por ocasião da festa de 19 de março, é costume na Sicília, Itália, as famílias organizarem o Banquete de São José, que consiste em convidar alguns pobres para um almoço. Este é servido pelo pai de família ou pelo sacerdote na igreja. Ainda na Sicília, é hábito vestir um velho de bons costumes com uma túnica e um manto carregando uma vara florida na mão, com a qual abençoa quem quiser. Neste dia, além de receber a hospitalidade das famílias, ele participa da missa e reza pela prosperidade da cidade. Em algumas localidades , neste dia são levados pães à Igreja para serem abençoados e depois distribuídos aos pobres ou comidos em família. Numa outra localidade da Itália denominada Gela existe o costume de no dia 1º de maio os devotos levarem para leilão na Igreja o Prato de São José, formado por vários gêneros alimentícios. Ele é leiloado e a renda revertida em obra de caridade. Ainda na Itália, na cidade de Riccia, os fiéis praticam a chamada Devoção a São José, que consiste em convidar para o almoço três pessoas: um casal e um jovem, representando José, Maria e Jesus. Na ocasião são oferecidos alguns doces especiais que trazem o nome do Santo, indicando assim seu compromisso de proteger os devotos.

Outra bela tradição é encontrada em Siracusa, onde doze devotos celebravam no dia 19 de cada mês o chamado “Dezenove”. Cada devoto preparava para o dia três roscas grandes e várias outras pequenas e as levava diante da estátua do Santo na missa do dia. Depois as três grandes eram distribuídas a três pobres, normalmente a um idoso, a uma moça e a uma criança, e as roscas pequenas eram distribuídas aos amigos. Ainda no dia 19 de março, as pessoas que podiam levavam todo tipo de gêneros alimentícios à igreja, que depois da missa eram vendidos e aplicados na festa.

O uso da chamada Mesa de São José, como nos exemplos mencionados, ainda vigora em muitos lugares, nas mais variadas formas, como preparar uma farta mesa no dia 19 de março e convidar cinco pessoas representando Jesus, Maria, José, Santa Ana e São Joaquim. Ou preparar em plena praça pública, às 12 horas, uma longa mesa ou várias mesas para os mais pobres e idosos. Outro costume é oferecer um pão de forma arredondada ao acender fogueiras. Um hábito bonito é mandar benzer muitos confeitos no dia 23 de janeiro, festa dos esponsais de São José com Maria, e depois distribuí-los entre os amigos e levá-los aos doentes. Em Bonn, na Alemanha, o arcebispo José Clemente (1688-1723) organizava na mesma festa uma procissão do Santo que atravessava a cidade, e depois convidava três pobres a almoçar em sua casa. Em Iloilo, nas Filipinas, um almoço era oferecido na festa de São José a sete pobres, em memória de suas sete dores e alegrias. Em Malolos, no mesmo país, nos casamentos é executada uma dança religiosa chamada Panasahan, para lembrar o santo casamento de José e Maria.

Interessante ainda notar que em Nápoles, na Itália, por ocasião da festa do Santo é organizada a feira da “Violeta de São José”. Os devotos compram as flores e as oferecem em homenagem ao Santo nas igrejas ou diante das imagens que cada um possui em sua casa, Na Província Italiana de Salermo, todos os anos são organizadas duas procissões que partem de duas igrejas diferentes com as estátuas de São José e de Nossa Senhora. Elas se encontram na praça principal, com o detalhe de que no dia 19 de março é Nossa Senhora quem oferece um maço de flores a São José, e no dia 08 de dezembro este retribui o dom. Quanto às flores, algumas delas receberam a denominação do Santo, como o conhecido “Lírio de São José”, o “bastão de São José” e até a planta colombiana que traz o nome de “Varitas de São José”.

Na Escócia, São José é o patrono do tempo, e sua estátua às vezes é colocada fora de casa coberta com um guarda-chuva para indicar o tempo que se deseja. O mesmo costume existe na Austrália, onde a imagem do Santo é colocada fora com um guarda-chuva aberto.

No Brasil, a população do Nordeste, que vive numa região de clima árido, tem São José como o Santo que envia chuva e é costume entre o povo dizer: “Chuva no dia de São José, inverno seguro”, ou seja, se chove no dia 19 de março ou nas proximidades desde dia, será bom o tempo para a colheita. Neste dia, os fiéis fazem uma procissão com a imagem do Santo e soltam muitos fogos de artifício. Na Califórnia, nos Estados Unidos, mantém-se viva a tradição de que no dia de São José os pássaros retornam para a primavera.

Numa disputa com Santo Antônio, São José é invocado pelas moças casamenteiras para encontrar um bom marido. No Brasil, desde o século XVIII ele é invocado pelas mulheres grávidas, as quais, para ter um parto feliz, recorrem a Nossa Senhora do Bom Parto, mas com a participação de São José. Ele ainda é conhecido através de muitas lendas e canções que exaltam seu poder de intercessão. Entre as canções, lembro no Brasil o canto “Bendito São José” que o povo utiliza as procissões de penitência durante a seca, assim como no tempo do Natal, nas festas de São José e nos terços rezados em família. O canto se inicia com a estrofe: “Bendito louvado seja, Senhor São José, leva Deus Menino para Nazaré”. Ainda no Brasil, em 1928 o Dr. José Rodrigues de Carvalho publicou, na Paraíba do Norte, uma Chácara com a finalidade catequética de difundir o culto a São José, invocado como protetor das famílias cristãs. O texto fala de uma moça que se livra de um casamento indesejado, implorando a proteção do Santo. O texto se inicia com esta estrofe: “Estava ela chorando. Viu São José chegar…” – Maria, minha afilhada, o que foi isso por cá? É meu pai, meu bom padrinho, que comigo quer casar?

SÃO JOSÉ, NA ARTE (Curso de Josefologia – Parte III – Capítulo 48)

Vimos até aqui a teologia, o magistério da Igreja, a devoção popular e as diversas vertentes do culto a São José. Cabe-nos agora, em poucas palavras, ver o nosso Santo na arte, já que ela espelha de forma visível aquilo que foi pregado e ensinado aos fiéis ao longo dos séculos e nos diversos lugares, pois a arte testemunha a catequese.

“Na arte é possível comprovar como as extravagâncias dos relatos apócrifos e a sobriedade dos evangelhos, as reflexões da mente e o afeto do coração foram canalizados. A arte é o pulso onde se pode controlar objetivamente o estado de saúde da teologia”. (100)

São José é pintado com o Menino Jesus nos braços, ou ao seu lado com um martelo, um bastão ou vara florida nas mãos, ou atento em sua oficina de trabalho, ou ainda com uma auréola na cabeça, jovem ou velho de barba branca, em adoração diante do Menino, com um livro na mão etc. Essa representação figurativa é um fato significativo, porque por trás dela existe um pressuposto lógico baseado nos relatos dos evangelhos, dos apócrifos, dos documentos da Igreja, dos costumes da liturgia, das devoções populares, das tradições, das literaturas religiosas, da oratória sacra e do folclore.

Em geral, as representações sacras tiveram início a partir do século X, relacionadas sobretudo com a liturgia do natal. São José foi focalizado na cena da Anunciação, na visita dos pastores à gruta de Belém, e na fuga ao Egito. Alguns séculos mais tarde, ele ganha as representações dos apócrifos que focalizam seu casamento com Maria, os magos, a apresentação no Templo, sua escolha por Deus, a vida em família na cidade de Nazaré… Sua figura, porém é pintada como um homem velho e com barba, devido à influência dos apócrifos . Entretanto, é interessante notar que, a partir do Renascimento (1450 -1600), ele começa a ser representado com certa freqüência com um livro nas mãos. Naturalmente , isso está em perfeita consonância com os deveres do pai na tradição hebraica, a qual tinha, entre outras, a tarefa de instruir o filho na Torá. Esse novo “visual” do Santo não deixou de representar sua figura como um velho com um lírio na mão direita e um livro na esquerda, mas ao mesmo tempo foi aparecendo um São José jovem, com o bastão na mão direita e um livro fechado na esquerda. Outras vezes a figura desse São José “novo” é apresentada lendo um livro, ou ao lado da mesa de carpinteiro cheia de ferramentas à luz de uma vela lendo um livro.

Mais recentemente, o diretor de cinema Franco Zeffirelli, no seu filme “Jesus de Nazaré”, apresentou um São José atraente, jovem e inserido numa família perfeitamente normal, como uma pessoa humanamente completa, exercendo a profissão de carpinteiro, como um hebreu profundamente religioso, dócil e aberto ao desígnio de Deus a seu respeito.

Concluindo, podemos afirmar que presença de São José na iconografia, na escultura, na pintura, em suma na arte, é bastante satisfatória, a tal ponto que possibilitou uma grande exposição sobre “São José na arte espanhola” em Madri, em 1972. Ela foi preparada pelo Centro Espanhol de Pesquisas Josefinas, que recolheu obras de arte dos museus nacionais, das coleções do Patrimônio Nacional, de catedrais, igrejas e de colecionadores particulares de todas as partes da Espanha. Também na França foi feita uma exposição dedicada a “São José, o desconhecido”, em 1977, que ofereceu uma panorâmica da arte Josefina nos séculos. Além destas, outras exposições menores de santinhos e imagens do nosso tempo foram organizadas em vários lugares. Uma das últimas foi realizada em 1989 na Cidade do México, por ocasião do V Simpósio Internacional de Josefologia.

OS PATRONATOS DE SÃO JOSÉ Curso de Josefologia – Parte III – Capítulo 49)

Entendemos, com tal nome, reunir todas aquelas categorias e instituições que se puseram sob o patrocínio de São José, particularmente as Ordens, as Congregações e os Institutos.

São Bernardino de Sena (+1444) num dos Capítulos Gerais da sua Ordem já tinha colocado todas as casas reformadas sob o patrocínio do nosso santo. À nova Província tinha dado, além disso, um sinete apresentando José que segura o Menino Jesus nos braços, como resulta de documentos da época.

Do mesmo modo, depois da morte de Santa Tereza d’Ávila, o Capítulo Geral dos Carmelitas elegeu o Santo como Patrono da Ordem (1621), sendo imitado em 1632 pelos Agostinianos.

Mas são especialmente as Congregações masculinas e femininas nascidas com o nome de São José, as que mais reivindicam o seu Patrocínio.

Algumas delas já se extinguiram, por exemplo: os Missionários de são José, fundados em 1650 por José Cretenet em Lyon; e os Cavaleiros de São José, reorganizados na Toscana (Itália) em 1807, mas que provinham de uma Irmandade de São José existente em Florença desde 1514.

As Congregações e Sociedades masculinas atuais são as seguintes: sociedade de São José de Mill Hill para as missões estrangeiras (“Mill Hill Fathers”), fundada em 1866 pelo Card. H. Vaugham em Mill Hill (Inglaterra), perto de Londres, e aprovada em 1908; os Josefinos da Bélgica, fundados em 1817 em Gramont (Flandres) pelo Côn. Constant Van Grombrugghe e aprovados em 1930; os Missionários de São José do México, fundados em 1872 por José M. Vilaseca e aprovados em 1903; a Pia Sociedade Turinense de São José (Josefinos do Murialdo) e aprovada em 1904; a Congregação dos Oblatos de São José (Josefinos de Asti), fundada em Asti pelo Bem-aventurado José Marello em 1878 e aprovada em 1909; a Sociedade de São José do Sagrado Coração, fundada nos Estados Unidos da América (USA) pelos padres de Mill Hill em 1892 e aprovada em 1932…

Das Congregações femininas, pelo seu grande número, lembraremos somente o nome e a diocese onde reside o governo geral.

A Instituição mais antiga é das “Irmãs de São José”, fundada em 1650 Le Puy-em-Velay por José Maria Médaille e H. Maupas. Depois da Revolução Francesa dividiram-se em Congregações independentes: Armecy, Buenos Aires, Chambéry, Clermond-Ferrand, Concórdia, Filadélfia, Gap, Gerona, Goulbourn, Lausing, Lyon, São João de Moriana, Tarbes, Turim, Toronto, Tréviri, Bordeaux, Moûtiers, Saint-Vallier, Saint Louis…

Outras Congregações, com o mesmo nome, mas sem ligação alguma com as supramencionadas, têm sede principal em: Aôsta, Cúneo, Pinerolo, Lusa, Cluny, Bourg, Alost, Tarnow, Saint-Hyacinthe, Sault-Sainte-Marie, Pembroke, Petergorought, Londres, Pittsburg, Rochester, Nazaré, Orange, Newark, Wichita, Búffalo, Maitland, Buenos Aires,… sob o nome de “Filhas de São José” existem muitas Congregações, com sede em Veneza, Ribalta, Genoni, Santiago, Gerona…

Há, enfim, mais estes outros Institutos:

Filhas de São José Protetoras da Infância (Santiago); Irmãs Josefinas da Caridade (Vich); Irmãs Josefinas da Santíssima Trindade (Plasência); Pequenas Filhas de São José (Montreal e Verona); Pobres Irmãs Bonaerensese de São José (Buenos Aires); Irmãs de São José da Aparição (Marselha), Irmãs de São José (México); Irmãs de São José do Sagrado Coração (Sydney); Irmãs do Patrocínio de São José (Sabina e Pággio Mirteto); Irmãs Franciscanas de São José (Búffao); Servas de São José (Madri); Irmãs Hospitaleiras de São José (Montreal); Mães dos Abandonados e de São José da Montanha (Valência); Irmãs Carmelitas de São José (Autun); Irmãs Terciárias Carmelitas Terezianas de São José (Barcelona); Irmãs Franciscanas Missionárias de São José (Birmingham); Irmãs da Caridade de São José (Emmetsburg); Irmãs Agostinianas de São José, Religiosas de São José e Religiosas Carmelitas de São José (Bélgica); Irmãs Terciárias Franciscanas de São José (Fort Wayne-South Bend).

Essa análise panorâmica nos permite verificar que, no século XVI, foi criado apenas um Instituto religioso “Josefino”, na Europa. No século XVII surgiram 17 Institutos: 14 femininos e três masculinos. No século XVIII nasceu apenas um Instituto feminino na Europa. No século XIX apareceram 123 Institutos femininos e 15 masculinos. No século XX foram fundados 68 Institutos: 10 femininos e 28 masculinos. Concluímos que o século XIX foi o século do grande florescimento de Congregações e Institutos religiosos josefinos, e que o século XX foi aquele que teve mais Congregações religiosas Josefinas masculinas.

AS CONFRARIAS E IRMANDADES (Curso de Josefologia – Parte III – Capítulo 50)

Acredita-se ser do séc. XIV uma associação juvenil feminina, estabelecida em Avinhão (na França) sob o Patrocínio de São José. Em 1485, em Colônia (Alemanha), junto de um convento Carmelita foi instituída uma “Sociedade de São José”.

Em Florença (Itália), em 1514 já vimos existir uma Irmandade de São José, da qual surgiram posteriormente os “ Cavaleiros de São José”. Em Roma, sob o Papa Paulo III, em 1539, 30 operários deram origens à Venerável Arquiconfraria de São José dos Carpinteiros (ou Marceneiros), que teve sua sede na cela superior do Cárcere Mamertino. No início do século XVII agregou-se a ela a “Universidade dos Carpinteiros”, instituída sob Clemente VII em 1525, na Igreja de São Gregário em localidade “Ripetta”. Este nome “Universidade dos Carpinteiros” compreendia uma verdadeira corporação de artes e profissões sob o patrocínio de São José. Pelos documentos de seu arquivo, pertenciam-lhe “fabricantes de carroças, barcos, molas, tambores, caixas de fuzis, caixas de todo tipo, tinas, barris, cadeiras, tamancos, material para fornos, foles… além de ebanistas, torneiros, entalhadores, escultores e serradores…” Desde 1922 a Arquiconfraria está confiada aos cuidados espirituais da Congregação dos Oblatos de Maria Virgem.

Ainda em Roma, em 1542, o já lembrado Côn. Desidério fundou em Santa Maria “ad Mártyres” (Pantheón) a “Companhioa de São José de Terra Santa” (hoje “Pontifícia Academia Artística dos Virtuosos, junto do Pabthheón’), constituída por “homens excelentíssimos na arquitetura, escultura e pintura, e em qualquer outro ofício digno de alto engenho”.

No séc. XVII foi fundada em Valladolid (Espanha) a “Confraria de São José dos mestres entalhadores e em Bonn (Alemanha) a “Confraria da Corte do Príncipe Eleitor”, igualmente sob o patrocínio de São José.

Na França, no mesmo período, surgem Confrarias em todo lugar; na Bélgica, toda cidade tem a sua…

Entre as inúmeras Confrarias, merecem destaque: a “Associação do Culto Perpétuo de São José”, nascida em Milão em 1854 e aprovada por Pio IX com o breve “Jam alius”, de 05/07/1861; a União Missionária de São José, fundada em Aquisgrana, em 1862; a Arquiconfraria de Maria Santíssima da Saúde e dos Santos José e Camilo de Léllis, fundada em Roma por Pio IX em 1866, na Igreja de Santa Maria Madalena para o auxílio espiritual dos enfermos e em especial dos moribundos; a Pia União Primeira de Trânsito de São José para a Salvação dos moribundos, fundada em Roma, na Igreja de São José “al Trionfale”, pelo Bem-aventurado Pe. Guanella e instituída por Pio X a 17/02/1913.

Na França destacam-se as Irmandades de Beauvais, Angers, Seyssinet-Isére, Lyon, Paris. Na Alemanha, destaca-se a Sociedade de São José (de Colônia), para a assistência pública dos inválidos, fundada em 1804. E todos conhecem a Obra de A. Kolping (+1865), da qual São José é padroeiro. Na Espanha há a Confraria de São José de Tortora, a Associação de São José de Valladolid e a “Pia União de São José da Montanha”, de Barcelona. A Bélgica tem as Irmandades do “Culto Perpétuo de São José”, em Malines e Liége; a “Legião dos Filhos de São José”, em Liwaina e a “Associação de São José” em prol dos Sacerdotes falecidos, em Tournay.

Vale a pena, enfim lembrar que além dos patronos de São José indicados até aqui sobre organizações religiosas, categorias sociais e moribundos, no séc. XV o nosso santo foi invocado, por determinação do Concílio de Constança, “contra o flagelo da peste”, juntamente com São Roque e, pelos Franciscanos, “contra o flagelo da usura” e como “Padroeiro das Casas de Penhores”. Memória viva deste último fato é o nome que elas recebem no sul da Itália, onde são chamadas “Casas de São José”.

No Brasil, o Santo foi escolhido como patrono de diversas localidades, regiões e províncias, sobretudo a partir do século XVIII. Entre elas lembro apenas algumas a título de ilustração: São José de Guaporé, na Província de Mato Grosso desde 1752, São José do Brejo na Paraíba, São José da Terra Firme na Província de Santa Catarina em 1750, São José do Rio Negro em 1755, hoje cidade de Manaus. Na Província do Rio Grande do Sul, desde 1762 temos São José da Barra. No Paraná encontramos a cidade de São José dos Pinhais, em São Paulo São José dos Campos, em Goiás São José de Tocantins. No Ceará, a cidade de Crato é consagrada a São José, e no Pará comarca de São José de Cerzedelo. Em suma, o nome de São José se espalhou e sua proteção foi escolhida em todo o Brasil, fazendo com que hoje haja em nosso país cerca de 90 municípios oficialmente catalogados com o seu nome, o mais difundido entre os mais de quatro mil municípios brasileiros.

São José foi proclamado patrono especial do Reino da Boêmia em 1665 por Ferdinando III. Em 1675 foi escolhido como patrono dos domínios austríacos e no seguinte dos territórios germânicos. O Ducado da Baviera foi consagrado a ele em 1664. Na Alemanha, é patrono de Osnabruck e de Trier.

Com São Francisco Xavier, tornou-se patrono da China. Em 1679, foi declarado patrono da Espanha e logo depois substituído por São Tiago. Ainda nesse país, é patrono das cidades de Segorbe e de Valor. Na Polônia, é patrono da cidade da Cracóvia desde 1715. Em El Salvador, da cidade de Quezaltepeque. É patrono da República do Peru desde 1828, reconfirmado em 1957 pelo Papa Pio XII.

Há também um grande número de dioceses dedicadas a São José. Lembro de passagem a diocese de Orvieto e a diocese de Noto, na Itália, da qual é co-patrono. Na França, é patrono da diocese de Paris. Na Canadá da Província eclesiástica de Quebec desde 1859, da diocese de Ottawa desde 1848, assim como de outras no mesmo país. Na China, é patrono das dioceses de Wuchang, Changsha e Hankow, e no Vietnã da diocese da Hanói. Na Bélgica, da diocese de Liège desde 1676. Na Polônia, da diocese de Wladislávia. Em Portugal, da diocese de Beja desde 1967. Na Grécia, da diocese de Chio. Na Inglaterra, de Westminster desde 1898 e de Liverpool. Nos Estados Unidos, São José é patrono da diocese de Saint Joseph em Kansas City, das dioceses da Província do Oregon e da arquidiocese de Hartford em Connecticut, da diocese de San José na Califórnia e da arquidiocese de Anchorage no Alasca. Foi eleito patrono da diocese de Tamatave em Madagáscar e co-patrono da diocese de Iringa, na Tanzânia.

São José é patrono de inúmeras escolas e colégios que trazem seu nome. No Líbano, na cidade de Beirute, existe a Universidade de São José. Ele é patrono da Associação Cristã dos Trabalhadores Italianos desde 1945 e da Tipografia Poliglota Vaticana. É patrono de inúmeras obras de assistência social, de seminários etc.

Na América Latina, é patrono da diocese de San José de Costa Rica desde 1850; da diocese de Mayo no Uruguai; da diocese de Caacupé no Paraguai; das dioceses de Temuco e Anfofagasta no Chile; das dioceses de Palmira, Duitama, Bucaramanga e Cúcuta na Colômbia; da diocese de Georgetown nas Guianas e da diocese de Maracaí na Venezuela. Na Argentina, é patrono da diocese de Santa Fé desde 1899 e de Reconquista e co-patrono de diversas outras. No México, é patrono da diocese de Tapachula, Autlán e Chihuahua, e co-patrono das dioceses de Texco, Toluca e Veracruz.

No Brasil, é o patrono principal das arquidioceses de Fortaleza e Mariana, das dioceses de Campo Mourão, Garanhuns, Itabuna, Macapá, Pesqueira, Rio Preto e São José dos Campos. É padroeiro secundário da diocese de Oliveira e titular das igrejas metropolitanas de Fortaleza e Campo Grande e das catedrais de Araçuaí, Montes Claros e Rio Preto.

São José é também o Patrono de diversas cidades e nações dentre as quais lembramos que a “Nova Espanha” (México e Ilhas Filipinas) desde o primeiro Sínodo de 1555 escolheu a São José como padroeiro. Na República Mexicana os lugares que têm o nome do santo são 281. Os Agostinianos, chegados à Filipinas em 1565, deram o nome de São José a várias cidades (hoje, 20 mais ou menos). Os Jesuítas dedicaram-lhe o primeiro Seminário Apostólico, em 1602.

Na Itália se consagraram a São José: Nápoles (no ano de 1602), Frascati (1605), Palermo (1612).

Em 1624 foi-lhe consagrado o Canadá.

Fernando III, em 1655, fez proclamar São José especial padroeiro do reino da Boêmia (Tcheco-Eslováquia; e o filho dele, Leopoldo I, conseguiu de Clemente X, em 1675, que fosse declarado também padroeiro da Áustria, que então compreendia Trieste, Gorízia, toda a região do Tirolo, Bolzano e Trento.

Em 1678 Inocente XI oficializou a escolha de São José como especial padroeiro das missões na China.

Carlos II obteve em 1679, do mesmo Papa, que o Santo fosse proclamado patrono da Espanha, mas tal patronato foi logo impugnado em favor de São Tiago: ele permaneceu, porém, sobre os outros domínios do Rei da Espanha, ou seja, sobre a Bélgica e as nações americanas que então lhes pertenciam à coroa espanhola.

Com Breve Apostólico de 19/03/1957, Pio XIII declarou São José Padroeiro do Peru, já em 1828 o congresso republicano havia posto a nova república sob o seu patrocínio, mas faltava-lhe o decreto oficial da Santa Sé.

A difusão do nome do esposo de Maria no mundo é facilmente controlável num índex geográfico. Limitando-nos propositalmente, à Itália, os topônimos em sua honra são 28. Número exíguo, se comparado com o de países de mais recente formação, passados ao Cristianismo depois que o culto do Santo já era em pleno desenvolvimento, mas número significativo, se considerarmos que ele ocupa o 17º lugar na escala dos topônimos de Santos onde, excluídos Nossa Senhora e São Pedro , o primeiro lugar pertence a São Martinho (de Tours, na França) com 160 topônimos.

CENTROS DE ESTUDOS E DE PUBLICAÇÕES JOSEFINAS (Curso de Josefologia – Parte III – Capítulo 51)

Existe no mundo um amplo movimento de interesse religioso que tem a finalidade de aprofundar a teologia de São José, conhecida pelo termo técnico de josefologia. Aliás, o interesse pela teologia do Santo e por sua divulgação começou a sistematizar-se no século passado através de pequenos centros como o de Modena, na Itália, que já em 1863 publicava uma revista denominada o Devoto de São José. Mas a primeira revista de pesquisa sobre São José surgiu em 1947 em Valladolid, na Espanha, com o nome de Estudos Josefinos, por iniciativa do Pe. José Antônio Carrasco, dos Carmelitas descalços. Dessa iniciativa tão boa surgiria em 1953 a “Sociedad Ibero-Americana de Josefologia”, compreendendo a Espanha e Portugal e os países americanos de língua espanhola e portuguesa, com sede em Valladolid. A Iniciativa do Pe. Carrasco foi tão válida que outras semelhantes foram tomadas em outros países. Assim, em abril de 1952 foi fundado junto ao oratório de São José em Montreal, no Canadá, o “Centro de Pesquisa e Documentação”, que no ano seguinte começou a publicar os Cahiers de Joséphologie. Como fruto de tudo isso, em maio de 1962 o Pe. Roland Gauthier, grande estudioso de São José, fundou a Société Nord-Américaine de Joséphologie.

Outra iniciativa importante na promoção da teologia e do culto ao Santo Patriarca surgiu na Itália com o nome de Movimento Giuseppino, por iniciativa do Pe. Angelo Rainero. Tornou-se desde 1981, o organismo oficial da Congregação dos Oblatos de São José, fundada pelo Bem-aventurado José Marello. Hoje possui uma publicação mensal com a revista Joseph, com sede em Asti, onde sob a direção de um dos maiores conhecedores da teologia Josefina, Pe. Tarcisio Stramare, funciona o “Meeting Point Redemptoris Custos”, um centro de formação Josefina para sacerdotes, religiosos e leigos.

Ainda na Europa, surgiu em 1969 o “Centro de Estudo sobre São José da Polônia”, com sede em Kalish, por iniciativa de João Zareba, bispo de Wladislávia.

Na América Latina os missionários de São José no México, fundados por J.M. Vilaseca, fundaram o “Centro de Estudos sobre São José do México” em 1959, com sua sede na cidade do México que em 1983 passou a ser chamado “Centro de Documentação e de estudos sobre São José do México”. Ao mesmo tempo edita a revista “El Propagador de la Devoción a Senõr San José.

Existe a “Sociedade Centro Americana de Investigação e divulgação de São José”, fundada em El Salvador no ano de 1985 com o periódico “El Divulgador Josefino”.

Além destes Centros de Estudos Josefinos que procuram estudar, divulgar São José, existem mais de 8.000 volumes sobre São José publicados e coletados segundo o livro “Ensaios de bibliografias sobre São José” editado pelo Oratório São José de Montréal em 1968 de autoria de Aimé Trottier. Soma-se a estes as milhares revistas e outras publicações, tais como: Vita Geuseppina, Ite ad Joseph, Joseph, La Santa Crociata, Cahiers de Josephologie, Estudos Josefinos, Vida Josefina, Sant Joseph Blatt, St Joseph Missionary Advocate, Annales de Saint-Joseph et de la Sainte Famile…

Por fim, já foram realizados vários Congressos e Semanas Josefinas e periodicamente são organizadas jornadas e semanas de estudos Josefinos em várias partes do mundo tais como Roma, Madri, Salamanca, Kalisz, Montréal, Cidade do México, etc.

Além do mais, um número expressivo de teólogos e estudiosos sobre São José de várias partes do mundo reúnem-se há cada quatro anos para, através de conferências, partilhar as idéias e checar os resultados na teologia Josefina. Esta iniciativa deu vida aos “Simpósios Internacionais sobre São José”.

O Primeiro Simpósio aconteceu em Roma em 1970 por ocasião do Centenário da Proclamação de São José como Patrono da Igreja Universal (1870 – 1970).

Promovido pela Société Nord Américaine de Joséphologia, pela Sociedad Ibero-Americana de Josefologia e pelos Centros de estudos de São José da Itália, México e Bélgica. Este Simpósio contou com a presença de 43 Superiores Gerais de Congregações Religiosas sob a proteção de São José, assim como cardeais, bispos, provinciais e leigos.

Nele, as atenções se voltaram para o estudo, análise e pesquisas sobre São José nos primeiros 15 séculos da Igreja, buscando assim a origem e os princípios fundamentais da teologia e do culto de São José. A internacionalidade do Simpósio, assim como a variada presença dos representantes religiosos, diocesanos e leigos não deixou dúvidas de que o interesse por São José é universal. O clima vivenciado indicou o desejo da Igreja e de seus representantes de estudar o Patrono da Igreja de modo mais aprofundado.

O Simpósio durou uma semana com conferências e discussões de temas variados dentre os quais menciono alguns: São José na Sagrada Escritura visto pelos vaticínios messiânicos, A historiedade dos dois primeiros capítulos de Mateus, A interpretação do termo ” justo”, A anunciação de José, seus sonhos , A figura de São José nas versões latinas dos apócrifos, Origens da Iconografia Josefina, formulação de uma teologia Josefina atual etc.

Todos os estudos apresentados neste Simpósio foram publicados em língua espanhola pelo “Centro Español de Investigaciones Josefinas”de Valladolid, pelo “Centre de Recherche et de documentacion ” de Montréal e pelo “Centro Studi San Giuseppe” de Roma, através de um volume entitulado “São José nos primeiros quinze séculos da Igreja”.

O Segundo Simpósio Internacional sobre São José aconteceu em Toledo, Espanha no ano de 1976. Desta vez além dos organizadores do 1º Simpósio, concorreram também o “Centro de Estudos Josefinos” do México e o “Studiun Jozefologii Kaliszu” da Polônia. A exemplo do anterior, também neste participaram estudiosos de vários países. O tema aprofundado foi “São José no renascimento (1450- 1600).”Os estudos apresentados giraram em torno do desenvolvimento da devoção Josefina entre os anos 1450-1600, detendo-se particularmente nas fontes bíblicas e litúrgicas, assim como no exame do pensamento dos pregadores, escritores e dos artistas do Renascimento.

O Terceiro Simpósio Internacional sobre São José foi realizado em Montréal, Canadá no ano de 1980 e teve a mesma concorrida participação dos estudiosos. Além dos Organizadores do 2º Simpósio, participou e dirigiu o evento o “Movimento Josefino de Roma “dos Oblatos de São José – Josefinos de Asti. O tema desenvolvido foi “São José no século XVII”. Os temas apresentados, cerca de 50 conferências, foram de caráter bíblico , doutrinal, histórico, litúrgico, espiritual e literário.

O Quarto Simpósio Internacional sobre São José realizou-se em 1985 em Kalish, Polônia, onde encontra-se a sede do “Studium Josephologie”. O tema foi “São José no Seiscentos”. Entre os dias 23-28 de setembro foram apresentados 44 temas sob a responsabilidade dos cinco Centros Organizadores. Os participantes eram provenientes de 13 nações: Alemanha, Bélgica, Brasil, Canadá, Espanha, Estados Unidos, El Salvador, França, Guatemala, Itália, México, Polônia e Zaire. Os assuntos tratados foram desde aqueles Bíblicos, até à teologia Espiritual litúrgica, homilética, devoções, literatura, confrarias, Congregações Religiosas, Arte, poesia etc. Além dos intensos estudos, durante a semana aconteceram celebrações nas paróquias da cidade com pregações dos estudiosos. O encerramento do Simpósio no domingo 30 de setembro, reuniu cerca de 30 mil fiéis na grande praça da cidade com a celebração presidida pelo Cardeal de Cracóvia Francisco Macharski, participando 8 bispos e um grande número de sacerdotes.

O Quinto Simpósio Internacional sobre São José foi celebrado entre os dias 17 – 24 de setembro de 1989 na cidade do México e o tema desenvolvido foi “São José no século XVIII. Os organismos propulsores deste Simpósio foram os mesmos já presentes nos anteriores mais a “Sociedade Centro – Americana de Investigação e divulgação de São José de El Salvador”. A inauguração o evento deu-se na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe com uma solene concelebração presidida pelo Arcebispo de Monterrey, Dom Adolfo Suárez Rivera.

Durante toda a semana foram apresentadas 50 conferências abrangendo diversos temas tais como: bíblico, teológico, histórico, literário, artístico e devocionais relacionados com São José no século XVIII.

O encerramento do Simpósio foi na Catedral Metropolitana do México, onde o Arcebispo primaz do México, Cardeal Ernesto Corripio Ahumada, presidiu a concelebração com a presença de vários bispos e inúmeros sacerdotes, para um grande número de fiéis que superlotou a catedral. Durante a Santa Missa foi renovada a Consagração da Diocese do México a São José.

O Sexto Simpósio Internacional sobre São José foi realizado em Roma nos dias 12 – 19 de setembro de 1993 com o tema ” São José no século XIX” tendo como promotores os Centros de estudos já mencionados mais a “Pia União do Trânsito de São José “da Itália, num total de 08 Centros Promotores. Durante a semana foram apresentados 48 temas abordando assuntos bíblicos, teológicos, artísticos, históricos, devocionais, literários, etc.

A abertura do Simpósio deu-se no Santuário Romano de São José Al Trionfale, com a celebração eucarística presidida pelo Cardeal Ângelo Sodano, Secretário de Estado e com a participação de alguns bispos e de aproximadamente 50 sacerdotes. Pela ocasião, o Papa João Paulo II enviou uma carta aos participantes salientando São José como modelo de homem de fé, de trabalho e de esposo. Nesta, o Papa augurou que os trabalhos do Simpósio contribuíssem para colocar sempre mais em luz a atualidade de São José para o mundo, de modo a relevar sobretudo aquela sua típica sobrenatural ” contemplação” silenciosa e operosa.

Todos os temas e estudos de cada Simpósio foram publicados em grossos volumes sob a direção das revistas, Estudos Josefinos e Cahiers de Joséphologie.

O sétimo Simpósio Internacional foi realizado na Ilha Republicana de Malta no Mar Mediterrâneo e tratou o tema “São José no século XX”, no ano de 1997.

O oitavo Simpósio Internacional foi celebrado em El Salvador, na América Central no ano de 2001 e abordou temas teológicos e pastorais deduzidos da Exortação Apostólica “Redemptoris Custos” de João Paulo II.

Como percebemos, os argumentos que abraçam variados setores que tocam São José nos diversos aspectos, dão uma idéia da vastidão dos estudos e pesquisas já realizados ou ainda a serem realizados. Esta diversificada atenção para com a presença de São José ao longo dos séculos resulta numa preciosa coleção de material indispensável para uma teologia Josefina que pretende se apresentar como científica ao homem de hoje que é exigente e pouco disposto a aceitar aquilo que não é devidamente documentado.

A seriedade de todos estes estudos é garantida pela competência destes estudiosos que afeiçoados por São José, se interessaram diretamente de estudá-lo e de iluminá-lo com os raios benéficos da reflexão teológica, devocional, artística, espiritual, litúrgica, literária e poética que brilharam ao longo dos séculos.

INTRODUÇÃO (Curso de Josefologia – Parte IV – Capítulo 52)

Em 1989 comemorou-se o centenário da publicação da Encíclica “Quamquam Pluries” do papa Leão XIII e o papa João Paulo II aproveitou-se desta ocasião para propor para toda a Igreja, à luz do Evangelho, dos Padres da Igreja e dos papas seus predecessores, a figura e a missão de São José, o Guarda do Redentor. Ele que na plenitude dos tempos participou como nenhum outro, com exceção de Maria, do mistério da encarnação e participou juntamente da fé de sua esposa, e desta dignidade ele se aproximou como nenhum outro servindo diretamente a pessoa e a missão de Jesus mediante o exercício de sua “autêntica” paternidade.

José se colocou com obediência para servir com amor e por amor o Messias que nasceu em sua casa e assim cooperou profundamente com grande mistério de nossa redenção. Com isso São José tornou-se exemplo para toda a Igreja manifestando o modo maduro de servir e de participar da economia da salvação.

A Exortação Apostólica “Redemptoris Custos” tornou-se desta forma uma fonte de riqueza doutrinal e espiritual para todos aqueles que desejam o aprofundamento da teologia Josefina, por isso, proporcionaremos na primeira parte desta abordagem o conteúdo deste precioso documento Josefino e na segunda parte algumas reflexões que têm a intenção de enriquecer o conteúdo do mesmo.

É importante que seja lido com atenção cada capítulo do documento e depois relacionado com as reflexões que lhe dizem respeito.

Leão XIII tornou-se papa aos 20 de fevereiro de 1878 herdando de Pio IX um difícil pontificado assinalado dos erros postulados com o racionalismo, o naturalismo e o ateísmo, os quais tinham gerado o socialismo e o comunismo. Neste contexto o papa sentia o poder das trevas causando danos para o cristianismo, sentia a luta contra o papado e as tentativas de desestabilizar os fundamentos da religião, conforme vem reportado na Encíclica “Quamquam Pluries”.

Em seu discurso aos Cardeais em março de 1889 descrevia o quadro histórico daquele tempo com estas palavras: “As condições gerais da Europa e do mundo são bastante incertas e amedrontam e se repercutem dolorasamente na Santa Sé… nasce nos católicos do mundo inteiro apreensões, ansiedades e temores pela sorte de seu chefe… O exercício do ministério episcopal dos novos Pastores que nomeamos sofre adiamentos e impedimentos pelo Exaquatur… Lembramos a exclusão da Igreja do ensinamento público, as disposições do novo Código Penal contra o clero, o confisco de grande parte dos bens da Igreja, as ações causadas e outras que ameaçam prejudicar as pias obras…”

Face a esta situação difícil e de perseguição da Igreja, o papa tomou a iniciativa de evidenciar São José para o povo católico incentivando desta forma a sua devoção popular, algo já iniciado pelo papa Pio IX, o qual tinha declarado São José Padroeiro da Igreja Universal. Para o papa Leão XIII a Igreja esperava muitíssimo da especial proteção de São José, sendo ele o Padroeiro Universal da Igreja e sobretudo porque esposo de Maria e Pai putativo de Jesus Cristo.

São José é partícipe da altíssima da Mãe de Deus justamente porque entre ele e ela existiu um verdadeiro vínculo matrimonial e o matrimônio constitui desta forma “o meio mais nobre de sociedade e de amizade que traz consigo a comunhão dos bens”..

Para o papa a missão de São José não termina com sua vida terrena porque a sua autoridade de pai se estende por vontade de Deus para toda a Igreja. A Sagrada Família contém o início da Igreja nascente e nesta São José tem a autoridade de pai. Desta forma, o matrimônio de José com Maria e a sua paternidade em relação a Jesus não são portanto apenas títulos de grandeza, de graça, de santidade e de glória, mas são também a razão para que “defenda com seu patrocínio a Igreja de Deus”.

Por isso, o papa exorta aos cristãos de qualquer que seja a condição ou estado a confiar-se e abandonar-se confiantemente na amorosa proteção de São José, sejam os pais de família, sejam os casados, os consagrados, os ricos, os pobres, os operários…

Sendo que o objetivo da Encíclica de Leão XIII foi aquela de solicitar a ajuda divina por meio da oração, associando à intercessão de Maria também a de São José, o papa uniu à sua Encíclica uma oração especial a São José, decretando de rezá-la no final da reza do Rosário durante todo o mês de outubro. Eis a oração:

A vós, São José, recorremos em nossa tribulação e

[depois de ter implorado o auxílio de vossa santíssima Esposa,] cheios de confiança solicitamos [também] o vosso proteção.

Por esse laço sagrado de caridade

que vos uniu à Virgem Imaculada Mãe de Deus,

e pelo amor paternal que tivestes ao Menino Jesus,

ardentemente vos suplicamos que lanceis um olhar benigno

sobre a herança que Jesus Cristo conquistou com o seu sangue,

e nos socorrais em nossas necessidades

com o vosso auxílio e poder.

Protegei, guarda providente da divina Família,

o povo eleito de Jesus Cristo.

Afastai para longe de nós, pai amantíssimo,

a peste do erro e do vício.

Assisti-nos do alto do céu, nosso fortíssimo sustentáculo,

na luta contra o poder das trevas,

e assim como outrora salvastes da morte

a vida ameaçada do Menino Jesus,

assim também defendei agora a Santa Igreja de Deus

das ciladas de seus inimigos e de toda a adversidade.

Amparai a cada um de nós com o vosso constante patrocínio,

a fim de que, a vosso exemplo

e sustentados com o vosso auxílio,

possamos viver virtuosamente, morrer piedosamente

e obter no céu a eterna bem-aventurança.

Amém.

Esta oração continua há mais de um século ressonando muitas vezes nas casas de muitos cristãos e nas Igrejas, mantendo viva a devoção a São José. Este costume ainda que pouco lembrado entre os cristãos, tem respaldo no magistério da Igreja que não apenas acha “muito útil que o povo cristão se acostume a rezar com devoção e confiança, juntamente com a Virgem Mãe de Deus, também ao seu castíssimo esposo, São José”, mas exprime também nos fatos, os quais não foram meras coincidências, que o Patrocínio de São José foi proclamado aos 8 de dezembro de 1870, Sagrado dia da Imaculada Conceição de sua Esposa, e que a Encíclica “Quamquam Pluries” fosse lembrada pelo seu centenário com a Exortação Apostólica “Redemptoris Custos” também na data de 15 de agosto, Festa da Assunção e por fim que a colocação do nome de São José no Cânon da missa, teve o seu início com o papa João XXIII a partir do dia 8 de dezembro de 1962, ou seja, na Festa da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria.

FIGURA INSÍGNIE (Curso de Josefologia – Parte IV – Capítulo 53)

“Chamado a ser o Guarda do Redentor, José fez como lhe tinha ordenado o Anjo do Senhor e tomou consigo a sua esposa” (Mt 1,24). Temos aqui o compêndio daquilo que é São José e do quanto ele fez, ou seja, a descrição da figura e missão do Guarda de Jesus. Ele é o Guarda do Redentor, por isso São José é descrito pelo papa na linha da Redenção. De fato o papa explicita na sua Exortação que o seu objetivo é oferecer algumas reflexões sobre aquele ao qual Deus confiou a guarda dos seus tesouros mais preciosos, ou seja, Jesus e Maria. Com isso a Exortação não se afasta do cristocentrismo.

Esta colocação de São José numa linha cristocêntrica indica que o Santo Patriarca passou vinte séculos presente na vida da Igreja não obstante a literatura apócrifa existente a seu respeito e a colocação às vezes nem sempre correta na pregação de sua pessoa e missão, a qual fora nutrida de uma escassa teologia, não reservando a ele o justo lugar no ensinamento da Cristologia, da Mariologia e da Espiritualidade.

É preciso aceitar que a veneração a São José tem suas origens no próprio Evangelho e foi inspirando-se justamente nos Evangelhos que os Padres da Igreja “desde os primeiros séculos, puseram em relevo que São José, cuidou com amor de Maria e se dedicou com empenho jubiloso à educação de Jesus Cristo”,

As reflexões que o documento papal nos apresenta se fundamentam sobretudo sobre os episódios evangélicos, sobriamente ilustrados pelos Padres da Igreja como Santo Irineu, São João Crisóstomo, São Bernardo, Santo Agostinho… Podemos dizer que a figura de São José não passou desapercebida diante da inteligência penetrante de São Tomás de Aquino e nem diante do profundo sentimento de Santa Teresa D’Ávila e nem mesmo ao “sensus fidei” do povo de Deus que o reconheceu como padroeiro da Igreja Universal.

Aquilo que faz de São José uma figura insígnie é ter “participado como nenhuma outra pessoa humana, com exceção de Maria, a Mãe do Verbo Encarnado” do mistério da encarnação. Por isso na medida em que percebemos o significado do mistério da encarnação, compreendemos também a importância da figura de São José, o qual participou juntamente com Maria, envolvido na realidade do mesmo evento e foi depositário do mesmo amor, pelo qual a potência do eterno Pai “nos predestinou a ser seus filhos adotivos por obra de Jesus Cristo”(Ef 1,5).

Na abertura da Encíclica, São José recebe a qualificação de “Guarda”, qualificação esta que à primeira vista parece conceder-lhe apenas uma função extrínseca, também se não marginal, mas no âmbito do desígnio de Deus para a redenção do homem, fica evidenciada a sua participação e o seu envolvimento de forma tão grande que “nenhuma outra pessoa, com exceção de Maria”, pode dizer de possuir, pois ele através do matrimônio com Maria se aproximou como nenhum outro daquela altíssima dignidade, pela qual a Mãe de Deus supera todas as criaturas. Além do mais a sua relação como pai de Jesus “o coloca mais próximo possível de Cristo, termo de toda eleição e predestinação”.

O exercício de seu ministério como “Guarda” de Jesus está portanto intimamente ligado ao mistério da encarnação, porque foi exercitado na instituição do matrimônio e no exercício da paternidade. Este aspecto salienta que São José não é estranho ao mistério de encarnação, aliás, este mistério o envolve e assim indica a absoluta soberania da ação divina à qual homem é chamado a colaborar sem nenhum protagonismo a não ser apenas aquele de Jesus, o Redentor, mas também sem nenhuma exclusão da colaboração humana.

São José no mistério da encarnação de Jesus foi um colaborador e Paulo VI lembrando a unidade da ação divina com aquela humana na economia da redenção, salienta que “a primeira, aquela divina é totalmente suficiente, mas a segunda, aquela humana, a nossa, se bem que em nada é capaz, não é jamais dispensada”. São José entrou portanto na economia da redenção no momento culminante respondendo a uma específica vocação, chamado a ser o Guarda do Redentor.

A VOCAÇÃO DE SÃO JOSÉ (Curso de Josefologia – Parte IV – Capítulo 54)

Algumas edições do Evangelho põem como título “a vocação de José” (Mt 1,18-25) porque trata justamente deste assunto, e não de uma triste história de uma suspeita de infidelidade conjugal, também se tudo teve um fim feliz. Na verdade, a encarnação de Jesus exige a sua inserção na genealogia humana, algo que estava dentro das promessas de Deus feita a Davi por meio de Natã (2Sm 7) e aqui entra a presença de José.

No relato da vocação de José, no qual se espelha a esperança de Israel, Mateus por duas vezes lembra a transcendência divina e expressa seja na descrição do fato que Maria “se encontra grávida por obra do Espírito Santo” (v 18), seja na confirmação da autoridade do Anjo “Aquele que nela é gerado é obra do Espírito Santo” (v 21) e desta verdade o evangelista tem uma consideração quando na descrição da genealogia ao chegar em José interrompe a série dos “gerou” para afirmar que José é “esposo de Maria do qual nasceu Jesus, o Cristo” (v 16).

Mateus com isso não quer provar com a genealogia a descendência de Jesus, porque então diria: “José gerou Jesus” e se não renuncia a genealogia, mas insere a variante “esposo de Maria da qual nasceu Jesus”, é porque acha importante que a genealogia, também se modificada, é idônea para fazer reconhecer Jesus como Messias. É justamente a genealogia assim modificada que faz com que compreendamos a importância de José, cuja presença é tida como indispensável porque é dele denominado expressamente pelo Anjo como “Filho de Davi” (v 20) que é defendida a messianidade de Jesus.

No momento culminante da história sagrada, José é chamado expressamente de tomar consigo a sua esposa e a assumir a paternidade daquele que sua esposa tinha concebido por obra do Espírito Santo. O Anjo dirige-se a José como ao esposo de Maria àquele que depois devia impor o nome ao filho que nascerá da Virgem de Nazaré com ele esposada. Dirige-se a José confiando-lhe a tarefa de um pai em relação ao filho de Maria.

A José confuso diante da admirável maternidade de sua esposa o Anjo revela-lhe que não deve sentir-se estranho: “O mensageiro divino introduz José no mistério da maternidade de Maria” e assim, o filho daquela que juridicamente lhe pertence como esposa, lhe pertence de direito segundo a lei humana, como a genealogia comprova, mas lhe pertence também segundo a vontade divina, que o chama expressamente a condividir a paternidade com Aquele do qual “toma nome toda paternidade nos céus e na terra” (Ef 3,15).

Esta é a vocação de José e ninguém pode reivindicar uma honra tão grande.

O MATRIMÔNIO E VIRGINDADE (Curso de Josefologia – Parte IV – Capítulo 56)

O papa João Paulo II enfatiza a união de José com Maria dentro do mistério divino, José, diz o papa ” participa desta fase culminante da auto-revelação de Deus em Cristo e participa desde o início “;ele foi o primeiro a participar da fé da Mãe de Deus. Portanto, São José não está simplesmente ao lado de Maria como um mudo testemunho do mistério, mas participa deste juntamente com ela e participa de uma forma efetiva. Esta sua participação e união passam através do seu matrimônio.

José e Maria viveram verdadeiramente o próprio matrimônio como puro dom esponsal e por isso são dignos de representarem o mistério da igreja. Justamente por isso o papa Leão XIII afirma na Encíclica Quamquam Pluries que ” em José os cônjuges têm um perfeito exemplo de amor, de concórdia e de fidelidade conjugal; e os virgens um tipo e um defensor da integridade virginal “.

A Igreja apostólica honra São José com o título de “esposo de Maria”; e os evangelhos afirmam corretamente que José é esposo de Maria e Maria é esposa de José (Mt 1,18-25). Portanto, se é importante professar a concepção virginal de Jesus, não menos importante é defender o matrimônio de Maria com José, porque juridicamente é deste que depende a paternidade de José. Daqui se pode compreender por que as gerações presentes na genealogia foram orientadas segundo a genealogia de José.

A IMAGEM DO ESPOSO E DA ESPOSA (Curso de Josefologia – Parte IV – Capítulo 57)

No momento culminante da história da salvação, quando Deus revela o seu amor para humanidade mediante o dom do Verbo, é justamente o matrimônio de Maria e José que realiza em plena liberdade, o dom esponsal de si, ao acolherem e exprimirem tal amor. Neste sentido não resta dúvida que a atividade do Espírito Santo encontrou em José e Maria os instrumentos mais aptos deste amor, pois conforme afirma Boaventura, ” tudo aquilo que diz respeito a este matrimônio acontece por íntima disposição do Espírito Santo “.

Se em Maria o fruto da concepção é definido expressamente como obra do Espírito Santo (Mt 1,20) e, consequentemente tudo aquilo que a ele se referia, ou seja, o matrimônio, este também recebeu uma especial influencia.

A UNIÃO DOS CORAÇÕES (Curso de Josefologia – Parte IV – Capítulo 58)

“Mediante o sacrifício total de si próprio, José exprime o seu amor generoso para com a Mãe de Deus, fazendo-lhe ‘dom esponsal de si’. Muito embora decidido a afastar-se, para não ser obstáculo ao plano de Deus que nela estava para ser realizado, por ordem expressa do anjo ele manteve-a consigo e respeitou a sua condição de pertencer exclusivamente a Deus “

O virtuoso comportamento de José para com Maria nem sempre foi facilmente compreendido pois este matrimônio provocou desde tempos passados “delírios” dos escritores apócrifos o que levou Santo Agostinho a debates contra os Pelagianos e continua todavia a suscitar ainda algumas convulsões em alguns teólogos, quase que para dizer que se trata de um matrimônio “frágil”, passível de uma anulação como se faz numa concessão dada pelo papa a um matrimônio “rato” e não “consumato”.

Mas existe a afirmação explícita de Mateus e de Lucas a respeito da realidade do vínculo matrimonial que uniu Maria e José e isto é testemunhado pelo quanto a igreja apostólica ensina a respeito sobre este matrimônio, dando constantemente a José com preferência sobre outros títulos, aquele de “esposo da Bem-aventurada Virgem Maria”. Leão XIII, depois de ter afirmado na Encíclica Quamquam Pluries” que ” entre a bem-aventurada Virgem Maria e São José houve um estreito vínculo conjugal”, deixa claro que disto decorre a sua excelsa grandeza. Sobre esta realidade tanto Santo Tomás como Santo Agostinho enfatizaram em seus ensinamentos e justamente por isso a Encíclica papal faz constante de referências a estes ensinamentos. Da mesma forma esta faz igualmente referência aos ensinamentos do papa Paulo VI o qual afirma:” nesta grandiosa tarefa de renovação de todas as coisas em Cristo, o matrimônio, também ele renovado e purificado, torna-se uma realidade nova, o sacramento da nova aliança. E eis que no limiar do Novo Testamento, como já sucedera no princípio do antigo, há um casal. Mas, enquanto o casal formado por Adão e Eva tinha sido a fonte do mal que inundou o mundo, o casal formado por José e Maria constitui o vértice, do qual se expande por toda a terra a santidade. O Salvador deu início à obra da salvação com esta união virginal e santa, na qual se manifesta a sua vontade onipotente de purificar e de santificar a família, que é santuário do amor humano e berço da vida “.

Porque a essência do matrimônio consiste na “indivisível união dos ânimos”, a validade do matrimônio de Maria e José é consequentemente garantida. Foi Santo Agostinho que defendeu contra o pelagiano Juliano, o qual negava a existência do matrimônio de Maria, porque este não fora consumado, que neste existiu a “união dos ânimos”. Desta forma ele afirma que José é esposo de Maria na continência , não pela união carnal, mas pelo afeto, não pela união dos corpos, mas pela comunhão dos ânimos. “Assim com Maria era castamente cônjuge também José era castamente marido “.O vínculo matrimonial não é rompido com a decisão consensual de abster-se perpetuamente do uso do matrimônio. Maria é chamada de fato esposa de José desde o princípio do consentimento matrimonial; por isso Santo Agostinho afirma que não se deve negar que sejam marido e mulher aqueles que não se unem carnalmente, mas se unem com os corações.

A PATERNIDADE MESSIÂNICA (Curso de Josefologia – Parte IV – Capítulo 59)

A davidicidade tornou-se a condição para o reconhecimento do Messias. Trata-se de uma tradição que reporta à promessa feita por Deus a Davi, através do profeta Natã ” farei subsistir depois de ti a tua descendência…Tornarei estável o teu Reino” (2Sam 7,11-16). Mas como pode Jesus ser o filho de Davi, se Maria “encontrou-se grávida por obra do Espírito Santo?” (Mt 1,18) A encarnação do filho de Deus supera infinitamente em generosidade o limite de qualquer promessa, e consequentemente não pode ficar prendida aos laços da geração humana, por isso a corrente dos “gerou” se interrompe com José (V 16) e deixa lugar para a intervenção do Espírito Santo. As promessas, contudo, não podem ser anuladas, porque a sua realização constitui o sinal da “fidelidade” de Deus e da continuidade do seu plano salvífico.

As dúvidas de José diante da admirável maternidade de Maria refletem a dúvida dos crentes diante desta intervenção divina sob todos os aspectos; por isto o mensageiro angélico intervém para esclarecer-lhe a validade da promessa divina e para a iluminá-lo sobre a função que lhe compete. Não obstante a intervenção do Espírito Santo, o homem não é excluído da própria colaboração, assim, José deve cuidar de Maria e também deve dar o nome à criança. O anjo o chama oficialmente de “filho de Davi”(V 20), título que lhe compete por motivo de sua descendência, expressamente comprovada pela árvore genealógica, a qual Mateus apresenta para toda a comunidade na abertura solene do seu evangelho.

Porque José, é divinamente chamado para a tarefa de pai do Messias ele obedece ao comando do anjo e assim “fez como lhe tinha ordenado o anjo do Senhor e tomou consigo a sua esposa” (V 27).Desta forma, o filho de Maria é também filho de José em virtude do vínculo matrimonial que os unem. Graças a José, que transmite a descendência legal, Jesus, filho de Deus, torna também filho de Davi, e partícipe do título que lhe consente de ser reconhecido como Messias. De fato durante a sua vida pública, Jesus é o honrado, graças a José, com o título “filho de Davi”. Na origem desta “honra” a comunidade judeu-cristã reconhece justamente a paternidade “messiânica” de José, o último dos Patriarcas em ordem do tempo, mas evidentemente o maior de todos, o “esplendor dos Patriarcas “, como é invocado nas suas ladainhas.

José não foi, portanto, uma figura secundária do grande acontecimento do nascimento de Jesus, mas teve uma função verdadeiramente importante. Se era necessário o “fiat” de Maria para a encarnação do Verbo, o “fez” de José era da mesma forma indispensável para que Jesus fosse reconhecido como o “sim” de todas as promessas de Deus.

Como o direito de Maria à maternidade vem da livre eleição divina, assim o direito de José vem do próprio Espírito Santo. Para aqueles que quiserem separar José de Maria, Santo Agostinho responde colocando as palavras na boca do próprio José:” Por que me separam? Não é através de mim que as gerações ascendem e descendem?”. ” Se lhe dissessem: ” por que não gerastes por meio de tua carne “, ele responderia:” talvez ela deu à luz por obra da carne? “. Portanto, foi o Espírito Santo que operou e operou para todos dois. O Espírito Santo deu um filho, Jesus, para todos os dois.

UMA PATERNIDADE HUMANA E AUTÊNTICA (Curso de Josefologia – Parte IV – Capítulo 60)

A importância da descendência davídica de Jesus evidencia o quanto foram importantes e indispensáveis a presença e o consentimento de São José na ordem da encarnação.

As palavras de Maria a Jesus junto ao templo quando ele tinha 12 anos: “teu pai e eu te procurávamos” 2,48), não é uma frase convencional, mas indicam toda a realidade da encarnação que pertenceu mistério da família de Nazaré. Trata-se de considerar a união hipostática em todas as suas conseqüências “a humanidade assumida à unidade da Pessoa divina do Verbo-Filho, Jesus Cristo”. Juntamente com o assumir da humanidade, em Cristo é também assumido tudo aquilo que é o eu humano e, em particular, a família, como primeira dimensão de sua existência na terra. Neste contexto é também assumida a paternidade humana de José.

Evidentemente a paternidade de José para com Jesus existe em virtude do seu matrimônio com Maria. Visto que a instituição do matrimônio tem como efeito jurídico a legitimação dos filhos nascidos neste, não existe nenhuma dificuldade, sob este aspecto, em considerar Jesus como filho de José, enquanto ele nasceu de sua legítima esposa: José, de fato, é o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus (Mt 1,16). “José é pai de Jesus da mesma maneira como entendido esposo de Maria, sem a união da carne, mas por força da união conjugal: ou seja, muito mais unido do que se Jesus fosse adotado. Não por isto José não devia ser chamado pai de Jesus, porque não o havia gerado com a união sexual, do momento que um seria pai de um filho não gerado de sua mulher, mas adotado de fora ” (S. Agostinho ).

A paternidade legal de José não vai, portanto, comparada e confundida com aquela de adoção, tanto mais porque Jesus não só foi gerado “de sua mulher” (a mulher de José), circunstância em que se poderia verificar também no caso de uma relação adulterina, mas ” somente de sua mulher “, com exclusão absoluta de qualquer infidelidade (Mt 1,18).

Para Santo Tomás, a prole não é bem do que teve matrimônio somente enquanto é gerada por este, mas enquanto no matrimônio é acolhida e educada. Nem também o nascido de adultério, nem o filho adotivo educado no matrimônio são bens do matrimônio, porque o matrimônio não é destinado à educação deles, como ao invés foi destinado especialmente este matrimônio para acolher em si mesmo esta prole e para educá-la .

Desta forma torna-se evidente que o matrimônio de Maria e José foi decretado por Deus em ordem ao nascimento “honrado e conveniente” de Jesus; nascimento que na mente de Deus precede ao próprio matrimônio. Por causa da união hipostática, Jesus é bem do matrimônio ” não totalmente como são as outras crianças “, enquanto foi acolhido no matrimônio, mas não por meio dele; o assumir a humanidade exige, todavia, a educação do ser gerado, tarefa recíproca para a atividade do marido e da mulher enquanto são unidos pelo matrimônio . A atuação de São José como pai de Jesus fica esclarecida igualmente no pensamento de Santo Tomás para o qual “é claro que para a educação do homem é necessário não apenas o cuidado da mãe, da qual se nutre, mas muito mais do cuidado do pai, o qual deve instruí-lo, defendê-lo e aperfeiçoá-lo nos bens sejam interiores que exteriores “.

Porque ao pai compete o dever de educar o filho no que diz respeito às perfeições da vida humana, devemos concluir disto a importância de José na vida de Jesus, o qual ” crescia e se fortificava, cheio de sabedoria ” (Lc 2,40) e era-lhe submisso.

José, desde o início aceitou mediante ” a obediência da fé ” a sua paternidade humana em relação a Jesus, seguindo a luz do Espírito Santo e por isso certamente descobria sempre mais amplamente o dom inefável de sua paternidade. Disto podemos ainda concluir que o intervento do Espírito Santo na concepção de Jesus não excluiu a parte de José, esvaziando desta forma a sua paternidade. Devemos ao invés considerar que a sua paternidade, não é aparente, ou somente substituta, mas que ele possui plenamente a autenticidade da paternidade humana, da missão paterna na família.

O título de “pai”, que o próprio Espírito Santo atribui a São José, fundamenta esta verdade, mesmo porque hoje a engenharia genética tem demonstrado o quanto uma paternidade puramente biológica é inadequada para satisfazer todas as exigências necessárias às quais estão ligadas uma paternidade verdadeiramente ” humana “.

O EXERCÍCIO DA PATERNIDADE (Curso de Josefologia – Parte IV – Capítulo 61)

“São José foi chamado por Deus para servir diretamente a Pessoa e a missão de Jesus mediante o exercício de sua paternidade..”. e justamente dessa maneira coopera na plenitude dos tempos com o grande mistério da redenção, sendo verdadeiramente “ministro da salvação”. Na verdade conforme nos ensina a constituição “Dei Verbum”, Jesus, Verbo feito carne, foi enviado pelo Pai entre os homens para a nossa salvação e ele a cumpriu “sobretudo com a sua morte e ressurreição dentre os mortos e, com o envio do Espírito Santo”, mas também “com o próprio acontecimento de sua presença e com a manifestação de si próprio “.

O período da vida de Jesus que compreende a paixão, a morte, a ressurreição, a ascensão, a sua glorificação e enfim o envio do Espírito Santo, é sumamente salvífico, por isso os evangelistas dedicam grande atenção no contexto da vida pública de Jesus que vai desde o seu batismo até a sua ascensão ao céus. Contudo este período precioso da vida de Jesus não tira o valor dos anos precedentes que ele viveu e por isso não se pode deixar de levar em consideração também o período da sua infância; não se pode esquecer que o desígnio da redenção tem o seu fundamento no mistério da encarnação que não somente a supõe, mas também é a sua expressão concreta.

A humanidade de Cristo, ligada à divindade, foi justamente o instrumento que Deus assumiu para santificação dos homens. A salvação que passa através da humanidade de Jesus se realiza nos acontecimentos do cotidiano da vida familiar que Jesus viveu com os seus pais . Desta forma, as prescrições às quais Jesus se submeteu, como também as atividades humanas que ele condividiu, não devem ser consideradas simplesmente como um exercício da sua virtude de obediência e de sua humildade.

A inscrição anagráfica de Jesus por ocasião do recenseamento romano (Lc 2,1-5), manifesta de modo claro a sua pertença ao gênero humano, homem entre os homens, cidadão deste mundo, sujeito às leis e às instituições civis, mas também a sua comunhão com todo o gênero humano. Com a sua circuncisão ele entra a fazer parte do povo da aliança, mas realiza também a verdadeira aliança entre Deus e os homens. O nome de Jesus, o qual ele o recebeu de José, não é uma pia invocação da ajuda divina, mas a programação de que esta criança salvará o mundo dos seus pecados. A sua apresentação ao templo assinala definitivamente a pertença da humanidade a Deus e Jesus não deixará de proclamar a sua total pertença ao Pai, quando aos 12 anos permanecendo no templo afirmará: “devo ocupa-me das coisas do meu pai”.

Em todas estas observações da lei, seja civil que religiosa, nas quais Jesus é o autor principal, a figura que precede a observância é aquela de José, ao qual como pai compete a fiel execução do quanto Jesus não poderia automaticamente fazer.

José foi “o ordenador do nascimento do Senhor”, o “ministro de toda a economia”, o “minister salutis”. A igreja reconhece oficialmente que foi confiado ” aos cuidados primorosos de São José os inícios da nossa redenção ” e faz memória disto no sacrifício eucarístico, memorial perpétuo da redenção, venerando-o juntamente e com a gloriosa sempre virgem Maria, antes dos Apóstolos, dos Sumos Pontífices e dos Mártires.

O BANCO DO CARPINTEIRO (Curso de Josefologia – Parte IV – Capítulo 62)

O trabalho humano e, em particular, o trabalho manual, encontram no evangelho um destaque especial. Juntamente com a humanidade do Filho de Deus, o trabalho foi acolhido no mistério da encarnação, e também foi de modo particular redimido. “Graças à mesa de trabalho junto a qual exercia a sua profissão juntamente com Jesus”. Na verdade, “José aproximou o trabalho humano ao mistério da redenção”.

Os evangelhos salientam expressamente o fato que aquele, o qual sendo Deus tornando-se semelhante a nós em tudo, dedicou a maior parte dos anos de sua vida sobre a terra ao trabalho manual, junto a uma mesa de carpintaria”.

Uma teologia que se limitasse desconsiderar este aspecto da vida de Jesus, seria superficial. Através da encarnação, Jesus não se serviu da realidade terrena somente com o objetivo de manifestar-se, mas se uniu a esta para santificá-la com a sua humanidade. Devido ao fato de que o trabalho constitui uma fundamental dimensão da existência humana sobre a terra, conclui-se que Jesus escolheu não por acaso esta dimensão, ou seja, o trabalho, para santificar o seu estado social.

O plano da encarnação se encontra neste ponto com José, o qual foi querido por Deus para apresentar ao mundo o seu próprio filho feito homem. Além do título davídico indispensável para o reconhecimento do Messias, Jesus recebe de José, como qualquer outro filho recebia de seu pai, também aquela dimensão concreta que o caracteriza, ou seja: “o estado civil, a categoria social, a condição econômica, a experiência profissional, o ambiente familiar, e a educação humana “, como muito bem afirmou o papa Paulo VI.

Sendo considerado sensivelmente filho de José, Jesus pôde herdar o título real de “filho de Davi”, mas também assumiu aquele título profissional, ou seja, a qualificação de “filho de carpinteiro” (13,55). Jesus não se envergonhou de revestir a sua excelsa dignidade com a humilde condição de operário. Embora Jesus pudesse exigir títulos mais elevados, escolheu, ao invés o título mais comum para si, aquele mais compartilhado com a condição humana, ou seja, aquele de operário.

A Constituição dogmática Gaudium et spes afirma que o Onipotente artífice do universo verdadeiramente “trabalhou com mãos de homem”, santificando diretamente o trabalho humano. José foi perante a Providência divina o necessário instrumento de tal redenção, dada justamente na sua própria carpintaria, através de uma missão que ele não somente a exercitou ao lado de Jesus, mas inclusive acima de Jesus, o qual lhe era submisso (Lc 2,51).

Esta submissão, ou seja, a obediência de Jesus na casa de Nazaré, é entendida também como participação ao trabalho de José. Aquele que era chamado “filho do carpinteiro” tinha aprendido o trabalho do seu pai putativo. Se a família de Nazaré é na ordem da salvação e da santidade, o exemplo e o modelo para as famílias, é analogamente também o trabalho de Jesus ao lado de José carpinteiro.

Colocando o exemplo de São José aos trabalhadores, o papa Pio XII salientava justamente que ele foi o santo em cuja vida tinha penetrado profundamente o espírito do evangelho. Se este espírito de fato provém do coração do Homem-Deus em todos homens, “é certo que nenhum trabalhador foi tão perfeitamente e profundamente penetrado quanto o pai putativo de Jesus, que viveu com ele na mais estreita intimidade e comunhão de família e de trabalho”. Daqui veio o convite do mesmo papa: “se quereis estar perto de Cristo, “Ite ad Joseph”, “Ide a José”! Este humilde carpinteiro de Nazaré, pobre de meios, mas certamente rico das mais autênticas virtudes, foi escolhido entre todos, inclusive entre os mais sábios, para educar o próprio filho Deus.

Na família de Nazaré, onde o trabalho não era considerado simplesmente como meio de ganho ou fonte de riqueza, mas como “expressão cotidiana de amor”, Jesus crescia na escola de José, educado para a laboriosidade, virtude que favorece o crescimento humano, fazendo o homem tornar-se “em certo sentido mais homem “.

A CONTEMPLAÇÃO DA VERDADE (Curso de Josefologia – Parte IV – Capítulo 63)

Os evangelhos falam exclusivamente daquilo que José “fez”; todavia consentem de descobrir nas suas ações envolvidas de silêncio, um clima de profunda contemplação.

As circunstâncias que São José exercitou na sua vida o trabalho manual e se empenhou de mil maneiras para o sustento de sua família, poderia facilmente nos levar a considerá-lo, levando justamente em conta esta atividade exterior, como espiritualmente exercitante da vida ativa. A realidade contudo, não coincide com esta impressão e exige que nós consideremos, invés, São José como aquele que principalmente atendeu a contemplação da verdade. A prova disso é que José estava diariamente em contato com o mistério escondido nos séculos que habitou em sua casa.

É indubitável o alto grau de contemplação de São José, o qual, pelo motivo de sua eleição para ser o pai de Jesus, encontrou ao lado de Maria, no exercício de um amor que lhe é próprio, aquele paterno, a correspondência de um amor e igualmente singular, aquele filial de Jesus.

José, pelo amor paterno que tinha para com Jesus, foi levado a consumar toda a sua vida por ele e pela sua esposa e a participar dos acontecimentos do nascimento, da circuncisão, da apresentação ao templo, da fuga ao Egito e da vida escondida de Nazaré, mas da mesma forma condividiu os benefícios do mistério destes acontecimentos, ou seja, participou do amor de Jesus, o qual era a própria fonte deles. Se este amor através da sua humanidade se irradiava para todos homens, eram certamente beneficiados em primeiro lugar aqueles que a vontade divina tinha colocado na mais íntima intimidade: Maria sua mãe e José o seu pai putativo.

Torna-se difícil para nós compreender a amplidão e a profundidade do conhecimento concedido a São José na contemplação da própria verdade que habitava em sua casa, o certo é que, conforme afirma São Bernardo, “o Senhor encontrou José segundo o seu coração e confiou-lhe com plena segurança o mais misterioso e sagrado segredo de seu coração. Para ele desvendou a obscuridade e os segredos de sua sabedoria, concedendo de conhecer o mistério desconhecido por todos os príncipes deste mundo”.

Uma semelhante intimidade supõe uma particular familiaridade do Espírito Santo com Maria e José. De fato, o Espírito Santo, o qual honrou São José com o nome de pai, certamente não podia deixar de adorná-lo de uma maneira eminente com aquelas qualidades necessárias para o desenvolvimento de sua altíssima paternidade. João de Cartagena vê uma “simpatia” entre o Espírito Santo e José pelo fato que sendo “o Espírito Santo o coração de Deus, certamente afirmando que José era um homem segundo o coração de Deus, o Senhor procurou um homem segundo o seu coração, é como se dissesse que procurou um homem conforme ao Espírito Santo e, se é permitido assim dizer, tendo de qualquer maneira uma certa simpatia com ele”.

O cardeal Vives não tem receio em afirmar que “José representa a pessoa do Espírito Santo, porque como ele é o amor do pai e do filho, o esposo das almas, o Paráclito e o Consolador, assim o Bem-aventurado José amava ardentemente a mãe e o filho dela e era a consolação e a alegria de toda a sagrada família”.

Compreende-se melhor agora como em São José a exigência do amor, ou seja, o seu empenho em manter e defender a sagrada família, não só a contemplação na sua vida, tornou-se expressão desta. Para José o “fez” como o anjo lhe tinha ordenado, era fruto de sua vida interior e as suas ações a revelação do clima de uma profunda contemplação no qual ele vivia, assim como a manifestação do seu perfil interior.

Justamente porque São José foi o educador de Jesus, a igreja não deixa de confiar a vida espiritual dos fiéis a ele, considerando que a vida cristã consiste justamente na reprodução e no crescimento em nós de Jesus com todos os seus sentimentos, e que em todo este procedimento José foi e continua a ser o formador insuperável.

Todos aqueles que desejam seriamente a perfeição cristã devem considerar São José como o mestre de vida interior, confiando a ele a própria vida espiritual e tomando-o como modelo do próprio agir, certos de que ele é o santo a tornar-lhes filhos do Pai celeste.

O PROTETOR DA SANTA IGREJA (Curso de Josefologia – Parte IV – Capítulo 64)

A liturgia reconhece de modo claro a função de protetor que São José exercitou na história da salvação, “a cuja primorosa custódia Deus quis confiar os inícios de nossa redenção”, e considera tal proteção em relação a Cristo, pois “o colocou como chefe de tua família para guardar como pai o que o único filho”, e também em relação à igreja, sobre a qual é invocado o seu patrocínio e: “continueis do céu a sua primorosa custódia para a Santa igreja que o venera como protetor” (Missal Romano).

Os ensinamentos dos Sumos Pontífices a este respeito se fundamentam em suas próprias convicções em recomendarem para toda a Igreja o Patrocínio de São José. Basta lembrar que o papa Pio IX proclamou São José Patrono da Igreja Universal, mas antes disso, no ano seguinte à sua eleição ao pontificado, ou seja, no dia 10 de setembro de 1847, através do decreto Urbis et Orbis, tinha estendido a festa do Patrocínio para toda a igreja, tornando-a festa de preceito.

Tal festa já era celebrada em várias Ordens e dioceses não apenas na Europa, mas também na América. Os Carmelitas da Espanha e da Itália em 1680, tinham recebido autorização de celebrá-la do papa InocêncioXI, depois a diocese de Roma conseguiu também a mesma autorização em 1809. A extensão dessa festa para toda a Igreja não tinha jamais sido concedida, não obstante o pedido do imperador Leopoldo I. em fevereiro de 1684, por causa de seu reconhecimento a São José pela libertação de Viena dos Turcos em 12 de setembro de 1683 e também pelo desejo do povo.

O Decreto (Urbis et orbis) que inicia com as palavras “o ínclito do patriarca José” ,lembra primeiramente os dons divinos que lhe foram concedidos e os méritos que ele conquistou, para depois afirmar que José assumiu no céu “uma nova tarefa”. Ele deve “por meio dos seus abundantes méritos e com o apoio da sua oração trazer socorro para a mísera condição dos homens e com as suas valiosíssima intercessão impetrar para o mundo aquilo que a possibilidade humana não pode obter”.

Depois deste documento será necessário esperar até 1870 para ter um outro análogo, mas não devemos esquecer de que durante todo o arco do pontificado de Pio IX é caracterizado por um crescente desenvolvimento da devoção a São José, que interessa também aos Concílios particulares e às contínuas intervenções da Santa Sé para promover e regular devidamente as devoções, as associações, as congregações e os movimentos na igreja.

O Patrocínio de São José sobre a Igreja universal foi proclamado aos 8 de dezembro de 1870 pelo mesmo pontífice por meio da Sagrada Congregação dos Ritos com o Decreto “Quemadmodum Deus”. Trata-se de um Decreto que no dizer do papa João XXIII, “abriu um veio de riquíssimas e preciosas inspirações aos sucessores do nosso Pio”.

O Decreto e evidencia a dignidade única de São José “constituído por Deus Senhor e Príncipe de sua casa e de sua possessão e escolhido como guarda dos divinos tesouros “. Sendo que São José é o segundo em dignidade depois da Virgem, e sendo honrado por Deus de modo excepcional, era lógico que a Igreja recorresse a ele em suas dificuldades, entre os erros no campo filosófico, religioso, moral e social, que andavam concomitantemente com as turbulências políticas condenadas depois de alguns anos com o a Encíclica “Quanta cura” e depois na célebre lista das 80 proposições errôneas , denominada ” Syllabus” de 1864.

A conflitiva situação daquele tempo persuadiu o papa Pio IX a “colocar a si próprio e a todos os fiéis sob o potentísimo patrocínio do Santo patriarca José”, pedindo de fazê-lo aos bispos do mundo católico em seus nomes e também em nome do “Sagrado Ecumênico Concílio Vaticano”.

Aos 15 de agosto de 1889, Leão XIII publicou a Encíclica “Quamquam Pluries”, também esta levada pelas circunstâncias difíceis que estava atravessando a igreja durante o seu pontificado. A exortação Apostólica de João Paulo II, que estamos tratando, justamente lembra o centenário desta Encíclica leonina. Mereceria também neste contexto lembrar o Motu Proprio “Bonum Sane” de Benedito XV lançado aos 25 de julho de 1920 por ocasião do 50º aniversário da proclamação do Patrocínio de São José assim como as freqüentes intervenções de Pio XI e depois de Pio XII que repropuseram São José como Patrono e modelo dos operários (11 de março 1945), assim como do papa Paulo VI. Devemos lembrar também o quanto João XXIII, que quis São José Patrono do Concílio Vaticano II, via a necessidade da proteção do Santo Patriarca; ele dizia “a este amigo solícito, que cuidou de Jesus nos dias de sua vida mortal e protege do céu o Corpo místico – Christi defensor sedule, familiarum columem, protector Sanctae Ecclesiae, como o invocamos nas suas ladainhas. Nós entregamos com confiante oração as solicitudes presentes e futuras do governo da igreja”.

O papa João Paulo II acrescenta a estas considerações que nós ainda hoje temos motivos suficientes para recomendar a São José cada homem. Afirma ainda que o seu patrocínio ” é necessário ainda para a igreja não somente para a defesa contra os perigos, mas também e sobretudo para confortá-la no seu renovado empenho de evangelização no mundo e de re- evangelização naquelas nações, onde a religião e a vida cristã são colocadas a duras provas”.

O TIPO DO EVANGELHO (Curso de Josefologia – Parte IV – Capítulo 65)

Além de sua segura proteção, a Igreja confia também no insígnie exemplo de São José, um exemplo que supera os comuns estados de vida, e o propõe para todos os cristãos. É difícil imaginar com que dedicação, fidelidade e amor, São José cumpriu a sua missão em relação a Jesus através do exercício de sua autoridade paterna que é responsabilidade, dedicação e serviço. São José com amor e por amor consagrou totalmente a sua vida ao Messias e às exigências do seu reino, tornando-se o modelo insuperável para quem deseja estar sinceramente perto de Jesus. Por tal motivo a igreja pede na oração litúrgica de poder “colaborar finalmente com a obra da salvação, de poder doar a mesma fidelidade e pureza de coração que animou São José a servir o Verbo encarnado e de caminhar, sob o exemplo e pela intercessão dele, diante de Deus nos caminhos da santidade da justiça” ( Missal Romano) .

A igreja reconhece que a missão de São José foi aquela de “guardar e servir” Jesus. Em vista disso, da mesma maneira como São José se comportou diante da chamada divina, colocando-se totalmente à disposição do projeto divino em relação a encarnação de Jesus Cristo, assim também deve fazer a igreja, sendo que também ela foi convocada por um chamado divino e portanto deve ser fiel a essa vocação. Por isso João Paulo II afirma que “reconsiderar a participação do esposo de Maria permitirá a igreja, no caminho em direção ao futuro, juntamente com toda humanidade, de reencontrar continuamente a própria identidade no âmbito do desígnio redentivo, que tem o seu fundamento no mistério da encarnação”.

Todo o povo cristão deve ter “sempre diante dos olhos, o seu humilde e maduro modo de servir e de participar da economia da salvação”. De José Deus pediu incondicionalmente tudo, e ele respondeu com uma dedicação sem comparação, tornando-se o servidor de Jesus com amor de pai. Ele se colocou efetivamente ao serviço de Jesus com sacrifício total, fazendo desse próprio um holocausto à vontade de Deus, assumindo da família todos os empenhos e as responsabilidades e renunciando as mais legítimas aspirações humanas.

José tornou-se deste modo o tipo ideal do evangelho, ao qual Jesus nos seus ensinamentos fará freqüentemente alusões. José foi aquele que descobriu o Reino de Deus e deixou todas as coisas para possuí-lo. Ele é o protagonista da parábola do tesouro escondido, o qual vende tudo aquilo que possui e o compra. É ainda o comerciante de pérolas, o qual, ao descobrir uma verdadeiramente preciosa, vende todas as pérolas que possui para comprá-la. Nem todos podem compreender a necessidade de deixar tudo por causa de Jesus, tal decisão exige e supõe, além da graça da vocação, uma decisão que leve a colocar Jesus acima de todos bens, sendo disposto a sacrificar tudo para obtê-lo. José foi o primeiro a reconhecer o Reino de Deus presente em Jesus e a deixar por ele todas as coisas.

Afirmar que José é o “tipo do evangelho”, ou seja, o tipo do homem que sabe acolher incondicionalmente o Reino de Deus, corresponde a um dado de fato. Não poderia haver para Jesus um modelo mais perfeito fora deste homem que ele chamava de pai e que o aceitava como educador e mestre. São José de fato, tinha se colocado exemplarmente na completa disposição da vontade de Deus tinha aceitado cumprir humildemente e fielmente o plano divino da encarnação e da redenção, tornando-se de tal maneira “o modelo dos humildes que o cristianismo eleva aos grandes destinos; São José é a prova de que para ser bons e autênticos seguidores de Cristo não se necessita de coisas grandiosas, mas bastam e necessitam virtudes comuns, humanas, simples mas verdadeiras e autênticas”.

Paulo VI enfatiza que José “fez de sua vida um serviço, um sacrifício ao mistério da encarnação e à missão redentora; ele usou da autoridade legal que possuía sobre a sagrada família, fazendo-se total dom de si mesmo, de sua vida e de seu trabalho”. O conceito de autoridade, oportunamente iluminado pelo Concílio Vaticano II como ” serviço ” e que consiste no dom de si e do próprio trabalho aos outros segundo a vontade de Deus, teve uma silenciosa repercussão e execução em São José, o qual fez ” oblação de si, de seu coração e de toda sua capacidade no amor colocado ao serviço do Messias germinado na sua casa “. Ele merece por isso, o título evangélico de “servo bom e fiel”. Chamado por Deus para ser o pai de Jesus aqui na terra, José assumiu responsavelmente este serviço exercendo na sagrada família com a sua autoridade de maneira verdadeiramente exemplar, chegando a merecer de Pio XI o título de “pai da grande caridade”.

Isto significa que José teve para com Deus um amor que não conheceu barreiras e que ao lado de Maria, exercitou a caridade em seu grau mais elevado, por que foi praticada não apenas para com o próximo, mas com o próprio Deus na pessoa do Verbo encarnado.

Se entre as figuras evangélicas se evidenciam pela própria particular missão aquelas de São João Batista e de São Pedro, um por ter sido o precursor de Jesus e outro por ter tido como herança o governo da Igreja,” a pessoa e a missão de José, que passa desapercebida, silenciosa e quase desconhecida na humildade e no silêncio”, nos revelam o tipo de ministério tanto mais importante quanto mais escondido, tanto mais indispensável quanto menos evidenciado.

Tomando a comparação evangélica da lâmpada doméstica que difunde os seus raios modestos e tranqüilos, mas firmes e íntimos dentro da casa, Paulo VI afirma que “José é esta luz, que difunde os seus raios benéficos na casa de Deus, que é a igreja. Ele e a luz que ilumina com seu incomparável exemplo aquilo que caracteriza o santo, dentre todos afortunado pela íntima comunhão de vida com Jesus e Maria…”. Podemos portanto afirmar que o exemplo de São José e a lição que jorra de toda sua vida, tornou-se desde sempre uma escola na Igreja.

Nos exemplos de São José, como afirma Pio XI “Vê-se como Deus espera de cada um de nós aquilo que ele tem o sacrossanto direito de esperar, ou seja, a nossa correspondência fiel e generosa ao seu chamado, à sua vontade, ao seus desejos, o empenho fiel e diligente daqueles muitos dons naturais e sobrenaturais que ele mesmo distribuiu a cada um segundo as diversas condições de vida, e segundo os diversos deveres do estado que cada um recebeu”.

“São José fala pouco, mas vive intensamente, não subtraindo-se de qualquer responsabilidade que a vontade do Senhor lhe impõe. Ele oferece um exemplo de atraente disponibilidade ao divino chamado, de calma em qualquer acontecimento, de confiança plena, permeada de uma vida de sobre-humana fé e caridade e do grande meio da oração “, como afirmou João XXIII.

A Igreja não encontrou portanto, nenhuma dificuldade em propor o exemplo de São José com um modelo para todos.” em José os pais de família têm o mais sublime modelo de paterna vigilância e providência, os casados um perfeito e exemplar modelo de amor, de concórdia e de fidelidade conjugal, os virgens um tipo e um defensor da integridade virginal…”, conforme afirmou Leão XIII.

Naturalmente por causa da profissão que exerceu, São José é proposto especialmente com um modelo de santidade para a categoria que constituía a grande maioria dos homens:” com uma vida de fidelíssimo cumprimento ao dever de cada dia, deixou um exemplo a todos aqueles que devem ganhar o pão com o trabalho de suas mãos… “, conforme afirmou Pio XI.

São José é prova da grandeza para qualquer tipo de vida se esta se transforma em resposta de amor para com Deus. Paulo VI propõe justamente a adesão de São José à vontade de Deus como ” o segredo da grande vida “, para cada homem sem nenhuma exceção.

De São José aprendemos a servir a economia da salvação e assim ele se torna para todos um exemplar mestre no serviço à missão salvífica de Cristo, tarefa que na Igreja diz respeito a cada um de nós e a todos. Aos esposos e aos pais, para aqueles que vivem do trabalho das próprias mãos ou de qualquer outro trabalho, para as pessoas chamadas à vida contemplativa como para aquelas chamadas para o apostolado.

À grandeza e a sublimidade da obra à qual São José foi chamado para dar a sua colaboração, ele correspondeu com humildade no escondimento, aceitando executar exatamente o desígnio de Deus. Ele nos ensina que nas obras de Deus o homem é tanto mais capaz de realizá-las quanto mais deixa emergir o próprio Deus.

A Igreja não podia ignorar o ministério deste excepcional ” leigo “, ministério muito semelhante ao que lhe é próprio, que é igualmente de dedicação à pessoa e à obra de Jesus. São José, ao qual o Pai confiou todo o mistério da salvação justamente na fase mais delicada da sua realização histórica – na plenitude dos tempos- é a prova da ilimitada confiança que Deus coloca no homem, e do quanto é importante a resposta do homem, se desta Deus deixa depender o êxito de sua iniciativa

A Igreja, e cada cristão pertencente ela, ao qual é confiado hoje o crescimento do mistério de Deus e a sua transmissão às gerações deste novo milênio, não pode deixar de não olhar a São José para imitar-lhe na vida e invocar-lhe o Patrocínio. Eis porque São José é sem sombra de dúvidas, um Santo atualíssimo.

Comentários


Eventos futuros

FALE CONOSCO

CONVERSE CONOSCO

Pequeninos que buscam viver a santidade e levar a luz de Deus para todos aqueles que precisam.

Paz de Jesus e o Amor de Maria! Recebemos sua mensagem e logo responderemos.

CONVERSE CONOSCO

Obrigado por falar conosco! Logo enviaremos sua resposta.

  • Traços de Maria
  • Branca Ícone Spotify
bottom of page