CURSO DE JOSEFOLOGIA Parte 2
- Traços de Maria
- 19 de mar. de 2019
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Curso de Josefologia (2/3)
UMA PATERNIDADE NÃO NATURAL, MAS VERDADEIRA (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 20)
Os evangelhos por um lado afirmam que Jesus foi concebido por obra do Espírito Santo, por outro chamam José de pai de Jesus e atribuem-lhe o direito de impor o nome ao mesmo. Como chefe de família é a José que o anjo dirige o comunicado para que juntamente com Jesus e Maria fujam para o Egito e depois para que voltem à Palestina e morem em Nazaré. Temos portanto esta situação muito importante, pois de um lado a maternidade divina de Maria que é uma maternidade virginal, de outro, o fato de que José é considerado e age consequentemente como pai.
Uma filiação adotiva, por si mesma não é natural, portanto é definida como jurídica, ou legal, mas pela nossa fé afirmamos que embora sendo nós filhos “adotivos” de Deus, somos verdadeiros filhos seus. Da mesma forma em relação à paternidade de José nós o atribuímos uma paternidade “putativa”, para indicar que essa não é natural, mas não para negar que essa não seja verdadeira.
O fundamento da verdadeira paternidade de José é constituído seja por causa do seu matrimônio com Maria, seja pelo nascimento de Jesus dentro deste matrimônio. Assim, o verdadeiro esposo de Maria deve ser considerado verdadeiro pai de Jesus em relação a este matrimônio, ainda que somente putativo em relação à geração corporal. Se para cada pai o matrimônio constitui o fundamento legal da verdadeira paternidade, esta portanto não pode ser tirada de José em relação a Jesus, o qual nasceu de um matrimônio que se distingue de outros matrimônios pela sua excepcionalidade já que Maria não pode ser considerada uma mãe solteira e nem Jesus um filho adulterino, pois ela concebeu-o como esposa de José e por virtude do Espírito Santo. Jesus nasceu no matrimônio de Maria e José não por acaso, mas enquanto este singular matrimônio foi expressamente querido por Deus, para acolher a Pessoa preexistente do Filho do próprio Deus; este matrimônio foi decretado por Deus em ordem ao nascimento de Jesus. Deus quis o inserimento de seu Filho no mundo dos homens de uma maneira eu não aparecesse como um filho caído do céu, mas como um Filho de Davi em cumprimento às promessas feitas por ele ao povo hebraico (1Sam 7), ora isto exigia antes de tudo uma paternidade legal ou jurídica, e ao mesmo tempo verdadeira, também se não natural.
Como ensina Santo Tomás, que a prole é um bem do matrimônio, não apenas enquanto esta é gerada por meio do matrimônio, mas enquanto no matrimônio esta é acolhida e é educada, conclui-se que dos três bens do matrimônio, a geração, a aceitação e a educação, excluindo o primeiro bem pelo motivo da singularidade inserção do Filho que preexiste desde a eternidade, permanecem ainda os outros dois.
Justamente porque Jesus não é Filho de nenhum outro homem, o relacionamento filial que o liga a José é essencialmente diferente daquele que é instaurado entre o filho de um outro pai, e o pai adotante. Assim, o relacionamento de José com Jesus o faz, portanto, muito mais íntimo parente do que se Jesus fosse adotado de fora, pois José é pai de Jesus do mesmo modo em que é entendido esposo de Maria, sem a união da carne, mas pelo vínculo do matrimônio, afirma Santo Tomás.
O título “putativo” utilizado para designar José como pai de Jesus, não deve ser entendido como uma qualificação diminutiva, ou temerosa para explicitar o que José não é, antes, é para afirmar o quanto de positivo nisto existe. Somente São José, entre todos os homens, condivide com Deus o título de pai a respeito de Jesus, uma dignidade tão grande que a nossa linguagem humana não é capaz de defini-la exatamente.
A PATERNIDADE AFETIVA E EDUCATIVA DE JOSÉ (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 21)
Jesus na agonia do Getsemâni dirigiu-se ao Pai com a palavra “Abba”, conforme nos relata Marcos (14-36), ou seja, com a mesma forma aramaica com que as crianças se dirigiam aos seus pais; fórmula esta que eqüivale ao nosso “papai”, e que Jesus a utilizou em seu âmbito familiar para com José, pois de fato a própria sua mãe testemunha isso quando disse-lhe: “Teu pai e eu estávamos angustiados à tua procura” (Lc 2,48). São José, foi portanto, na terra, o único homem afortunado de ter a singularíssima honra de condividir com Deus Pai, a idêntica inovação filial de Jesus.
José acolheu Jesus na sua casa, não apenas juridicamente, mas muito mais o acolheu afetivamente, considerando-o e amando-o como Filho. Os sentimentos de José para com Jesus são expressões genuínas de um amor autenticamente paterno, pois José exerceu para com ele a função de pai convivendo com ele, abraçando-o beijando-o e nutrindo-o com paterno afeto (Pio IX, Decreto Quamdmodum Deus). “Ele teve para com Jesus por um especial dom celeste, todo o amor natural, toda a afetuosa solicitude, que um coração de pai possa conhecer”, afirmava ainda Pio IX em 1954, num discurso aos alunos católicos dos Estados Unidos. Da mesma forma, o Papa Leão XIII na oração que compôs “A vós São José” coloca a expressão “pelo amor paternal que tivestes com o Menino Jesus”.
Jesus foi verdadeiramente amado dentro de sua família, não sofreu o sofrimento psicológico de falta de afeto, e nem se sentiu um estranho, mas gozou de todas as vantagens dentro de sua virtuosa família.
O Papa Paulo VI ressalta sobretudo a caridade de São José no fato que ele soube amar Jesus em sua família com a oferta da própria vida: “A vida de José não teve outro sentido ou razão que aquela do serviço ao Menino, ao qual era confiada a Redenção. Ele colocou à disposição dos desígnios de Deus a sua liberdade, a sua legítima vocação humana, a sua felicidade conjugal, aceitando da família a condição, a responsabilidade e o peso, e renunciando por um incomparável virgíneo amor, ao natural amor conjugal que a constitui e a alimenta, para oferecer assim com sacrifício, toda a sua existência às imponderáveis exigências da vinda do Messias” (Allocuzione de 19/03/1969).
José foi, portanto pelo desígnio de Deus, o primeiro a reconhecer o Reino de Deus presente em Jesus e deixou tudo por ele, tornando-se assim o protagonista da parábola do tesouro escondido, o qual vendeu tudo o que possuía para comprá-lo. Ele é o comerciante de pedras preciosas, o qual descobrindo uma verdadeiramente preciosa, vende todas as pérolas para comprá-la. Para esta sua decisão foi necessário não apenas a graça da vocação, mas também a valorização desta levando-o a colocar Jesus acima de qualquer bem, assim como a sacrificar tudo para vivenciar esta vocação.
Paulo VI salienta como já lembramos, que José fez de sua vida um serviço, um sacrifício ao mistério da encarnação e à missão redentora e usou de sua autoridade legal, que tinha sobre a Sagrada Família, para fazer-se total dom de si, de sua vida e de seu trabalho, assim como fez oblação de si, do seu coração e de todas as suas capacidades, no amor colocado ao serviço do Messias germinado dentro de sua casa. Portanto ele exercitou a sua autoridade de pai de modo verdadeiramente exemplar, tendo para com Jesus um amor sem limites e juntamente com Maria, na casa de Nazaré, exercitou o seu amor no seu grau mais perfeito, justamente porque o praticou para o próprio Deus na pessoa de Jesus, Verbo encarnado.
Os privilégios que o evangelista Mateus atribui aos discípulos de Jesus (Mt 13,11.16) pertencem a São José de modo especial e reforçando esta verdade, Pio IX e também Pio XI, interpretando em chave Josefina o relato do juízo final, onde Jesus dirá “vinde benditos do meu Pai, porque eu tive fome e me deste de comer..” (Mt 25,34-35), e então perplexos os bons dirão, “Senhor quando foi que te vimos com fome…” (Mt 25,37), afirmam que dentro desta maravilha José será aquele que não observará nada, será aquele que consentirá com aquele juízo dos justos a seu respeito porque ele fez tudo de bem para Jesus aqui na terra. Se os apóstolos ficaram cheios de alegria por aquilo que ouviram, viram com os próprios olhos, tocaram com as próprias mãos (1Jo 1,1), muito mais será a alegria de São José que no exercício de sua missão de pai de Jesus, bebê, criança, adolescente, jovem e adulto, quando vivenciou toda essa realidade. Por isso S. Bernardo diz: “O Senhor encontrou José segundo o seu coração e lhe confiou com plena segurança o mais misterioso segredo do seu coração. A ele desvelou a obscuridade e os segredos de sua sabedoria… aquilo que numerosos reis e profetas desejavam escutar e não ouviram, foi concedido a São José, que não apenas o viu e o ouviu, o abraçou, o beijou, o alimentou e dele cuidou” (Homilia Super Missus est: PL 183,70).
O amor de José por Jesus foi portanto um amor sem reservas, foi um amor traduzido em generosidade, sacrifício, serviço, dom de todo a sua pessoa; um amor que só em Maria encontrou um modelo. Assim sendo, a pessoa de São José, a devoção a ele, é-nos um convite para amar Jesus com todo afeto do nosso coração, mas é também e sobretudo um convite ao serviço incondicional à vontade de Deus.
A função educativa de José sobre Jesus é um aspecto de sua paternidade nem sempre lembrado. A psicologia ensina que a pessoa recebe as influências do ambiente em que vive e das pessoas com as quais convive. Ciente desta verdade o Papa Paulo VI soube colher muito bem este aspecto, vendo refletido nas atitudes de Jesus a longa partilha de vida que ele teve com José na Carpintaria de Nazaré, e na sua família, juntamente com Maria. Por isso ele afirma: “São José é o tipo de evangelho que Jesus, ao deixar a pequena oficina de Nazaré, e ao iniciar a sua missão de profeta e de mestre, anunciará como programa para a redenção da humanidade” (Allocuzzione de 19/3/1969). Isto significa que o tipo de “homem novo” anunciado por Jesus, foi formado na sua mente humana durante os muitos anos em que passou ao lado de José, correspondendo àquele modelo concreto que ele sempre tinha diante de si.
É evidente que a contínua presença deste homem sério e virtuoso influiu positivamente em Jesus. O Verbo de Deus teve o conhecimento experimental dos valores de José e de Maria através desta convivência diária em sua família de Nazaré. José e Maria não podiam não ser para Jesus os modelos mais perfeitos, os quais ele os tinha como pais e que os aceitava como educadores e mestres para si.
São José foi, além do mais, o tipo humano que Jesus mesmo escolheu para qualificar a sua própria posição social de “Filho do Carpinteiro”. José fiel à sua missão na disposição de colaborador na encarnação do Filho de Deus, tornou-se assim, o “modelo dos humildes que o cristianismo eleva a grandes destinos. Ele é a prova de que para ser bons e autênticos seguidores de Cristo não se necessita de grandes coisas, mas bastam e acorrem virtudes comuns, humanas, simples, mas verdadeiras e autênticas”, como ainda afirma Paulo VI.
Enquanto foi Deus a escolher para a encarnação de seu Filho aqui na terra a família de José; foi José, contudo, que deu a Jesus “o estado civil, a categoria social, a condição econômica, a experiência profissional, o ambiente familiar e a educação humana” (Allocuzzione de 19/3/1964).
Evidentemente que um homem do quilate de José não podia de maneira alguma, dentro da experiência diária de vida e de trabalho entre Jesus e ele, e também com Maria, não trazer em decorrência disso, todas aquelas conseqüências benéficas de caráter psicológico, afetivo, intelectual, espiritual e moral, que Jesus tão bem soube exprimir no relacionamento com as pessoas durante a sua vida.
José neste sentido foi verdadeiramente o educador de Jesus, justamente porque ele tinha como pai, e em ordem à sua missão, a tarefa de educar Jesus para o trabalho e para as experiências da vida. Por isso, o grande teólogo Orígenes ao afirmar que “O Espírito Santo honrou São José com o título de pai”, justifica depois, sua afirmação de que José educou o Menino Jesus. E Santo Tomás na mesma linha de Orígenes reconhece que José, embora não tivesse gerado Jesus, merece todavia o título de pai por ter assumido todas as funções propriamente paternas. Justifica ainda mais, afirmando que o matrimônio de José e Maria foi querido por Deus especialmente para isso, ou seja, porque neste Jesus fosse acolhido e educado. Como podemos concluir, a função de São José na encarnação e na redenção, segundo Santo Tomás, não é secundária, pois sua função foi muito mais do que ser o guardião de Jesus, não foi limitada a uma assistência externa, por isso mesmo a Igreja sabiamente quis confiar a vida espiritual dos fiéis a este grande personagem dos desígnios de Deus.
A VOCAÇÃO DE JOSÉ E A SUA JUSTIÇA (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 22)
Como Maria recebeu o anúncio de um anjo pedindo-lhe de aceitar a concepção de Jesus em seu seio, também José teve conhecimento de sua vocação e missão através do anúncio de um anjo. De fato, o evangelista Mateus (1,18-25), assim descreve: “Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu que ela concebeu por virtude do Espírito Santo. José, seu esposo, que era homem de bem, não querendo difamá-la, resolveu rejeitá-la secretamente. Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e lhe disse: ´José, Filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados’. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta: Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel (Is 7,14), que significa: Deus conosco. Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa. E, sem que ele a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu filho, que recebeu o nome de Jesus”.
Neste relato José teve a aparição do anjo Gabriel durante um sonho, o qual deu-lhe algumas indicações precisas, tais como: ”José, filho de Davi”, depois assegurou-lhe que era vontade de Deus que ele fosse esposo de Maria, dizendo-lhe: “Não temas”. Asseguro-lhe de que ele seria pai daquele que devia “salvar o seu povo de seus pecados”. Por fim, a sua resposta: “Tomou consigo sua esposa”.
O evangelista Mateus (1,19) colocou no centro da mensagem do anjo uma qualificação para José; aquela de Justo; “José seu esposo, sendo homem justo e não querendo abandonar Maria, decidiu de despedi-la em segredo”. Para Mateus a razão da intenção de José de abandonar Maria é porque era um homem justo, embora alguns tenham afirmado que José tivesse suspeitado algo de perverso em Maria, mas isso não apenas comprometia a sua honra, o que é uma calúnia, como também contradizia a “justiça” de José, pois fazia-o pensar mal de Maria. Esta teoria foi defendida por São Justino, São João Crisóstomo, Santo Agostinho, Santo Ambrósio, São Pedro Crisólogo, contudo São Jerônimo a repudiou-a totalmente. Para São Jerônimo: “José conhecendo a castidade de Maria e surpreendido por tudo aquilo sucedido, fechou no silêncio o mistério que não compreendia”. Deste modo, José, sendo justo se livrava de um problema para o qual não encontrava solução, pois ao abandonar Maria não iria lhe causar nenhum prejuízo à sua honra.
Por fim, outros viram neste acontecimento na vida de José, uma ligação com sua humildade; ele sentiu-se indigno de condividir a sua vida com Maria sendo ela a mãe do Salvador. Assim pensou São Brasílio: “José se defrontou com duas coisas simultaneamente: tanto a gravidez de Maria como a sua causa, ou seja, causada pelo Espírito Santo” (In Christi generationem, 4 MG 31,1464).
Explicou melhor esta atitude de José o teólogo Karl Rahner para o qual seria absurdo ele, ao constatar a gravidez de Maria, não pedir o motivo desta, ou não receber uma explicação. Por isso ele explica que a justiça de José “está enquadrada no estilo do Antigo Testamento, onde esta tem o significado de cumprimento de toda a lei escrita, vale dizer, de santidade”. Uma outra explicação melhor compreensível vem do biblista León Dufour, para a qual “José reagiu como todos os justos da Bíblia diante de Deus que se apresenta nos acontecimentos de suas vidas: como Moisés que tira as sandálias, como Isaías atemorizado pelas visões de Deus três vezes Santo, como Isabel, que se pergunta como é possível ir ao seu encontro a mãe do Salvador, como o Centurião do evangelho, e enfim como Pedro que protesta: “afasta-te de mim Senhor, sou um pecador” (Études d’Evangile, Paris 1965, pg 81).
Embora todas estas explicações procuram dar uma luz às dúvidas de José quanto ao aceitar Maria como sua esposa, nenhuma delas satisfazem, pois não passam da afirmação das características de homem bom, humilde diante do mistério, como uma santidade notável… mas não exprimem a sua justiça realçada por Mateus e que no conceito bíblico indica alguém que é deliberadamente e totalmente disposto em cumprir a vontade de Deus no desenvolvimento de seu projeto de salvação, como foi Noé, Abraão, Moisés, Isac, Jacó, etc. Na intenção de Mateus, a dúvida de José, movia-o a procurar descobrir qual era a sua missão ao lado de Maria como sua esposa para depois dedicar-se completamente em cumpri-la, ou seja, sua dúvida o conduzia a uma humilde espera da voz do céu, como uma solução prudente a tomar.
José é esposo de Maria, a qual concebeu Jesus por obra do Espírito Santo; esta verdade joga luzes na dúvida de José, a qual refere-se não a uma maternidade qualquer, mas a uma maternidade admirável, (RC 3) porque deu-se com o intervento do Espírito Santo. A dúvida de José é guiada por um sentimento da presença de Deus, e foi somente pela presença da ação divina em Maria que ele pensou em deixá-la. Como condividir a vida com aquela que está intimamente ligada a Deus?
Por isso foi necessário o intervento divino, onde José é chamado pela ordem divina a tomar consigo a sua esposa e a assumir a paternidade da qual ela tinha concebido por obra do Espírito Santo. De fato, o anjo dirigiu-se a José como ao esposo de Maria e como aquele que deverá impor o nome do Filho que nascerá da Virgem de Nazaré, sua esposa. O Anjo confia-lhe, portanto, a tarefa de um pai terreno a respeito daquele Filho de Maria (RC 3). O mensageiro o conduz no mistério da maternidade de Maria.
O Filho de Maria, sua esposa, lhe pertence segundo a lei humana e não somente segundo a genealogia. Pertence-lhe segundo a vontade divina que chama José a condividir com aquele “de quem toma nome toda família no céu e na terra” (Ef 3,15), o título de Pai. Honra tão grande que nenhum homem pode vangloriar-se de possuí-la.
Diante disso José despertando do sono fez o que o anjo lhe ordenara e lança-se na obediência da Palavra recebida, aceitando como disso Paulo VI, o seu destino. Ele tem uma religiosa escuta da Palavra Divina e uma absoluta disponibilidade para servir fielmente a vontade salvífica de Deus. Vemos aqui encarnado o modelo de obediência, distinguindo-se pela fiel execução da vontade de Deus. Juntamente com a bem-aventurança de Maria “Bem-aventurada aquela que acreditou”, pode-se referir-se também a esta, em certo sentido a José, porque ele respondeu afirmativamente à Palavra de Deus. A sua foi uma “puríssima obediência da fé” (RC 4).
José tomou a partir daí a sua esposa assumindo em tudo o mistério de sua maternidade juntamente com o filho que dela nasceria por obra do Espírito Santo. Ele demonstrou aqui uma disponibilidade de vontade semelhante àquela de Maria, (RC 3) e assim tornou-se juntamente com Maria, o primeiro depositário do mistério divino, e da mesma forma em relação a Maria, ele participa desta fase culminante da auto-revelação de Deus em Cristo. Com isso José é o primeiro a participar da fé da Mãe de Deus; ele é aquele que primeiramente foi colocado por Deus no caminho da peregrinação da fé, sobre a qual Maria irá à frente de modo perfeito (RC 5). Eis porque podemos dizer que São José é o modelo dos humildes que o Cristianismo eleva a grandes destinos (Paulo VI alocução 19/3/1969).
A MISSÃO DE JOSÉ (Curso de Josefologia – Capítulo 23)
A encarnação de Jesus, ou seja, o inserimento de Deus na nossa condição humana, é o ponto central da história, o momento mais solene e definitivo desta. São José com sua missão participou da grandiosidade deste momento histórico, enquanto descendente de Davi, ao apresentar para o mundo, o herdeiro das Promessas, o Messias esperado. Nesta função ele recebeu a missão mais alta que se possa imaginar; aquela de cuidar do Filho de Deus, de proteger a pureza de Maria, sua esposa, e de cooperar com a encarnação divina para a salvação da humanidade. Ele, o único chamado para participar, juntamente com Maria, do conhecimento do grande mistério escondido nos séculos, com a sublime prerrogativa de guiar, de assistir e de cuidar do Salvador do Mundo, ao qual, não somente assegurou-lhe a herança das promessas messiânicas e o seu nascimento honrado e conveniente neste mundo, mas também deu-lhe o estado civil, a categoria social, a condição econômica, a experiência profissional, o ambiente familiar e a educação humana, segundo as palavras já referidas de Paulo VI.
Sendo escolhido para ser o esposo da mãe de Deus, José participou da excelsa dignidade de sua esposa através do vínculo conjugal. Por tamanha grandeza, o próprio Jesus, Filho de Deus, não o considerou apenas como um seu guarda, mas quis que ele fosse publicamente reconhecido e estimado diante da lei e através do testemunho vivido pela sua obediência a ele, do seu respeito e do seu filial amor como seu pai e chefe de sua família.
A grandeza e a santidade de José estão unidas no cumprimento fiel da mais alta ordem divina que lhe conferia uma tal missão para ser o legítimo e natural guarda, chefe e defensor da divina família de Nazaré.
Para São José não é suficiente reservar-lhe um lugar na cena do presépio, como se reserva aos animais que nele estão presentes. A presença dele no presépio pode ter apenas uma função decorativa, tanto é verdade que a sua ausência não diminuiria em nada o mistério da encarnação. Para muitos, no comentário das narrativas da infância de Jesus, São José muitas vezes é esquecido, ou é tido como alguém secundário, sem nenhuma incidência no acontecimento de Belém. Para alguns a figura dele chega de ser até um obstáculo em relação à virgindade de Maria, a tal ponto que desde a antigüidade ele foi pintado ou descrito como um velho, diminuído em sua função em relação à sua especial função de esposo e de pai.
Contudo basta aprofundar um pouco mais a sua presença na história da salvação para constatar que o evangelista afirma que Jesus era tido por todos como Filho de José, o que significa que José devia demonstrar ser pai, e que portanto a sua idade não podia ser avançada. Como poderia Deus que estabeleceu que Jesus nascesse de uma Virgem esposada, não lhe dar um marido que aos olhos do povo parecesse suspeito de não ser o pai do menino?
Por isso devemos enquadrar a perspectiva justa de José, a qual é aquela narrada pelo evangelho onde lembra que o plano divino da encarnação do Filho de Deus exigia necessariamente a descendência davídica e que José neste sentido realizou esta exigência, assegurando-lhe o indispensável título de Filho de Davi. Desta forma, a grandeza moral ou santidade de São José, está ligada à função que recebeu no exercício do plano de Deus, pois se Deus o escolheu para esposo de Maria é porque o achou digno do privilégio de compartilhar a sua vida com a criatura mais sublime desta terra.
José é o esposo de Maria, a mãe de Jesus e porque ela é a mãe de Deus, é importante considerar a afirmação de Leão XIII que diz: “se Deus deu para a Virgem esposa São José, a deu não apenas para companheiro de vida, testemunha de sua virgindade, tutor de sua honestidade, mas também para que participasse, devido o pacto conjugal, da sua excelsa grandeza”. Em vista de sua paternidade como esposo de Maria, para acolher Jesus encarnado, José recebeu de Deus toda a dignidade espiritual desta paternidade a respeito a Jesus, ao qual ele sustentou com amor, vestiu-o, defendeu-o e educou-o. Desta maneira, como não pensar nas singulares graças e dons com os quais Deus abundantemente o enriqueceu para que estivesse em grau de desempenhar com perfeição as tarefas de esposo e de pai que lhes eram devidas?
A grande missão que José recebeu para desempenhar e colaborar no mistério da Redenção, ele a desempenhou com humildade e no escondimento, aceitando obedientemente o desígnio de Deus e justamente por esse seu comportamento de serviço humilde e desinteressado, é que a Igreja o apresenta como o ponto referencial para todos os cristãos, no cumprimento da vontade de Deus, seja os sacerdotes, os religiosos, os pais, os esposos, os noivos, os operários, os ricos, os pobres… São José ensina para todos que para “ser bons e autênticos seguidores de Cristo não é necessário fazer coisas grandes, mas bastam virtudes comuns, humanas, simples, contanto que verdadeiras e autênticas” (Papa Paulo VI).
Deus teve plena confiança em São José e por isso confia-lhe a ele “o mistério cuja realização fora esperado por tantas gerações pela estirpe de Davi e por toda a casa de Israel, e ao mesmo tempo confia a ele tudo aquilo que dependia para cumprimento deste mistério na história do povo de Deus” (João Paulo II). Por isso a Igreja hoje não pode não olhar com simpatia e amor aquele obscuro carpinteiro de Nazaré, humilde e grande, frágil e forte, ignorado e importante, a fim de imitar seus exemplos e invocar seu patrocínio, pois ele é, na verdade um Santo atual.
NA OFICINA DE NAZARÉ A SAGRADA FAMÍLIA ERA A CÁTEDRA DA VIDA EVANGÉLICA (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 24)
O mistério da revelação de Deus em Jesus Cristo está intimamente unido ao mistério da encarnação que se desenvolveu dentro da família de José e em contato direto com a realidade diária do seu trabalho. Sabemos que Jesus recebeu de José a descendência davídica, mas além deste título indispensável para que ele fosse reconhecido como Messias, recebeu também o estado civil, a categoria social, a condição econômica, a experiência profissional, o ambiente familiar e a educação humana, conforme nos ensina o Papa Paulo VI. Desta maneira, assim como Jesus herdou de José o título de “Filho de Davi”, recebeu também o título de “Filho de Carpinteiro” (Mt 13,55); de fato, a gente de sua terra se maravilhava das palavras que saíram de sua boca e diziam: “Não é o filho de José?” (Lc 4,22). “Não é ele o filho do carpinteiro?” (Mt 13,55). Sendo filho de José, com ele trabalhou na oficina de Nazaré, tornado-se assim solidário com a humanidade em tudo também no trabalho. Por isso a Igreja ensina que “Com a encarnação o Filho de Deus se uniu de um certo modo a cada homem. Trabalhou com mãos do homem, amou com coração humano, agiu com a vontade do homem…”. (Gaudium et Spes 1,22). Ninguém com exceção de Maria esteve tão próximo às mãos, à mente, à vontade e ao coração de Jesus, como São José. Nele, de maneira particular, penetrou o espírito do evangelho e “nenhum trabalhador foi tão perfeitamente e profundamente compenetrado quanto o pai putativo de Jesus, que viveu com ele na mais perfeita intimidade e comunhão de família e de trabalho”, disse papa Pio XII, e por isso o mesmo papa ensina: “Se quiserem estar próximos de Cristo, “ite ad Joseph”, ide a José. Pois, o humilde artesão não apenas representa junto de Deus e da Santa Igreja a dignidade do trabalhador, mas também é o vosso próvido protetor de vossas famílias”.
Junto a oficina de Nazaré estava presente a Sagrada Família e nesta o protagonista era o próprio José, homem justo, enquanto sobre ele pesava as responsabilidades das decisões, o cuidado de Maria e a defesa de Jesus.
Nesta Sagrada Família, os três viviam uma vida serena, mas não privada de dificuldades em razão da presença do próprio Jesus. Dificuldades estas que não perturbavam a vida familiar, mas que exigiam todavia atenções particulares pela formação de Jesus.
Nesta Sagrada Família, São José todos os dias, seja em casa, seja em sua pobre oficina, tinha os olhos voltados para Jesus, protegendo-o dos perigos da infância, guiando-o para o seu crescimento.
Nesta Sagrada Família, São José exercitou sua tarefa primária de Pai, educando Jesus. Ali ele era o Pai de Jesus e Deus consequentemente não lhe deixava faltar os meios e iluminações para desenvolver sua altíssima tarefa.
Nesta Sagrada Família, São José não apenas forneceu a formação religiosa e o conhecimento das Sagradas Escrituras para Jesus, mas também foi preocupado com sua formação moral e com sua formação profissional, ensinando-lhe a arte da carpintaria. Tudo isso foi efetivamente vivenciado na presença de Deus, no mútuo amor familiar, o que fez-lhe merecer o título de “Glória da vida doméstica”. Suas ricas e boas qualidades compartilhadas no âmbito familiar, explicam a sua missão e porque é o modelo mais digno de todos quanto são responsáveis de famílias.
É inevitável, portanto que sua missão e guarda de Jesus, sua tarefa pedagógica no núcleo doméstico da Sagrada Família, conferem a São José uma atração especial para nossa admiração e um fundamento particular para nossa confiança no seu patrocínio.
O exemplo que nos dá a Sagrada Família leva-nos a concluir que as mudanças sociais e culturais do mundo moderno não devem exonerar cada família de sua missão natural e cristã; devem sim lembrar as suas tarefas indispensáveis na pedagogia, na afetividade, nos deveres morais e espirituais, na vivência do amor e da unidade.
A Sagrada Família nos ensina que analisar o modo de seu conceber e de organizar uma família que seja boa, unida e alegre, é um dos prementes deveres de nossa época.
A VOZ DOS PAPAS (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 26)
Os documentos pontifícios ao considerar a figura e a missão de São José, afirmam que a Igreja sempre o teve em grandíssima honra, “coroando-o de louvores”. De fato, Lucas e Mateus o ressaltaram apresentando-o com os títulos de “Filho de Davi”, “Esposo de Maria” e “Pai de Jesus”. Tendo em vista a grande honra que Maria, Mãe de Jesus, recebeu da comunidade apostólica, o título “esposo de Maria” (Mt 1,20) para José, não é apenas uma simples menção histórica, tanto menos o título “Pai de Jesus” (Lc 2,48) que o coloca no relacionamento mais próximo com Cristo, porque é através dele, José, filho de Davi, (Mt 1,20) que a geneologia davídica foi transmitida a Jesus, e dele Jesus recebeu “o nome, o estado civil, a categoria social, a condição econômica, a experiência profissional, o ambiente familiar, a educação humana” (Paulo VI, Allocuzzione 19/3/64). “Ainda mais, mediante o exercício da sua paternidade e desse modo, precisamente, ele ‘coopera no grande mistério da Redenção, quando chega a plenitude dos tempos’, e é verdadeiramente ministro da salvação” (RC 8). Em reconhecimento disto, a Igreja apostólica o qualificou como “Homem justo” (Mt 1,19s).
Não foram apenas os teólogos que se interessaram pela teologia Josefina. Também o Magistério da Igreja, na voz dos papas, colocou em evidência os pontos essenciais dessa teologia.
Pio IX estendeu a festa do Patrocínio de São José a toda a Igreja com o decreto “inclytus Patriarcha Joseph”, de 10 de setembro de 1847. E proclamou São José como Patrono da Igreja Universal com o decreto “Quemadmodum Deus”, de 08 de dezembro de 1870, ensinando que ele é o segundo em poder de intercessão.
O mesmo Papa reconheceu o seu direito a um culto superior ao dos outros santos com o decreto “Inclytum Patriarcham “, de 07 de julho de 1871. Além disso, testemunhou sua devoção ao grande Santo com um afresco enorme na sala Imaculada do Vaticano, que lembra a definição do dogma da Imaculada Conceição, no qual São José é colocado entre São Pedro e Jesus. Mandou erigir na Praça Espanha , em Roma, um baixo relevo representando o sonho de São José. Em 1871, foi confeccionado um tapete, no qual o patrocínio de São José é simbolizado por dois anjos que apresentam ao Santo o decreto pontifício e a Igreja. Ordenou, também, que fosse cunhada uma medalha em 1876 na qual São José é representado entre a Igreja e a Sagrada Família.
Em vista de sua dignidade e importância como colaborador do mistério de nossa Redenção é que no decorrer da história, o respeito dos cristãos por São José não diminuiu, aliás, sempre foi consolidando-se na devoção popular e aprofundando-se no conhecimento teológico. Basta lembrar que Leão XIII, influenciado pela ênfase da devoção a São José, ocorrida no pontificado de Pio IX, já na sua primeira Alocução ao Colégio Cardinalício (28/3/1878), coloca o seu pontificado sob “a potentíssima proteção de São José, celeste Patrono da Igreja”. Este mesmo Papa o invoca logo depois da invocação de Maria, como “seu puríssimo esposo”, e na sua Encíclica Rerum Novarum (1891) apresenta-o como aquele que qualifica humanamente Jesus, e que a partir do qual “Deus quis ser considerado Filho de operário”. Ainda Leão XIII dá o título de “Bem-aventurado” a São José na oração “Deus refugium nostrum et virtus”, a ser recitada depois da missa. Ele ainda aprova a reza do Ofício Votivo de São José às quartas-feiras, e estabelece que a sua festa seja de preceito duplo em alguns lugares da Itália.
Com a Carta Apostólica Neminem Fugit (14/06/1892), institui a “Pia Associação Universal das Famílias consagradas à Sagrada Família de Nazaré”, afirmando a participação íntima de São José à suprema dignidade da Sagrada Família.
Com a Encíclica Quamquam Pluries de 1889, lançada quando a Igreja passava por dificuldades de perseguição, Leão XIII estabelece uma nova iniciativa relativa a São José afirmando: “Já que é muito importante que o seu culto penetre profundamente nas Instituições Católicas e nos costumes, queremos que o povo cristão receba de nossa própria voz e autoridade todo o incentivo possível”. Esta Encíclica considera as razões pelas quais São José é tido como Patrono da Igreja: “sobretudo pelo fato que ele é esposo de Maria e pai Putativo de Jesus Cristo”. A Encíclica explica ainda que São José é partícipe da excelsa dignidade de Maria, Mãe de Deus, porque “entre a beatíssima Mãe de Deus e São José existe um verdadeiro vínculo matrimonial. E que São José supera entre todos em dignidade “porque por vontade de Deus, foi o Guarda e, na opinião de todos, o Pai do Filho de Deus”.
O papa vê assim a grandeza de São José em relação à sua paternidade porque Jesus se submeteu humildemente a ele, lhe obedeceu e para ele prestou aquela honra e respeito que cada filho deve ao seu Pai. Porque ele foi o testemunho da virgindade de Maria, o Guarda legítimo e natural da Sagrada Família, cuidando de Maria e Jesus, providenciando-lhes o sustento com seu trabalho, defendendo-os dos perigos, merece da Igreja toda a consideração.
Leão XIII por fim, convida a todos os cristãos de qualquer condição ou estado para confiar e abandonar-se à amorosa proteção de São José: sejam os pais de famílias, os esposos, os consagrados a Deus, os ricos, os pobres, os operários…
Pio X (1903 – 1944) em sua Encíclica inaugural “E Supremi Apostolatus” (4/10/1903), invoca a intercessão do castíssimo esposo da Mãe de Deus, Patrono da Igreja Católica. Ele também promulgou a indulgência às Ladainhas de São José em 18/3/1903. Com a mesma devoção seguirá o para Bento XV (1914-1922), o qual insere no Missal Romano um prefácio próprio de São José e concede indulgências especiais pela reza do Pequeno Ofício de São José. Em 25/7/1920 com o Motu Próprio “Bonum Sane”, enfatiza a necessidade e a eficácia de sua devoção como remédio dos problemas depois da guerra, e acrescentou depois em 1921, a Invocação “Bendito seja São José, seu santíssimo esposo” na oração “Bendito seja Deus”.
Pio XI (1922 – 1939) introduz a invocação a São José nas orações para os moribundos e também no rito da unção dos enfermos. Confia igualmente a São José a Rússia (19/3/1930). Na Encíclica “Divini Redemptoris” (19/3/1937), invoca o seu patrocínio na luta da Igreja contra o comunismo. Na Encíclica “Ad Sacerdotti Catholici” (20/12/1955), afirma que Jesus quis ser educado na casa de Nazaré por Maria e José, ambos virgens. Nas suas Alocuções exalta São José como Grande entre os Santos, superior a João Batista, pai da grande caridade, pai de todos na Igreja Santa de Deus, Onipotente na sua intercessão. Enfatiza ainda que a grandeza de seu ministério está em ser o guarda da pureza de Maria, o guarda da virgindade de Jesus e o tutor do mistério da Redenção. Com a mesma disposição seguira o papa Pio XII (1939- 1958) na Encíclica “Haurietis aquas” de 15 de maio de 1956, evidencia o amor de Jesus pelo “seu pai putativo José, ao qual obedecia sendo fiel colaborador no trabalhoso serviço de carpinteiro”. Apresenta ainda São José como modelo dos operários e em 1/5/1955 institui a festa litúrgica de São José Operário.
João XXIII (1958/1963) que foi um grande devoto de São José, fez questão de divulgar o seu amor por ele a todos. Ele afirma São José como: “O meu primeiro e predileto protetor”. O nomeia protetor do Concílio Vaticano II com a Carta Apostólica “Le Voci” (13/3/1961) e insere o seu nome no Cânon da Missa dispondo um altar dedicado a ele na Basílica do Vaticano, o qual tornou-se ponto de atração e de piedade. A razão deste altar ele mesmo a expressa: “para um acender-se, também no máximo Templo do Cristianismo a devoção a São José, protetor Sanctae Ecclesiae, Protetor do Concílio do Vaticano II”(19/3/1972). Seguirá no mesmo caminho de amor ao protetor da Santa Igreja de seu predecessor o papa Paulo VI (1963-1978), o qual na abertura da segunda sessão do Concílio Vaticano II, (29/9/1963) invoca a presença de São José como Patrono do próprio Concílio. Na “Lumen Gentium” (21/11/64) aprova que na celebração Eucarística seja venerada com memória “também aquela do Bem-aventurado José”. Promulga as edições do Missal Romano e da Liturgia das Horas onde estão presentes os textos das missas e dos Ofícios da Sagrada Família; da missa de São José, de São José Trabalhador e o novo prefácio de São José. As suas homilias sobre São José são admiráveis em seus conteúdos.
Por fim o papa João Paulo II (1978) desde a sua primeira Encíclica “Redemptor Hominis” (4/
A FUNÇÃO DE SÃO JOSÉ NA ENCARNAÇÃO E A SUA MISSÃO NA ÓTICA DO MAGISTÉRIO (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 27)
Professamos que Jesus é o Filho de Deus, o qual foi concebido no seio de Maria por obra do Espírito Santo. Professamos também Maria como esposa de José, e José como Pai de Jesus e aquele que deu-lhe a genealogia, pois Jesus é “Filho de Davi”, porque também o é José (Mt 1,20). Por isso a Redemptoris Custos no Nº 7 fala que “se por um lado é importante professar a concepção virginal de Jesus, por outro, não é menos importante defender o matrimônio de Maria com José, porque é deste matrimônio que depende, juridicamente a paternidade de José. Daqui se compreende a razão por que as gerações são enumeradas segundo a genealogia de José”. A realidade da história da encarnação exigia que Jesus nascesse de uma Virgem esposa e que, consequentemente, fossem assumidas as instituições fundamentais do matrimônio, da paternidade e da família. Assim, a união de Maria e José efetuou a natureza do matrimônio realizado na indivisível união dos ânimos, na união dos corações e no consentimento. A Paternidade de José tem plenamente a autenticidade da paternidade humana e da missão paterna da família. A família de José e de Maria, é o protótipo e o exemplo para todas as famílias.
É a realidade histórica da humanidade de Jesus que teve necessidade do exercício da paternidade de José para ser adequadamente inserida na ordem humana, social e religiosa que compreendeu a inscrição anagráfica, a circuncisão, a imposição do nome, a oferta do primogênito, a defesa, o sustento e a educação de Jesus enquanto verdadeiro homem. Tudo isso é conseqüência da União Hipostática, onde Jesus assumiu tudo o que é humano. De fato, José “deu a Jesus o estado civil, a categoria social, a condição econômica, a experiência profissional, o ambiente familiar, a condição humana” (Paulo VI – Homilia 19/3/1964).
Assim, José “foi chamado por Deus para servir diretamente a Pessoa e a missão de Jesus, mediante o exercício da sua paternidade: desse modo, precisamente, ele cooperou no grande mistério da Redenção, quando chega a plenitude dos tempos, e é verdadeiramente ministro da salvação” (RC 8). José não é portanto uma figura decorativa de presépio, mas juntamente com Maria foi querido por Deus com uma tarefa precisa, cujo conhecimento é indispensável para compreender o próprio mistério da redenção que tem o seu fundamento no mistério da Encarnação.
A presença de São José na História da Salvação está ligada ao plano da Encarnação, que decretou a pertença do Verbo de Deus à humanidade através de sua inserção escondida na instituição da família .
A escolha por parte de Deus da família de Abraão será historicamente sempre mais determinada no seio da família de Davi e por ela, à família de José “Filho de Davi” (Mt 1,20).
A imagem de José, por isso, é tão ligada à genealogia messiânica, a ponto de representar a descendência última e fatídica da estirpe de Davi (Paulo VI, Discurso de 19/03/69). José foi, assim, o término da “sublime eleição” por parte de Deus a fim de ser entre todos os homens o “pai putativo” do Filho Unigênito e “verdadeiro esposo da Rainha do mundo e Senhora dos Anjos”. (SCR, Inclytus Patriarcha Joseph, 10/09/1847). Estes dois títulos fazem de José uma figura inalcançável na ordem da santidade, por causa das “graças singulares e dos celestes com que Deus muito o enriqueceu, na perspectivas dos encargos a ele confiados. E, de fato, José cumpriu à perfeição o papel a ele confiado e a missão recebida, colocando-se sem reservas, “em tudo, à disposição da vontade de Deus com disposição que nem se pode descrever” (1.c). A missão de José é “única”, grandiosa: custodiar a virgindade e santidade de Maria; cooperar na encarnação divina e na salvação dos homens. Toda santidade de José consiste exatamente no cumprimento fiel e perfeito desta missão tão grande e tão humilde, tão nobre e tão escondida, resplandecente e ao mesmo tempo misteriosa” (Pio XI, Discurso de 19/03/1928).
Desde o momento em que o Anjo revela a José o seu ministério (Mt 1,21), sua vida não tem outro sentido nem outra razão senão servir ao Menino o futuro Redentor. Paulo VI exprime tudo isso de forma muito incisiva: “São José colocou logo à disposição dos desígnios de Deus toda a sua liberdade, sua legítima vocação humana, a sua própria felicidade conjugal, aceitando da família a condição, a responsabilidade e o peso, renunciando porém por um incomparável amor virginal ao amor conjugal que naturalmente alimenta e sustenta a família, para oferecer assim com sacrifício total a sua existência às imponderáveis exigências da vinda do Messias” (Paulo VI, Discurso de 19/03/1969).
Característica de São José é “ter feito de sua vida um serviço e um sacrifício ao mistério da Encarnação e à missão redentora que lhe vai unida; ter usado a autoridade legal, que lhe cabia sobre a Sagrada Família, para fazer-lhe dom total de si próprio, de sua vida e de seu trabalho; ter convertido sua vocação humana ao amor doméstico em sobre-humana de si, de seu coração e de toda sua qualidade, no amor posto a serviço do Messias brotado em sua casa” (Paulo VI, Discurso de 19/03/1966).
Se entre as figuras evangélicas destacam-se, por sua especial missão, São João Batista e São Pedro, o primeiro por ter sido precursor de Jesus e o segundo por ter recebido dele em herança a Igreja, “a pessoa e a missão de José, recolhida e silenciosa, praticamente despercebida e desconhecida por sua humildade”(Pio XI, 1.c.), revela-nos um tipo de ministério tanto mais importante quanto mais escondido, tanto mais necessário quanto menos à vista.
Retornando à imagem evangélica da lâmpada doméstica, que difunde sua luz modesta e tranqüila, mas providencial e benéfica no interior da casa, Paulo VI afirma que “José é esta luz a difundir seus raios benéficos na casa de Deus, que é a Igreja; enche-a com as humaníssimas e inefáveis lembranças da vinda neste mundo do Verbo de Deus, feito homem por nós e como nós, e vivido sob a proteção, a guia e a autoridade do pobre carpinteiro de Nazaré. Ele é a luz que ilumina com seu incomparável exemplo, aquele que é próprio do Santo, entre todos afortunados por sua grande comunhão de vida com Jesus e Maria, de seu serviço ao Cristo, de seu serviço por amor” (Paulo VI, Discurso de 19/03/1966).
Pode-se afirmar que o exemplo de São José, a lição que nasce de toda a sua vida foi de grande valia na Igreja desde sempre. Paulo VI chega a afirmar que “São José é o tipo do Evangelho que Jesus irá anunciar como programa para a redenção da humanidade; é o modelo dos humildes que o cristianismo eleva a maiores alturas; é a demonstração de que para sermos bons e autênticos discípulos de Cristo não precisa grandes coisas, mas são suficientes e necessárias as virtudes comuns, humanas, simples nas verdadeiras e genuínas” (Discurso de 19/03/1969).
Para Pio XI, “nenhum operário foi tão perfeitamente e profundamente imbuído (do espírito evangélico) como aquele que viveu com Cristo na maior intimidade e comunhão de família e de trabalho, seu pai putativo, São José” (Discurso aos Trabalhadores Católicos Italianos, 11/03/1953; conf. também, 1º/05/1955).
Nos exemplos de São José “é claro como Deus espera de cada um de nós aquilo que Ele tem todo o direito de esperar, ou seja, a resposta fiel e generosa aos seus chamados, às suas vontades, aos seus desejos, o aproveitamento fiel e diligente do conjunto de dons naturais e sobrenaturais que Ele mesmo distribuiu a cada um , segundo as condições diferentes de vida, segundo os diferentes deveres do estado de vida que a cada um reservou” (Pio XI, 1. c). “Da pessoa de São José vem para todos a admoestação mais oportuna, junto com aquele sentido de moderação e paciência, aquele amor ao silêncio e ao sacrifício, que dão firmeza às instituições de piedade, assistência mútua e elevação espiritual e material.
“A tríplice concupiscência: antes de mais nada, o dinheiro tem um terrível poder de sedução, sede de domínio é inextinguível ; os prazeres da vida levam para a condescendência e a tibieza. Podemos dizer o que quisermos, mas quem desejar se salvar, encontrar abrigo seguro na casa do Pai e guardar intactos os dons preciosos de natureza e graça recebidos de Deus, só tem a fazer uma coisa: espelhar-se na doutrina imperecível do Evangelho e da Igreja, da qual a vida escondida de São José oferece um exemplo atraentíssimo” (João XXIII, Discurso de 19/03/196l).
“São José é de poucas palavras, mas de vida intensa, não se omitindo a responsabilidade alguma recebida de Deus. Ele é exemplo de bela disponibilidade ao chamamento divino, de tranqüilidade em todos os acontecimentos de confiança plena atingida a uma vida de fé e caridade sobrenaturais e ao instrumento eficaz que é a oração… Quem tem fé não treme, não se afoba, não amedronta o próximo” (João XXIII, Discurso de 17/03/1963).
SÃO JOSÉ E O EVANGELHO DO TRABALHO (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 28)
O Papa Leão XIII com a Encíclica Quamquam Pluries (1889) exprime um sentimento paterno para os trabalhadores preocupando-se com a situação deles. O ponto de referência é o mistério da encarnação, que coloca em realce a dignidade do trabalho através de São José. “Os proletários, os operários e quantos são desafortunados… devem recorrer a São José e dele tomarem a sua imitação. Ele, se bem que da estirpe real, unido em matrimônio com a mais santa e excelsa entre as mulheres, e pai putativo do Filho de Deus, passou a sua vida no trabalho… O trabalho operário, longe de ser desonra…”. Da mesma forma, a Encíclica Rerum Novarum (1891), também de Leão XIII, afirma que Jesus “Embora sendo filho de Deus e Deus ele próprio, quis ser visto e considerado Filho do carpinteiro, e não negou de transcorrer uma grande parte da sua vida no trabalho manual”.
A Exortação Apostólica Redemptoris Custos (nº 22) evidencia claramente a missão de São José quando afirma que “Graças ao seu banco de trabalho, junto do qual exercitava o próprio ofício juntamente com Jesus, José aproximou José aproximou o trabalho humano ao mistério da redenção”.
A Encíclica Laborem Exercens de João Paulo II, focaliza que o testemunho da pregação apostólica expresso nos evangelhos, realça o fato de que Aquele que sendo Deus, tornou-se semelhante a nós em tudo (Hb 2,17), menos no pecado, dedicou a maior parte dos anos de sua vida sobre a terra ao trabalho manual, junto a um banco de carpinteiro (nº 6). Neste sentido “São José tem uma grande importância para Jesus, se verdadeiramente o Filho de Deus feito homem o escolheu para revestir a si mesmo de sua aparente filiação… Jesus o Cristo, quis assumir a sua qualificação humana e social deste operário (Paulo VI – Alocução 19/3/1964). Jesus “não se serviu das realidades humanas apenas para manifestar-se, mas uniu-se a elas para santificá-las com sua humanidade” (S Th, III q.8,a.1). Porque o trabalho constitui uma dimensão fundamental da existência humana, Jesus escolheu esta dimensão para qualificar o seu estado social.
José, pelo fato de ser unido em matrimônio com Maria, e pela transmissão do título de Filho de Davi a Jesus, deu além do título davídico, indispensável para o reconhecimento de Jesus como Messias, também aquela dimensão humana que o caracteriza, ou seja, “O estado civil, a categoria social, a condição econômica, a experiência profissional, o ambiente familiar e a educação humana”. Portanto, Cristo quis assumir a sua qualificação humana e social de José, o carpinteiro de Nazaré.
Escolhendo de ser considerado Filho de José (Lc 3,23), Jesus herdou, como afirmamos, o título de Filho de Davi, mas contemporaneamente assumiu também o título de “Filho do Carpinteiro”(Mt 13,55), e na carpintaria de Nazaré trabalhou com mãos de homem (GS 22), santificando o trabalho.
Sendo que Jesus condividiu o seu trabalho com José na carpintaria, então nenhuma outra pessoa, depois de Maria, esteve tão próximo das mãos, da mente, da vontade e do coração de Jesus quanto José; por isso, Pio XII afirma que ele foi o Santo no qual penetrou grandemente o espírito do Evangelho.
Não é ele o filho do carpinteiro? Esta interrogação que os habitantes de Nazaré fazem acerca de Jesus me chama muito a atenção. José de Nazaré não era um “Zé Ninguém”… Mas era “O carpinteiro”. Ser reconhecido por uma característica é algo que pode ser bom ou ruim: bom se a característica é o trabalho, como é o caso de São José, ou então uma qualidade humana… Ruim se é um vício, um defeito. Podemos agradecer o Senhor por não dar como pai a Jesus um “desocupado” um “farrista” um “embriagado”… Mas sim “o Carpinteiro”
Como sabemos, um carpinteiro, numa cidade pequena como Nazaré, naqueles tempos tinha diversas funções e não trabalhava somente com madeira, mas também com ferro (era ferreiro), preparava alicerces de casas, planejava e fazia valas para os mais diversos fins; quem sabe era até pedreiro… Era o Homem do Trabalho.
E o trabalho dignifica o homem, como sempre nos disse a Palavra de Deus e como sempre diz a Igreja. Ser trabalhador é cooperar na criação, é continuar a criação e fazer a felicidade presente no mundo. No trabalho deveríamos exercer toda a nossa liberdade de filhos de Deus, criados à sua imagem e semelhança e transformando o mundo.
O valor do trabalho não está simplesmente nele mesmo. Na verdade, podemos dizer que o trabalho é um “termômetro do homem”. Ele o qualifica como alguém que constrói a liberdade e a paz ou alguém que não se preocupa por estes valores.
Voltando à realidade de José, o carpinteiro, podemos dizer que Jesus realizou a redenção em três etapas: a primeira, que nos interessa foi a sua vida escondida, na oficina de Nazaré; a segunda, na vida pública, enquanto pregava e anunciava o Reino de Deus; e a terceira no Mistério Pascal em sua Paixão, Morte e Ressurreição. Interessa-nos aqui a primeira; a vida oculta, especialmente junto ao pai carpinteiro que, certamente, olhava muitas vezes para seu filho e lembrava-se do que ouvira de Simeão – que aquele Menino iria ser grande. Se Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus, e dos homens era José, junto com Maria, que o acompanhava. Certamente José tinha a presença mais marcante, pois a sociedade do tempo confiava a educação do filho homem ao pai. José educou o Filho de Deus ensinando-o a ser homem. A oficina de Nazaré teve grandes momentos de trabalho e santidade e nela Jesus, ao lado de José, iniciou a salvação da humanidade.
Jesus desejou ser chamado filho do carpinteiro, operário como seu pai. A Igreja viu nestes acontecimentos o reconhecimento de imensos valores humanos e cristãos no trabalho. Se na criação houve a imposição da lei do trabalho, foi naquela carpintaria que o Filho de Deus e o mais feliz dos homens mostraram o valor desta lei. São José partilhou a vivência do trabalho que o Redentor oferece aos homens. Os valores das coisas são internos a elas, na força e no carinho que cada um coloca de si. Portanto, imaginemos os valores que aquelas coisas que José e Jesus construíam… Imaginemos o valor do trabalho que eles faziam e do trabalho em si mesmo, que eles dignificaram.
SÃO JOSÉ HOMEM DO SILÊNCIO E DA CONTEMPLAÇÃO (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 29)
A Exortação Apostólica Redemptoris Custos reserva uma reflexão longa sobre o primado da vida interior afirmando que também se “os Evangelhos falam exclusivamente daquilo que José fez; no entanto, permitem-nos auscultar nas suas ‘ações’, envolvidas pelo silêncio, um clima de profunda contemplação” (nº 25). Às vezes, por não termos nenhuma palavra de José nos Evangelhos o transformamos em um mudo, entretanto o silêncio que o acompanha revela, conforme em Santa Tereza do Menino Jesus, o seu perfil interior. Deste seu perfil interior, Jesus e Maria tiveram participação e a Casa de Nazaré tornou-se assim a escola do Evangelho, um Templo de graça. Ali Jesus submeteu-se a José e Maria, e esta submissão foi o modo com o qual Jesus santificou os deveres de família e do trabalho.
Uma das considerações mais comuns que fazemos a respeito de São José é de que ele é o Homem do Silêncio. É assim que ele aparece nos Evangelhos. Os relatos dos evangelistas que referem poucas palavras pronunciadas por Maria, não conservaram nenhuma de José, como se o silêncio fosse uma característica de sua personalidade.
Quando José percebe que Maria está grávida, vive em silêncio o dilacerante problema, pensando em deixá-la secretamente e o evangelista não nos relata um diálogo com Maria para esclarecer a situação, mas simplesmente uma aparição do Anjo que dá uma explicação serenando o ânimo de José.
Enquanto o Anjo lhe pede de tomar Maria como sua esposa ele não diz uma palavra. A sua resposta consistiu em conformar-se com os desígnios de Deus: “José fez como lhe tinha ordenado o Anjo do Senhor e tomou consigo a sua esposa” (Mt 1,24), sua resposta foi um comportamento dócil no cumprimento à vontade divina.
Nos episódios do nascimento e apresentação de Jesus ao Templo, José participa com todo o coração dos acontecimentos dos quais é testemunha, mas sem uma palavra de sua boca. Mesmo nestas circunstâncias em que podia se esperar uma manifestação de seus sentimentos, ele conserva o silêncio. Quando encontra Jesus sentado no meio dos doutores no Templo, deixa a palavra à Maria para pedir uma explicação.
O silêncio de José não é pobreza de espírito. É um silêncio que acolheu o mistério da presença do Verbo feito carne e que apreciou a sua riqueza. Ele era consciente de que o mistério no qual foi introduzido com Maria era inexprimível. Ele é o exemplo do homem cuja riqueza interior se desenvolve silenciosamente.
José com sua atitude convida-nos hoje a apreciar o silêncio, a reservar momentos de silêncio em nossa vida para podermos melhor abrir ao mistério divino que dá o sentido para nossa vida. Mediante o silêncio ele pode viver intensamente unido a Jesus e Maria. Vivendo junto com ambos, em silêncio se deixava penetrar de suas presenças e se enriquecia dos tesouros neles contidos.
O silêncio era para ele o melhor modo de viver o amor mais profundo. Ele preencheu o próprio silêncio com tudo aquilo que lhe era dado pela presença do Salvador e de sua Mãe. Era um silêncio atento e tudo aquilo que significava esta presença, e sempre aberto para receber tudo aquilo que se lhe apresentava.
A todos àqueles que olham para José, ele não cessa de indicar a grandeza do silêncio: silêncio para acolher Jesus e a sua revelação para viver em comunhão com a alma meditativa de Maria, para deixar-se seduzir pelo amor de Deus.
SÃO JOSÉ, PATRONO DA BOA MORTE (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 30)
A Exortação Apostólica Redemptoris Custos não acena a morte de Jesus, também se a piedade dos fiéis sempre foi sensível neste ponto. Por que este importante documento sobre José não faz referência à sua morte? Porque a missão de São José na vida de Cristo e da Igreja, é apresentada por este documento pontifício de uma maneira rigorosamente cristológica e eclesiológica, que não deixou espaços, também se legítimos, para fatos que não têm uma ligação neste campo.
A Redemptoris Custos dá atenção somente aos mistérios da vida de Cristo que pertencem à Economia da salvação, conforme é também a indicação da Dei Verbum (nº 2). Desta forma, a Redemptoris Custos evidencia a tarefa de “ministro da salvação” confiada por Deus a José no plano da encarnação. Isto não significa que a morte de José não tenha o seu valor e não deva ter lugar na piedade dos fiéis. Já que sobre o tempo em que ele viveu e sobre a sua morte, nem os evangelhos, nem os Concílios, nem os pronunciamentos da Igreja ou da Tradição, fazem referências. Portanto, deve-se buscar uma opinião que seja racional e prudente, conforme acenou João de Cartagena.
Em vista disso, São Bernardino de Sena afirma: “Deve-se crer piamente que durante a sua morte (de José) estiveram presentes Jesus Cristo e a Sacratíssima Virgem, sua Esposa” (Sermo de S. Joseph Sponso B.M. Virginis, art. 2, nº 52). Afirma ainda que a sensibilidade religiosa levou a piedade cristã a considerar desde os tempos mais antigos a morte de São José como “Um plácido sono entre os braços da Virgem e da casta prole”.
Entre os apócrifos encontramos a “História de José o Carpinteiro” do século II, o qual foi escrito para o uso litúrgico dos judeus-cristãos. Neste faz-se uma narrativa colocando na boca do próprio Jesus, o qual teria contado aos apóstolos, reunidos no Monte das Oliveiras, toda a vida de José, inclusive a sua morte. O Dominicano Isidoro Isolani tornou-a conhecida através de sua obra “Summa de donis S. Joseph”, publicada em 1522. A narrativa assim exprime: “Sentei-me na cabeceira de José e minha mãe sentou-se aos seus pés… Vieram Miguel e Gabriel ao meu pai José. Assim expirou com paciência e com alegria…”. Ainda neste relato Jesus faz uma promessa a quem praticar a devoção para com São José: “Eu abençoarei e ajudarei cada pessoa da Igreja dos justos que no dia de tua memória, Ó José, oferecer um sacrifício a Deus. E quem meditar sobre tua vida, sobre teus cansaços, sobre teu Trânsito deste mundo, quando este morrer, eu cancelarei do livro os seus pecados… Na casa onde houver uma lembrança de Ti, não entrará a doença e nem a morte improvisamente”.
A cena do “Transito de São José” está presente na iconografia no final do século XVI e se difundiu rapidamente, surgindo várias Confrarias para promover a “festa do Trânsito”. Uma das mais conhecidas é a “Pia União do Trânsito de São José para a salvação dos moribundos” instituída por Pio X em 1913 junto a Igreja de San Giuseppe Al Trionfale” em Roma. Também o papa Bento XV com o motu próprio “Bonum Sane” (25/7/1920), promoveu esta mesma devoção: “sendo que ele é tido merecidamente como o mais eficaz protetor dos moribundos, tendo expirado com a assistência de Jesus e de Maria”. O mesmo papa aprovou em 1920, das missas votivas de São José, um para os moribundos e outra para a boa morte. Na Ladainha de São José aprovada por São Pio X aos 18/3/1909 tem a invocação pelos moribundos.
Pio XI, em agosto de 1922, dispunha que no ritual Romano fosse colocado no rito do sacramento da unção dos enfermos, o nome de São José e as palavras: “São José, dulcíssimo protetor dos moribundos, fortaleça a tua esperança”, assim como a oração: “A ti recorro, São José, protetor dos moribundos; e a ti, em cujo bem-aventurado Trânsito te assistiram vigilantes Jesus e Maria, fervorosamente recomendo pelo precioso dom de ambos, a alma deste servo empenhado na luta extrema, a fim de que seja livre, pela tua proteção das insídias do diabo e da morte eterna, e mereça chegar às alegrias eternas”. Em vista disso, como já acenamos na consideração sobre a sua morte, ele tornou-se o patrono da boa morte.
SÃO JOSÉ, PROTETOR E PRESENTE NA VIDA DA IGREJA (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 31)
O papa João Paulo II escreveu na Exortação Apostólica Redemptoris Custos, que a Igreja do nosso tempo tem numerosos motivos para rezar e pedir a proteção de São José (nº 31). Também o Papa VI afirmava que a Igreja queria a proteção de São José “pela indestrutível confiança naquele ao qual Cristo quis confiada a proteção de sua frágil infância, desejará continuar do céu a sua missão tutelar na guia e na defesa do próprio corpo místico de Cristo…” (Alocução 19/3/1965).
Na verdade, a busca da proteção de São José pode ser embasada em duas vertentes: Aquela da experiência vivida e aquela da doutrina. As duas se completam, pois de fato, como afirma a Lumem Gentium no nº 12, antes que a teologia chegue a conhecer e a expor adequadamente a fé, o povo de Deus, graças ao senso de fé, suscitado e apoiado pelo Espírito da verdade, já penetrou sob a guia do sagrada magistério, na própria fé aplicando-a à vida.
É impossível enumerar quantos fiéis e Santos foram devotos de São José. Basta lembrar que até o final do século passado surgiram mais de duzentos Institutos de vida consagrada e Sociedades de vida apostólica que têm o nome de São José. São muitíssimas as Confrarias, as Associações, as Cidades, as Nações e as Dioceses que têm o nosso Santo como patrono. E o que dizer da devoção privada das famílias e das pessoas?
Sendo os Santos os nossos intercessores, mais eles estão unidos a Deus, mais as suas intercessões são eficazes, assim, o Patrocínio de São José só é inferior àquele da Mãe de Deus. Como disse João de Cartegena (+1618): “Certamente todos os santos são servos de Deus, mas a nenhum, senão São José, diz respeito àquelas palavras da Virgem: ‘Teu pai e eu ansiosos te procurávamos’. Se portanto Deus faz a vontade dos servos que o temem, quanto mais fará a vontade de José, ao qual ele escolheu como esposo de sua Mãe, seu pai legal e nutrício e sob a sua tutela e casa transcorreu muitíssimos anos da infância e a vida de sua juventude” (De cultu et devotione erga B. V. ac D. Joseph, 1 XVIII, Hom XIII).
Ainda João de Cartagena continua enfatizando o poder de intercessão de São José tendo a certeza de que Cristo em consideração ao que recebeu dele, não deixará de atender a sua intercessão em favor de seus devotos. A sua intercessão, pelo fato do liame forte que teve com ele na terra, jamais recebe uma negativa, e por isso esta supera a intercessão de qualquer outro Santo. Esta sua posição é também compartilhada por Santo Tomás, o qual afirma: “Alguns santos têm o poder de socorrer em alguns casos, mas ao santíssimo José é concedido de socorrer em cada necessidade e dificuldade e de defender, cuidar e seguir com paterno afeto, todos aqueles que a ele com piedade se dirigem”.
Diante de tão potente patrocínio é de supor em São José uma dignidade e mérito sem comparação, como condensa esta convicção a idéia descrita por Virgilius: Todos os Santos, dentre os quais os anjos e os serafins pedem ao Cristo Senhor suplicando, como servos, José ao contrário, com uma certa autoridade, pede como seu pai. Dado que enquanto estava na terra Cristo lhe obedecia, assim no céu, por nada esqueceu o que recebe dele, atendendo o seu pedido como ao pai, com filial afeto… E porque o Cristo Senhor nada lhe negará, qualquer que seja o seu pedido, José é justamente proclamado patrono e intercessor universal para todas as necessidades em que lhe recorremos (Vigilius Seldmayer, Theologia Mariana, Dissertatioes de S. Joseph, Wessebrom 1758).
Vale também aqui o testemunho de Santa Tereza: “Para alguns santos parece que Deus concede de socorrer-nos nesta ou naquela necessidade, enquanto que experimentei que ao glorioso São José estende o seu patrocínio sobre todos. Com isso o Senhor quer dar-nos entender que naquele modo em que era-lhe submisso na terra, onde ele como pai putativo mandava, da mesma forma, é agora no céu em fazer tudo o que lhe pede”.
O senso da fé do povo e o estudo profundo dos teólogos encontraram o pleno consenso do Magistério da Igreja, basta lembrar o decreto Quemadmodum Deus de Pio IX de 1870 que declarava São José Patrono da Igreja Universal e também a Encíclica Quamquam Pluries de Leão XIII de 1889. Vale lembrar ainda a Redemptoris Custos de João Paulo II de 1989, a qual contempla a figura e a missão de São José na vida de Cristo e da Igreja, fazendo assim uma declaração explícita da atualidade de São José, cuja missão não é apenas histórica, ou seja, limitada a um tempo e espaço, mas podemos dizer “meta-histórica” porque ligada ao mistério da encarnação do Filho de Deus e portanto da obra divina da Redenção e por isso se estende para sempre.
Paulo VI afirma que “José é esta luz que difunde os seus raios benéficos na casa de Deus”, ou seja, na Igreja. Ele é a luz que ilumina com seu incomparável exemplo, aquilo que caracteriza o santo, através do seu serviço a Cristo e da sua disponibilidade por amor. Podemos afirmar que o exemplo de José e as lições que jorram de sua vida são uma escola para toda a Igreja, justamente porque a sua missão é única e grandiosa, afinal é a missão de cuidar do Filho de Deus, Rei do mundo; missão de guardar a virgindade e santidade de Maria; missão de cooperar, sendo chamado para participar do grande mistério escondido nos séculos, da encarnação divina do Filho de Deus e da salvação da humanidade.
Toda a santidade de José está justamente no cumprimento fiel de sua missão tão grande, mas também tão humilde, tão alta, mas também tão escondida, tão luminosa, mas também tão envolvida na obscuridade. Desde o momento que José recebeu de Deus através do anjo, a sua vocação, ele colocou-se imediatamente à disposição dos desígnios de Deus com toda a sua liberdade, aceitando as condições, a responsabilidade, o peso desta missão e oferecendo com sacrifício toda a sua vida diante das exigências da vinda do Filho Deus em sua família.
José fez, portanto de sua vida, um sacrifício ao mistério da encarnação e da missão Redentora e tudo isso de uma maneira escondida, humilde, silenciosa e quase imperceptível. Por causa desta sua maneira de ser e aceitar os planos de Deus a seu respeito, ele é, como já lembramos na afirmação do Papa Paulo VI, “uma luz que difunde os seus raios benéficos para toda a Igreja. Ele é o tipo do evangelho que Jesus anunciará como programa para a redenção da humanidade, é o modelo dos humildes que o cristianismo eleva para grandes destinos, é a prova de que para ser bons e verdadeiros discípulos de Cristo, não é necessário fazer coisas extraordinárias, mas bastam a prática de virtudes comuns, humanas e simples, contanto que sejam autênticas” (Paulo VI Allocuzione de 19/3/1969).
São José, no exercício de seu ministério, fala pouco, mas vive intensamente, não se esquivando de qualquer responsabilidade que a vontade de Deus lhe impõe. Ele oferece um exemplo atraente de disponibilidade à sua divina vocação, um exemplo de calma em cada acontecimento, de plena confiança, permeado de uma vida de profunda fé e caridade e do grande meio da oração, como muito bem nos ensina o papa João XXIII.
NATUREZA E RAZÕES DA PRESENÇA DE SÃO JOSÉ NA VIDA DA IGREJA (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 32)
Se São José teve um relacionamento pessoal e direto com Cristo e com sua missão redentora, é evidente que também este deve estender-se para a Igreja que é o prolongamento de Cristo no mundo. Justamente por isso os bispos e superiores de várias ordens religiosas pediram além de um culto especial na liturgia, que também “o Santo ecumênico Sínodo Vaticano decretasse que São José, ao qual Deus tinha confiado a guarda da Sagrada Família, fosse declarado Primeiro Patrono da Igreja depois da Virgem Santíssima” (Ci prien Macabiau – De cultu S. Josephi, Sponsi Virginis Mariae ac Christi Parentis amplificando Postulatum, Paris 1908 pg 3-15).
Na verdade este Concílio, devido às situações políticas, terminou abruptamente e não houve tempo para tratar deste pedido que fora firmado por 38 dos 42 cardeais presentes no Concílio, entre os quais, aquele que depois foi o papa Leão XIII e por 217 bispos. Mas aos 8 de dezembro de 1870 o Papa Pio IX com o Decreto Quemadmodum Deus proclamou São José como Patrono da Igreja Universal Católica. Neste Decreto o Papa lembra a eleição de São José como guarda dos tesouros mais preciosos de Deus, Jesus e Maria, e que ele como pai abraçou e beijou com afeto paterno, e nutriu com especialíssima solicitude a Jesus e que por tal sublime dignidade que Deus concedeu-lhe, a Igreja lhe rende honras somente inferiores a Maria. Lembra que muitos prelados e fiéis tinham pedido de que fosse declarado Patrono da Igreja durante o Concílio Vaticano I e o papa quis atender o desejo dos solicitantes declarando-o solenemente Patrono da Igreja Católica (ASS 6 [1870] 193-194).
Alguns anos depois, Leão XIII, aquele que no Concílio Vaticano I tinha assinado a petição para a declaração do patrocínio de São José na Igreja, publicou a Encíclica Quamquam Pluries, em 15 de agosto de 1889. Nela ele diz: “São José é com título próprio, Patrono da Igreja, a qual dele espera muitíssimo a defesa e o patrocínio, porque ele foi o esposo de Maria e pai, como era tido, de Jesus Cristo. Disso lhe advém dignidade e graça, santidade e glória… A casa divina, a qual São José preside com pátria potestade, contém o germe da incipiente Igreja. A Virgem Santíssima enquanto mãe de Cristo, é também mãe de todos os cristãos, porque os gerou sobre o Calvário entre as dores do Redentor; e Jesus é irmão como o primogênito de todos os cristãos, por adoção e redenção. Em tudo isso devemos ver a causa pela qual, com título singular, ao beatíssimo Patriarca é confiada a multidão da qual é composta a Igreja, o que quer dizer, esta família inumerável e presente em todo o mundo, sobre a qual, por ser ele esposo de Maria e pai de Cristo, exercita uma autoridade em certo sentido paterna. É portanto justo e muito conveniente para a dignidade de São José que como em tempos passados considerou sua função de defender santamente a família de Nazaré em todas as suas necessidades, que agora proteja a Igreja de Cristo com seu celeste patrocínio”. (ASS 22 [1889] 67).
Fundamentando-se nos documentos pontifícios é evidente que a maior razão para o Patrocínio de São José é devido ao fato de que ele foi o pai e Jesus aqui na terra e portanto é também o pai da Igreja, seu Patrono e Protetor, porque a Igreja é o corpo de Cristo, inseparável dele. Portanto, Leão XIII ao colocar o seu pontificado ao patrocínio de São José, não teve intenção simplesmente de dar-lhe uma honra, mas fazer um reconhecimento por aquilo que ele é.
São José não é simplesmente Patrono da Igreja, mas também de cada fiel; de fato, o papa no seu Decreto ensina que a sua proteção é para todos os fiéis. Isto ele exprimiu muito bem de outra forma na oração que compôs para que fosse rezada no mês de outubro depois da reza do terço, com estas palavras: “Protegei cada um de nós com vosso constante patrocínio, a fim de que ao vosso exemplo e sustentados pelo vosso auxílio possamos viver virtuosamente, morrer piedosamente e obter no céu a eterna bem-aventurança” (ASS 22 [1889] 117-118).
Em decorrência disso, assim como chamamos Maria “Nossa mãe Celeste”, devemos também chamar São José “nosso pai”, como fazia Santa Tereza de Jesus que o chamava: “Meu pai e senhor São José”. Naturalmente face a esta sua prerrogativa, Pio IX com o Decreto Inclytus Patriarcha Joseph em 1847, tinha instituído a festa do Patrocínio para a Igreja e São Pio X a quis como festa de primeira classe. (cf. Manuele Decretorum Sanctae Rituum Congregationis, Ratsbonae 1873, 441 nº 2168 e também o Decreto da S.R.C. Evulgato motu próprio, 24 julho 1911 – ASS 3 [1911] pg 35-351). Mas a Congregação para os Ritos em abril de 1956 aboliu esta festa substituindo-a por aquela de São José Trabalhador e somente acrescentou na festa de 19 de março o título de São José Patrono da Igreja Universal, mas este título também hoje não existe mais nos calendários litúrgicos.
A presença de São José na vida da Igreja está ligada também ao seu poder de intercessão, pois na verdade sendo ele presente na vida da Igreja e dos cristãos, pode-se concluir consequentemente o seu poder de intercessão, mesmo porque a própria Igreja acredita na intercessão dos santos, ou seja, na eficácia poder de súplica deles diante de Deus e inclusive colocando a pessoa de Maria como “Onipotência suplicante”. Em vista disso, o Papa Pio XI numa mensagem aos casais aos 19 de março de 1938, intercede a São José para que “com a sua paterna providência e com a sua intercessão onipotente, seja de ajuda a vós e às vossas famílias”. Um exemplo de confiança no poder de intercessão de São José é-nos dado por Santa Tereza de Jesus quando afirma: “Parece que o Senhor tenha dado aos outros santos a graça de socorrer-nos em qualquer necessidade particular, mas o glorioso São José, sei por experiência que nos socorre em todas…”
Muitos escritores afirmam que sendo José o chefe da Sagrada Família e por vontade expressa de Deus, esposo e pai, Maria e Jesus o obedeceram na terra com espontaneidade e afetuosa submissão, e agora no céu ele continua a gozar destes títulos de esposo e pai, e por isso pode-se supor que Jesus e Maria continuam com a mesma atitude de consideração e respeito a ele como tinham aqui na terra Santa Tereza d’ Ávila compartilha desta idéia chegando a afirmar que “no céu se faz o que São José pede”.
A DIGNIDADE, A SANTIDADE E AS VIRTUDES DE SÃO JOSÉ (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 33)
A Igreja nunca encontrou dificuldade em propor São José como exemplo e modelo para todos os cristãos. De fato, o Papa Leão XIII, afirma que “ Em São José os pais de família têm o mais sublime modelo de paterna vigilância e prudência, os esposos um perfeito exemplo de amor, de concórdia e de fé conjugal, os virgens um tipo de defensor, juntamente com uma virgindade integral”… Os operários devem, por um direito que lhes é próprio, tomar dele o que devem imitar…” (Leão XIII, Quanquam Pluries 15, agosto 1889).
São José pertence à classe operária, experimentou o peso da pobreza, para si e para a sua família. Com uma vida de fidelíssimo cumprimento do seu dever, deixou o exemplo para todos os que devem ganhar o pão com o trabalho das próprias mãos.
Evidentemente que a santidade de São José tem sua origem e a sua expressão na singular união e intimidade que viveu com Maria e Jesus. Desta realidade deriva a extraordinariedade da sua vida. A sua adesão à vontade de Deus, como disse Paulo VI, “é o segredo da grande vida para cada pessoa. Fundamentalmente a espiritualidade de São José, como uma proposta da Igreja, é algo acessível a todos os cristãos porque supõe a grandeza da vida diária enquanto tal”.
A dignidade e santidade de José é determinada pelo seu estreito relacionamento com Jesus e Maria e pelo seu grau de cooperação aos mistérios da Redenção. Também se a paternidade de José não foi física, contudo esta não é menor em dignidade. Por isso, José teve para com Jesus um relacionamento de pai para filho seja em nível de convivência, como de afeto, de comportamento, de autoridade, de educação… Consequentemente podemos dizer que a sua paternidade é densa de conteúdo e rica e esta lhe valeu uma dignidade superior àquela dos anjos, pois enquanto os anjos apenas serviram Jesus, José teve autoridade sobre ele. A sua dignidade é superior à de João Batista, pois enquanto João Batista dá testemunho de Cristo, inclusive com o seu sangue, José teve poder sobre ele. A grandeza de José é inclusive superior em relação aos apóstolos, posição esta confirmada por Suaréz quando diz: “Admito que a missão do apóstolo constitui a maior função entre aquelas que existem na Igreja… não é improvável a opinião segundo a qual, a missão de José é ainda mais perfeita, enquanto esta é de ordem superior… Existem funções ou ministérios que são certamente próprios da graça santificante, e neste plano considero os apóstolos superiores em dignidade… Porém, existem também ministérios que estão ligados à ordem hipostática, os quais são por si mesmos mais perfeitos… justamente neste sentido, na minha opinião, está o ministério de São José, mesmo que esteja no último degrau…” (Mistérios de la vida de Cristo, vol I pg 271). Desta mesma opinião é São José Marello, fundador da Congregação dos Oblatos de São José, o qual afirma que “Se, à semelhança do grande Patriarca São José, alguém tivesse que servir Jesus nos trabalhos modestos e inferiores aos de São Pedro, pensaria que o humilde Guarda de Jesus esta mais algo no céu que o grande apóstolo”. O próprio João Paulo II afirmou que em confronto aos apóstolos e a João Batista, que José é um personagem singular e único, porque confrontando com estes os supera em um grau muito notável.
Ainda ao afirmar a dignidade de José não podemos esquecer que ele é o esposo de Maria, e que com ela teve um relacionamento profundo, e justamente porque Maria devia ter ao seu lado um esposo digno, Deus o elevou à altura de sua dignidade, também se ela, por ser a Mãe de Deus é superior em grandeza e dignidade a qualquer outra pessoa.
Portanto, José ao servir Jesus, serviu também a obra da redenção. Na verdade o Verbo de Deus ao encarnar-se quis precisar dos préstimos e da colaboração de Maria para encarnar-se em seu seio virginal, como também de José, pelo período de alguns anos, para ajudá-lo em suas necessidades materiais e morais como homem. Nesta tarefa José empenhou-se com todo seu ser e sua liberdade, oferecendo-se a Deus como humilde oblação de sua vida.
Devido a dignidade e grandeza de sua missão conferida para Deus, não resta dúvida que sua santidade é menor somente em relação a Maria. Ele identificou sua vontade humana com a vontade divina de Deus e viveu uma união profunda com ele na comunhão com Jesus.
A santidade expressa-se também no amor a Deus, e neste sentido José amou Jesus como ninguém no mundo com exceção de Maria. Ele amou Deus na pessoa de Jesus como a seu próprio filho e assim atingiu o máximo amor depois daquele materno de Maria. Devemos lembrar que o evangelho define José como homem justo, o que significa que foi um homem que cumpriu de modo perfeito a vontade de Deus. Foi em razão desta justiça que Abraão, Isac, Jacó, Moisés, os profetas foram grandes santos, e que portanto tiveram uma grande dignidade porque participaram da história da salvação como colaboradores de Deus. Por isso podemos concluir que também José com a sua participação da história da salvação de uma maneira especial, como pai de Jesus, e pela convivência com ele, é o mais santo de todos os outros personagens do Antigo Testamento.
É preciso considerar que a fé é um elemento fundamental para a santidade, a qual supõe submissão absoluta à Palavra de Deus. Assim foi Abrão que acreditou nas palavras de Javé para sair de seu país e ir para uma terra desconhecida (Gn 12,1-3). Ele acreditou em Javé quando lhe foi dito que embora fosse velho e sua mulher fosse estéril, ele seria o pai de uma multidão (Gn 15,5). Acreditou igualmente quando lhe foi pedido de sacrificar seu único filho, por isso São Paulo diz: ”Acreditou contra toda esperança” (Rm 4,18).Também a José foi pedido de ser pai de um filho que nasceria de uma virgem e ele acreditou, embora não pudesse comprovar com certeza a concepção virginal de sua esposa.
Da mesma forma a esperança uma virtude que consiste em colocar-se nas mãos de Deus e esta José a exercitou quando deparou-se com as dificuldades na eminência de sua esposa dar à luz em Belém sem um lugar apropriado; quando teve que partir fugindo para o Egito, ou quando o menino Jesus permaneceu no Templo sem que ele e sua mãe soubessem, e se limitaram a procurá-lo pacientemente.
Enfim, foram muitas as ocasiões fortes em que José manifestou e vivenciou a santidade, pois além do exercício destas três virtudes teologais, ele viveu também com intensidade as virtudes morais, tais como a prudência no exercício do seu ministério, seja no guardar para si o mistério da encarnação, onde Jesus fora concebido virginalmente, seja diante dos pastores, de Isabel, de Zacarias, do velho Simeão, dos Magos, todos que proclamavam a presença do Messias na terra, tanto é verdade que seja ele, seja Maria se maravilhavam do que diziam sobre Jesus (Lc 2,19.33.51). Ainda sempre com discrição e prudência se comportará quando fugiram para o Egito e depois de lá voltaram para Nazaré.
A VIRGINDADE DE SÃO JOSÉ (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 34)
Podemos dizer que um esposo e uma esposa são castos vivendo moralmente o relacionamento conjugal (sexual) dentro do matrimônio, contudo, são virgens somente quando se abstém, por causa do Reino dos Céus, do exercício consciente do sexo. José assim como Maria foram virgens em vista do serviço à encarnação. Santo Agostinho afirma: “Como Maria foi mãe sem a concupiscência carnal, assim José foi pai sem ter relação sexual…”. Da mesma forma, São Beda enfatiza que: “não apenas a Mãe de Deus, mas também São José, testemunho beatíssimo e guarda de sua castidade, foi totalmente imune de qualquer ato conjugal”, Ainda São Pedro Damiamo (+1072) diz: “É fé da Igreja que não apenas a mãe de Cristo foi virgem, mas também aquele que foi tido como seu pai” (De Coeelibatu sacro, 3 ML 145,384).
Na verdade são inúmeros os autores antigos e também modernos que defendem a perpétua virgindade de São José, contudo não faltam também autores, inclusive católicos, que chegam a afirmar que o Cristo poderia inclusive ter sido concebido segundo as leis de todo matrimônio e que isto não ofuscaria o mistério da encarnação (Nuñoz Iglesias, La concepción virginal de Cristo en los evagelios de la infancia; “Estudios biblicos, 37 [1978] pg 213 – 241).
É claro que Santo Ambrósio e Santo Hilário negaram a virgindade de José, mas influenciados pela necessidade de explicar literalmente os textos do evangelho que falam dos “irmãos” e “irmãs” de Jesus, atribuindo estes a José como fruto de um matrimônio precedente àquele com Maria, como relataram alguns apócrifos (De Santos Otero, Los evangelios apócrifos, Madrid 1956 – Protoevangelio de Santiago, 9, 2 pg 162; Evangelio del pseudo – Matteo, 8,4, pg 212; História de José el Carpinteiro 2,pg 362). Já São Jerônimo nega que os irmãos do Senhor sejam filhos de José como frutos de um casamento anterior, mas sim que estes eram primos dos Senhor. Na verdade a língua hebraica não tinha uma palavra adequada para designar a parentela entre os primos. No Antigo Testamento a palavra “irmão” tem o mesmo significado de sangue e de afetos; basta dizer que São Paulo usa aproximadamente 130 vezes a palavra irmão para todos os cristãos. É natural portanto que Jesus em Nazaré tivesse parentes, primos, que eram chamados simplesmente de irmãos.
É necessário ainda salientarmos que em Mt 1,25 se lê: “E, sem que ele a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu filho, que recebeu o nome de Jesus”. Ora, a palavra “conhecer” na bíblia tem significado de união sexual sempre que se refere ao relacionamento conjugal. Isto significa que José não teve relacionamento sexual com Maria. Contudo, Elvídio (século V) e alguns outros, concluíram com esta a afirmação de Mateus, que José “a conheceu depois do parto do primogênito”, posição esta negada por São Jerônimo e também São João Crisóstomo, o qual argumenta que: “sem que ele a conhecesse não indica de fato que a conheceu em seguida, mas simplesmente que a Virgem permaneceu intacta no parto” (Adv Helvidium 7 e 8: ML 23, 191 – 192). Alguns têm se baseado no texto de Lc 2,7 “E deu à luz seu filho primogênito, e envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria”, para dizer que Maria teve outros filhos e que portanto José teve relações com ela, mas São Jerônimo explica: “Cada primogênito é primogênito… Este não é só apenas o primeiro entre outros, mas simplesmente o primeiro”. Primogênito é aquele que nasce por primeiro de sua mãe, tenha ou não outros filhos depois.
São José foi escolhido por Deus como esposo de Maria, Virgem e Mãe de Deus; portanto, a sua presença na vida de Maria não se deveu a um simples jogo de circunstâncias, mas foi resultado de uma preciosa intervenção de Deus. O matrimônio de José com Maria foi destinado para acolher e educar Jesus, assim comportava necessariamente a máxima expressão de união conjugal, ou seja, o grau supremo do dom de si. Em conseqüência, podemos aceitar que a virgindade dentro desse casamento não só não comprometeu a essência desse matrimônio e da paternidade, mas a evidência e a defende, segundo o dúplice axioma agostiniano “esposo tanto mais verdadeiro quanto mais casto, dai tanto mais verdadeiro quanto mais casto”.
SÃO JOSÉ, MESTRE E O SEU PERFIL DE VIDA INTERIOR (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 35)
Não é difícil de se ouvir a afirmação que São José, porque exerceu a sua profissão de carpinteiro em Nazaré para sustentar a sua família, tenha exercido consequentemente uma atividade exterior e por isso tenha tido pouco tempo para as atividades interiores. Na realidade não é assim, pois se tomarmos a idéia de São Gregório, que coloca a vida contemplativa na caridade, São José a viveu profundamente. Para Santo Tomás a relação da contemplação com o amor é um movimento contínuo, pois é da caridade que um é estimulado para a contemplação de Deus e a contemplação move para o amor.
Aceitando, portanto que a caridade é o início e o fim da vida contemplativa, podemos intuir a grandeza do grau de contemplação de São José, o qual pelo exercício de sua missão de pai de Jesus, encontrou-se ao lado de Maria, no exercício de um amor que lhe é próprio, ou seja, aquele paterno, e que foi correspondido igualmente por um amor singular; àquele filial de Jesus.
A humanidade de Cristo, conjuntamente com sua divindade, foi o instrumento assumido por Deus para a santificação dos homens. As ações humanas de Cristo foram salutares para nós, gerando em nós a graça de Cristo e por isso a humanidade de Cristo, conjuntamente com sua divindade, foi instrumento de nossa salvação. Diante disto, como podemos negar as inúmeras graças que São José recebeu durante a sua prolongada comunhão de vida e de trabalho com Jesus e Maria? Como podemos negar os benefícios que ele recebeu em comunhão com Jesus?
São José, pelo seu amor paterno e dedicado a Jesus, foi levado a consumar toda a sua vida para Jesus e Maria e a condividir com ambos todos os acontecimentos compreendidos na infância de Jesus. Assim sendo, condividiu também os benefícios do mistério contidos nestes acontecimentos, participando do amor de Jesus que dele provinha.
Toda a vida de São José em contato com Jesus e Maria era portanto pautada pela contemplação do mistério do Filho de Deus em sua casa, na qual palpitava de amor o coração de seu Filho, sempre em perfeita harmonia com os afetos de sua vontade humana e com o seu amor divino, quando em contato com sua mãe Maria na pequena casa de Nazaré, e com seu pai putativo José, ao qual obedecia ajudando-lhe como fiel colaborador, no trabalho da carpintaria, como afirmou Pio XII, em sua encíclica Haurietes Aquas, em maio de 1955.
No desenrolar desta sua vida contemplativa, como afirmou São Bernardo, “o Senhor encontrou José segundo o seu coração e lhe confiou com plena segurança o mais misterioso e sagrado segredo de seu coração. Para ele revelou a obscuridade e os segredos de sua sabedoria, possibilitando-lhe de conhecer o mistério desconhecido por todos…” (Hom Super Missus: Pl 183,70).
Portanto, se alguém duvida que em São José não houve a dimensão contemplativa, podemos afirmar que o amor que ele vivenciou e participou juntamente com Jesus e Maria, assegurou-lhe a união entre a sua vida contemplativa e ativa.
O amor de São José para Jesus era puro amor de contemplação desta verdade divina (Jesus) que se irradiava da própria humanidade de Jesus; era ao mesmo tempo, puro amor a serviço à própria humanidade de Jesus. Com esta preocupação e dedicação para amar e servir a Jesus, José procurou a amar e a ser amado com todas as suas forças e assim chegou ao cume supremo do amor, sendo que não se pode exprimi-lo de outro modo, senão concluindo que depois de Maria, José amou como José, como afirmou Jerônimo Graccián.
Encontramos em São José uma “religiosa escuta da Palavra de Deus” (RC 5).Esta exemplar escuta foi vivida num clima de silêncio que acompanhava os acontecimentos de sua vida, e que lhe dava o seu perfil interior. Os evangelhos falam que José “fez”, mas este fazer é envolvido num profundo clima de contemplação (RC 28). A contemplação é definida como a ciência do amor (São João da Cruz), é aquela atitude de alguém que se ilumina do amor de Deus ao considerar a sua beleza; é algo que faz com que a verdade divina não só seja vista, mas amada (Santo Tomás).
Em José esta experiência amorosa da presença de Jesus estava intimamente ligada à sua paternidade, pois com o poder paterno sobre Jesus, Deus comunicou a José o amor correspondente, aquele amor que tem sua fonte no Pai… (RC 27). São João de Catagena citando a frase de Provérbios 6,27: “Pode alguém carregar o fogo sem queimar a própria roupa?, afirma igualmente que “José trazia em seu peito o fogo, isto é, Cristo, aliás, infinitas vezes o tocou com suas mãos, trocou suas roupas, vestiu-o abraçou-o, beijou-o e certamente ardia em si de modo fortíssimo a chama do seu amor” (J.Vives, Summa Josephina, Romae, 1907, nº. 673-675). Por isso José superou todos os santos na vida contemplativa em vista de ser tocado profundamente durante a sua missão pelo exemplo de Cristo e de Maria. É por causa desta sua profunda vida interior alimentada pelo amor, que Paulo VI vê nele “a lógica e a força própria das almas simples e límpidas, das grandes decisões, como aquela de colocar-se imediatamente à disposição aos desígnios divinos a sua liberdade, a sua legítima vocação humana, a sua fidelidade conjugal, aceitando da família a condição, a responsabilidade e o peso, e renunciando, por um incomparável virgíneo amor, ao natural amor conjugal que a constitui e a alimenta” (Homilia 19/03/1969).
Na verdade, São José experimentou o puro amor de contemplação da verdade divina que irradiava da humanidade de Cristo com o qual ele convivia, assim como também experimentou a exigência do amor, ou seja, o amor de serviço requerido aos cuidados de Jesus (RC 27). Portanto, o amor de São José para Jesus era um puro amor de contemplação da unidade divina que se irradiava mediante a humanidade de Jesus, e também era um amor de caridade, de puro serviço à pessoa de Jesus. Deste amor todo especial entre José e Jesus, não encontramos uma fácil analogia e por isso Gerolomo Gracián falando deste amor disse: “José amou como José” e por isto ele foi amado profundamente e chegou ao cume do amor, que foi tal que não se pode definir de outro modo, senão dizendo que depois de Maria, “José amou como José”.
SÃO JOSÉ, EXEMPLO DE DEDICAÇÃO E DE DISPONIBILIDADE AOS INTERESSES DE JESUS (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 36)
Os Evangelhos, embora declaram explicitamente que Jesus foi concebido por obra do Espírito Santo, não deixam de chamar José de pai de Jesus (Lc 2,27.33.41.43.48); São Bernardo (+1150) afirma que José mereceu ser chamado “Pater Salvatoris”, aliás, mereceu de ser honrado por Deus em ser chamado Pater Dei” (PL 183,69). José, como declarou João Paulo II, “Possui plenamente a autenticidade da paternidade humana” (RC 21). Desde o momento que José recebeu o ministério de tomar consigo Maria e de impor o nome a Jesus (Mt 1,20-25), a sua vida não teve outra razão senão aquela do serviço ao mesmo e à sua mãe. Ele fez a partir de então, um serviço ao mistério da encarnação e à missão redentora, fazendo uso de sua autoridade legal sobre a Sagrada Família como um dom de si, de sua vida e de seu trabalho. Ele transformou a sua vocação humana ao amor doméstico, numa oblação completa de si, de seu coração, de suas capacidades, no amor colocado ao serviço do Messias germinado em sua casa, como disse Paulo VI (Homilia de 19/03/1966). Tudo isso numa disposição total de amor à Maria e com o alegre empenho na educação de Jesus (RC 1).
O Filho de Deus, feito carne e tornando-se igual a nós em tudo menos no pecado, entrou na história dos homens através de uma família, portanto, o mistério da encarnação do Verbo está em íntimo relacionamento com a família humana, e por conseguinte com cada homem; nesse sentido São José é o cooperador do mistério providencial de Deus.
Maria desde o primeiro de sua maternidade divina colocou-se ao serviço messiânico de Cristo (RC 20), mas isto ela realizou como esposa de José, ou seja, supondo a doação de São José, e disto ela não teve dúvida e por isso ela aceitou prontamente o anúncio do anjo, também se perguntando: “Como se dará isso, se não conheço homem?”, e isto porque naquele momento ela consagrou-se a Deus juntamente com José, conforme afirma Santo Tomás. Na verdade, o casamento de ambos destinado a acolher e educar Jesus, exigia a máxima expressão de união conjugal, ou seja, um supremo grau de doação de ambos. Se Deus em seu amor pensou Maria como mãe do Redentor, não o fez independentemente do seu casamento virginal com José, e assim como Maria foi chamada para o consentimento em ser mãe de Jesus, José da mesma forma foi também chamado ao matrimônio com Maria. Justamente porque havia a necessidade deste matrimônio para que houvesse a honrada chegada do Verbo de Deus na família humana e para que este fosse reconhecido como Filho de Davi. Daqui deduzimos o exemplo de disponibilidade de José aos desígnios de Deus.
Servir a Jesus foi sua vida, e servi-o com dedicação completa, com amor e por amor. “Ele é o tipo de evangelho que Jesus anunciará para a redenção da humanidade… é a prova de que para ser bons e autênticos seguidores de Cristo não é preciso coisas grandes, mas bastam virtudes comuns, humanas, simples, que sejam verdadeiras e autênticas.” (Paulo VI – Homilia de 19/03/1969). É desta sua atitude e deste seu comportamento que podemos haurir a espiritualidade josefina, e se esta assim for compreendida, serve para todos os cristãos. De fato, Leão XIII diz: “Em São José, os pais de família têm o mais sublime modelo de paterna vigilância e providência, os casados um perfeito exemplo de amor, concórdia e fidelidade conjugal…” (Quamquam Pluries). São José oferece, nas palavras do Papa João XXIII, “um exemplo de atraente disponibilidade ao divino chamado, de calma em qualquer situação, de plena confiança, fortificada por uma vida de uma sobre-humana fé e caridade e pelo grande meio de oração” (Homília de 17/3/1963).
Os exemplos de vida de São José, uma realidade que compõe a espiritualidade josefina, servem para todos. De fato, a Exortação Apostólica de João Paulo II: “Redemptoris Custos”, a qual não é uma simples exortação voltada para os devotos de São José, mas uma exortação apostólica dirigida para toda a Igreja, o que compreende consequentemente os bispos, os sacerdotes, os diáconos, os religiosos e religiosas e todos os fiéis, é para que “todo o povo cristão não só recorrerá a São José com maior fervor e invocará confiadamente o seu patrocínio, mas também terá sempre diante dos olhos o seu modo humilde e amadurecido de servir e de participar na economia da salvação” (RC 1).
Toda a Igreja é chamada à religiosa escuta da Palavra de Deus, ou seja, a ter uma absoluta disponibilidade em servir fielmente a vontade de Deus revelada em Jesus. Diante deste imperativo para todos os cristãos, São José nos dá o exemplo, pois “Logo no princípio da Redenção humana, nós encontramos o modelo da obediência encarnado, depois de Maria, precisamente em José, aquele que se distingue pela execução fiel das ordens de Deus” (RC 30).
Disto concluímos que São José, como especial ministro na economia da salvação, é o nosso modelo, a fim de que dele aprendamos a servir a Deus. Desta forma queremos que “São José se torne para todos um mestre singular no serviço da missão salvífica de Cristo, que, na Igreja compete a cada um e a todos: aos esposos e aos pais, àqueles que vivem do trabalho das próprias mãos e de todo e qualquer outro trabalho, às pessoas chamadas para a vida contemplativa, e às que são chamadas ao apostolado” (RC 32).
Podemos dizer que enquanto os outros santos podem ser de interesse para esta ou para aquela categoria ou Instituição, a figura e o exemplo de São José dizem respeito à toda a Igreja. É dever, portanto, de todos honrarem e promoverem o seu conhecimento, a sua devoção e a sua espiritualidade.
SÃO JOSÉ, MODELO PARA OS MINISTROS SAGRADOS E PARA OS RELIGIOSOS E RELIGIOSAS (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 37)
Particularmente fazemos referência aos ministros sagrados pelo motivo de uma maior proximidade deles à figura à missão de São José.
Quando o Papa João XXIII introduziu o nome de São José no Cânon da missa, não foi por uma sua simples e pessoal devoção a ele, mas foi a concretização de uma esperança feita de petições há mais de um século. São José, como disse São Bernardo, “foi aquele que recebeu o pão vivo do céu para conservá-lo para si e para todo o mundo”. Pio IX em seu decreto “Quemadmodum Deus” de 08 de dezembro de 1870, afirma que São José: “nutriu aquele que os fiéis devem comer como Pão de vida eterna”. O Pe. Francisco Cirino ressalta que a relação de São José com o sacrifício eucarístico advém também do fato que durante a vida de Jesus, por ocasião dos ritos de sua circuncisão e da apresentação ao Templo, São José, também “se não fosse sacerdote, todavia exercitou de qualquer modo as funções para com o Santíssimo Corpo do Menino Jesus… No rito da circuncisão o Senhor deu ao mundo por meio das mãos de José, as primícias daquele Santíssimo Sangue que devia ser derramado para a remissão dos pecados, e ele o ofereceu devotissimamente a Deus Pai em oblação pura e hóstia agradável”. Também na apresentação ao Templo, toca a José, como pai, a parte mais importante deste cumprimento legal e por isso ele com suas mãos, não apenas de maneira cerimonial, mas com toda a sua convicção, apresentou o menino Jesus, verdadeira vítima de holocausto. São José ofereceu e o consagrou a Deus Pai sobre o altar do Templo”.
O Pe. Francisco Cirino não apenas acha justo que durante a eucaristia o nome de São José seja lembrado, mas também que ele seja proposto como ”exemplo e especial patrono para os Sacerdotes”, pois como ele “mereceu cuidar respeitosamente com as suas mãos do Menino Jesus e de conduzi-lo, (assim devem os sacerdotes) servir o sagrado altar com pureza de coração e inocência de ação e dignamente oferecer e receber o Sacrossanto Corpo e Sangue de nosso Senhor” (F.M. Cirino, amplificationis cultus Sancti Josephi B. Marae viriginis sponsi votum – Regnum Dei, 10 [1954] pg 75-76).
Parece muito apto que São José, com os sentimentos que teve por Jesus, seja para os sacerdotes um modelo no exercício do próprio ministério; ele que teve em suas mãos Jesus criança com todo o respeito e afetividade, deve despertar estes mesmos sentimentos no momento em que o sacerdote toma em suas mãos sobre o altar o corpo de Jesus Sacramentado.
Na verdade, São José deve ser considerado o modelo perfeito para os sacerdotes, e não apenas para eles, mas também para os diáconos e ministros da eucaristia, ele que depois da Virgem Maria, como reza São José Marello, Fundador da Congregação dos Oblatos de São José, “foi o primeiro a apertar em seus braços o Divino Redentor, seja o nosso exemplar no nosso ministério que, como o teu, é ministério de relação íntima com o Verbo Divino”.
João Paulo II referindo-se a uma homilia de Paulo VI ensina na Exortação Apostólica “Redemptoris Custos” o primado da vida interior de São José afirmando que é na “sua insondável vida interior, da qual lhe provêm ordens e consolações singularíssimas; dela lhe decorrem também a lógica e a força, própria das almas simples e límpidas, das grandes decisões, como foi a de colocar imediatamente à disposição dos desígnios divino a própria liberdade, a sua legítima vocação humana e a felicidade conjugal, aceitando a condição, a responsabilidade e o peso da família e renunciando, por um incomparável amor virgíneo, ao natural amor conjugal que constituiu e alimenta a mesma família” (RC 26). São José fez o que o anjo lhe ordenou e assumiu todo o mistério da maternidade de Maria, assumindo igualmente o Filho que viria ao mundo por obra do Espírito Santo, demonstrando assim uma disponibilidade à vontade de Deus igual àquela de Maria em razão daquilo que lhe era pedido por meio do anjo.
O Consagrado é chamado a consagrar-se totalmente a Deus e ao seu desígnio de salvação, o qual é uma iniciativa de Deus que requer dos chamados uma resposta com dedicação total e exclusiva, fazendo-se total oferta de si. Neste sentido há um profundo relacionamento entre a pessoa de São José e a identidade da pessoa consagrada, para a qual houve um chamado de Deus e foi-lhe pedido uma dedicação total e exclusiva à qual este responde com dedicação incondicionada.
A comunhão de vida entre José e Jesus nos leva a considerar o mistério da encarnação, justamente sob o aspecto da humanidade de Cristo, instrumento eficaz da divindade para a salvação dos homens. Neste sentido São José ao lado de Maria, com sua paternidade teve um relacionamento íntimo com a humanidade de Jesus. Maria é por excelência o modelo de consagração e dedicação a Deus e ela próxima de Cristo e juntamente com José, no decorrer da vida escondida de Nazaré, tornou-se a mestre do seguimento incondicionado e do serviço assíduo a Deus. Por isso mesmo São José condividiu plenamente a vida com Maria.
SÃO JOSÉ, MODELO PARA A COMUNIDADE CRISTÃ (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 38)
Paulo VI, como já lembramos, afirma: “que São José é a prova que para ser bons e autênticos seguidores de Cristo não é necessário grandes coisas, mas bastam as virtudes comuns, humanas, simples, contanto que verdadeiras e autênticas” (Homilia de 19/3/1969). Em vista desta sua grandeza a liturgia propõe a todos que São José seja o modelo de fidelidade e pureza de coração, de fidelidade às responsabilidades que Deus nos confia, de testemunho de amor a Deus, para caminhar nos caminhos da santidade e da justiça e cooperar fielmente na realização da obra da salvação.
Seguindo os exemplos de São José, Deus espera de cada cristão o que se deve esperar, ou seja, uma correspondência fiel e generosa à sua vontade, um empenho fiel com aqueles dons naturais e sobrenaturais que ele deu a cada um, como dizia Pio XI em sua homilia de 19 de março de 1928. De fato, São José é o modelo de uma vida autenticamente humana, verdadeira e simples, e na escola dele foram inumeráveis as gerações de santos que se formaram. Dos seus exemplos vêm para todos os cristãos os exemplos de amor, de paciência, de sacrifício, de trabalhador, de pai, de esposo, de silêncio, de cooperador aos desígnios de Deus, de santificação da vida quotidiana…
A espiritualidade de São José é o caminho para cada cristão porque supõe a grandeza da vida diária, ele é o “segredo da grande vida” como disse Paulo VI. Ele é, como ainda afirma o mesmo papa: “A luz que brilha de seu incomparável exemplo, aquele que caracteriza o Santo, entre todos afortunado por tanta comunhão de vida com Jesus e Maria”. O exemplo dele, os exemplos que brotam de sua vida, devem ser uma contínua escola para os cristãos.
A este ponto ocorre não esquecer o conselho de Santa Tereza (+1582), a qual tinha São José como seu pai, advogado e protetor e que sempre constatou ter recebido graças mediante sua intercessão e que portanto, por experiência própria, diz ela, aconselha a todos de serem devotos deste glorioso santo, “por grande experiência que tenho dos favores recebidos de São José”.
É impossível constatarmos hoje o número incatalogável de nomes e lugares que dizem respeito a São José, e também constatar as devoções pessoais e de famílias para com ele. “São José continua sendo aquele que socorre em todas as necessidades e dificuldades de seus devotos, cuidando e seguindo com paterno afeto todos aqueles que a ele piedosamente recorrem” (Santo Tomas – Summa Theologica, II, q. 83 a 11c).
A vivência da espiritualidade Josefina é portanto mais do que nunca atual e necessária José que é o Guarda do Redentor, fez com que a sua figura e a sua missão para a Igreja e para todos os cristãos seja de perene atualidade.
Seria útil também, que junto com a devoção mariana, os fiéis fossem incentivados igualmente a rezar a São José. A este respeito o Papa Leão XXIII recomenda: “Pensamos que seja sumamente conveniente que o povo cristão acostume a rezar com devoção e com confiança, juntamente com a Virgem Maria Mãe de Deus, ao seu castíssimo esposo São José, o que deverá à mesma Virgem ser aceito e caro” (Enc. Quamquam Pluries). Por fim, também a arte e as publicações que têm influência na formação religiosa do povo, deve-se enfocar mais o matrimônio de Maria e José, a fim de que a beleza deste amor esponsal entre os dois seja ensinado e apreciado.
Por ocasião do centenário da Encíclica Quamquam Pluries do Papa Leão XIII, o próprio pontífice colocou para toda a Igreja a oração “A ti ó José” com a finalidade de que no mês de outubro, depois da reza do terço, esta fosse rezada para se implorar a proteção de São José para toda a Igreja, lembrando que assim como pelo vínculo da caridade ele se uniu à Virgem Imaculada, mãe de Deus, que também defendesse a Igreja de tantos perigos que a ameaçava, e que assim como outrora ele salvara a vida ameaçada do Menino Jesus, que também defendesse a herança que Jesus Cristo conquistou com o seu sangue. O papa João Paulo II, lembrará depois, que há cem anos o papa Leão XIII exortava a Igreja católica para rezar, a fim de obter a proteção de São José, Patrono de toda a Igreja.
SÃO JOSÉ, MODELO PARA A COMUNIDADE CRISTÃ (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 38)
Paulo VI, como já lembramos, afirma: “que São José é a prova que para ser bons e autênticos seguidores de Cristo não é necessário grandes coisas, mas bastam as virtudes comuns, humanas, simples, contanto que verdadeiras e autênticas” (Homilia de 19/3/1969). Em vista desta sua grandeza a liturgia propõe a todos que São José seja o modelo de fidelidade e pureza de coração, de fidelidade às responsabilidades que Deus nos confia, de testemunho de amor a Deus, para caminhar nos caminhos da santidade e da justiça e cooperar fielmente na realização da obra da salvação.
Seguindo os exemplos de São José, Deus espera de cada cristão o que se deve esperar, ou seja, uma correspondência fiel e generosa à sua vontade, um empenho fiel com aqueles dons naturais e sobrenaturais que ele deu a cada um, como dizia Pio XI em sua homilia de 19 de março de 1928. De fato, São José é o modelo de uma vida autenticamente humana, verdadeira e simples, e na escola dele foram inumeráveis as gerações de santos que se formaram. Dos seus exemplos vêm para todos os cristãos os exemplos de amor, de paciência, de sacrifício, de trabalhador, de pai, de esposo, de silêncio, de cooperador aos desígnios de Deus, de santificação da vida quotidiana…
A espiritualidade de São José é o caminho para cada cristão porque supõe a grandeza da vida diária, ele é o “segredo da grande vida” como disse Paulo VI. Ele é, como ainda afirma o mesmo papa: “A luz que brilha de seu incomparável exemplo, aquele que caracteriza o Santo, entre todos afortunado por tanta comunhão de vida com Jesus e Maria”. O exemplo dele, os exemplos que brotam de sua vida, devem ser uma contínua escola para os cristãos.
A este ponto ocorre não esquecer o conselho de Santa Tereza (+1582), a qual tinha São José como seu pai, advogado e protetor e que sempre constatou ter recebido graças mediante sua intercessão e que portanto, por experiência própria, diz ela, aconselha a todos de serem devotos deste glorioso santo, “por grande experiência que tenho dos favores recebidos de São José”.
É impossível constatarmos hoje o número incatalogável de nomes e lugares que dizem respeito a São José, e também constatar as devoções pessoais e de famílias para com ele. “São José continua sendo aquele que socorre em todas as necessidades e dificuldades de seus devotos, cuidando e seguindo com paterno afeto todos aqueles que a ele piedosamente recorrem” (Santo Tomas – Summa Theologica, II, q. 83 a 11c).
A vivência da espiritualidade Josefina é portanto mais do que nunca atual e necessária José que é o Guarda do Redentor, fez com que a sua figura e a sua missão para a Igreja e para todos os cristãos seja de perene atualidade.
Seria útil também, que junto com a devoção mariana, os fiéis fossem incentivados igualmente a rezar a São José. A este respeito o Papa Leão XXIII recomenda: “Pensamos que seja sumamente conveniente que o povo cristão acostume a rezar com devoção e com confiança, juntamente com a Virgem Maria Mãe de Deus, ao seu castíssimo esposo São José, o que deverá à mesma Virgem ser aceito e caro” (Enc. Quamquam Pluries). Por fim, também a arte e as publicações que têm influência na formação religiosa do povo, deve-se enfocar mais o matrimônio de Maria e José, a fim de que a beleza deste amor esponsal entre os dois seja ensinado e apreciado.
Por ocasião do centenário da Encíclica Quamquam Pluries do Papa Leão XIII, o próprio pontífice colocou para toda a Igreja a oração “A ti ó José” com a finalidade de que no mês de outubro, depois da reza do terço, esta fosse rezada para se implorar a proteção de São José para toda a Igreja, lembrando que assim como pelo vínculo da caridade ele se uniu à Virgem Imaculada, mãe de Deus, que também defendesse a Igreja de tantos perigos que a ameaçava, e que assim como outrora ele salvara a vida ameaçada do Menino Jesus, que também defendesse a herança que Jesus Cristo conquistou com o seu sangue. O papa João Paulo II, lembrará depois, que há cem anos o papa Leão XIII exortava a Igreja católica para rezar, a fim de obter a proteção de São José, Patrono de toda a Igreja.
BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA DE SÃO JOSÉ (Curso de Josefologia – Parte II – Capítulo 40)
As primeiras notícias que temos desde o primeiro século do cristianismo sobre José nos vêm de Mateus e Lucas, o primeiro que endereçou mais à comunidade hebraica todas as informações de que dispamos sobre a origem, nascimento, infância e adolescência de Jesus e o segundo à comunidade grega. Ambos colocaram portanto claro, a colaboração de Maria e de José nos mistérios da encarnação e da redenção. Paralelamente aos dois evangelistas falaram também de São José os chamados evangelhos Apócrifos para da mesma forma explicitar aos primeiros cristãos e pagãos a dificuldade destes em aceitar os mistérios da concepção virginal de Maria e por isso recorreram a narrações imaginárias para preencher as lacunas dos evangelhos autênticos. Entre os principais Apócrifos estão o Proto-evangelho de Tiago (do fim do século II); Evangelho do Pseudo Mateus (século IV), a História de José, o Carpinteiro (século V), o Livro da Natividade de Maria (século IX).
Durante estes mesmos séculos de surgimento dos Apócrifos houve muitos autores que falaram de São José, dentre os quais Santo Inácio de Antioquia, São Justino e Santo Irineu (século II). Tertuliano, Clemente de Alexandria, Hipólito, Orígines, Júlio o Africano (século III). Eusébio de Cesaréia, Santo Efrém, São Basílio, São Cirílo de Jerusalém, São Gregório Nazianzeno, São Gregório Nisseno, Santo Ambrósio, Santo Epifânio, São João Crisóstomo, Santo Agostinho, São Cirílo de Alexandria, São Pedro Crisólogo (Século IV –V). Santo Isidoro de Servilha (século VII).
Este carrossel de escritores desde os primeiros séculos demonstrou que São José não foi esquecido, se bem que só com São João Crisóstomo, Santo Agostinho e São Jerônimo, é que se começou a falar dele explicitamente. Contudo, isto tem uma explicação: Porque a preocupação dos estudos teológicos de então era os problemas cristológicos e as heresias.
Foi São Jerônimo que defendeu firmemente a virgindade de São José e Santo Agostinho que sustentou claramente a sua paternidade definindo-a como real, também se virginal, assim como a verdade sobre o seu matrimônio com Maria. Com Santo Agostinho pode-se vislumbrar uma certa teologia de São José que depois passou-se a desenvolver por toda a era medieval, sobretudo com São Beda, o venerável (+735), Alcuíno (+856), São Bernardo (+1153), Pedro Lombardo (+1160), Santo Alberto Magno (+1280), São Tomás de Aquino (+1270). Todos estes garantiram um autêntico progresso na teologia de São José.
Depois destes doze primeiros séculos podemos apenas como um flash, pois não ocorre agora uma visão mais aprofundada, indicar que houve um caminho na teologia Josefina nos séculos seguintes a começar do século XIII até o século XVIII onde a partir daí foi com os Franciscanos, escritores e pregadores, que a doutrina sobre São José começou a ser defendida, tendo como um dos primeiros representantes São Boaventura e depois seus discípulos Pietro Giovanni Olivi (+1298) e Ubertino de Casale (+1305), os quais elaboram princípios que fundamentaram os estudos da Josefologia de São José até hoje.
Para se ter uma melhor idéia da influência dos Franciscanos na teologia Josefina e na propagação da devoção a São José, basta lembrar os nomes de três Bernardinos: São Bernardino de Sena (1380-1444), Bernardino Tomitano de Feltre (1439-1494) e Bernardino de Bustis (1450-1513).
Tivemos depois no século XV, João Gerson (1363-1429), o qual tornou-se um incansável divulgador da doutrina e da devoção a São José. Na sua obra “Josephina” e depois no seu discurso aos Padres do Concílio de Costanza, “Sermo de Nativitate Gloriosae V. Mariae”, aos 08 de Setembro de 1416, ele exaltou a figura e a dignidade de São José, sobretudo como esposo de Maria. Continuou com vários outros escritos a exaltar os privilégios do Guarda do Redentor, esforçando-se para instituir a festa dos Santos Esposos. Gerson que tinha sido estudante na Universidade de Paris teve como professor, Pietro de Ailly, o qual depois tornou-se cardeal, e este tinha uma grande consideração por São José, inclusive com um escrito importante sobre ele, que naturalmente influenciou muito o amor de Gerson por São José.
Outro ponto referencial no desenvolvimento da teologia Josefina, teremos em 1522 com a obra “Summa de Donis S. Joseph”, escrita por Isidoro Isolani, Dominicano e professor de Universidade de Bolonha. Esta obra representou um verdadeiro compêndio do quanto até então tinha sido escrito sobre São José. Neste mesmo período outros contribuíram com a teologia Josefina e dentre tantos temos Caetano (1468-1536) e Bernardino de Laredo, um leigo franciscano que em 1535 publicou “Josefina”, um tratado sobre São José. Claro está que não podemos deixar de lembrar Santa Tereza D’ Ávila (1515-1582) que contribuiu muito com a sua devoção, os seus escritos e a dedicação de onze de suas fundações a São José.
São muitos os nomes que neste período contribuíram para o desenvolvimento da teologia Josefina, contudo por questão de brevidade escolho apenas alguns para mencioná-los, tais como: Francisco Suárez (1548-1617), jesuíta que no plano teológico evidenciou com equilíbrio aspectos importantes da teologia Josefina; Gerolomo Gracián della Madre de Dios, Carmelitano descalço e discípulo de Santa Tereza que publicou em 1597 “Josefina”, João de Cartagena (+1617), o qual escreveu muitas páginas sobre São José, São Francisco de Sales (1567-1622). Portanto, a teologia Josefina no século XVII teve um grande desenvolvimento, que contudo no século XVIII terá uma certa decadência, embora não faltaram alguns autores como Antonio Patrignani que em 1710 publicou “Il devoto di S. Giuseppe”, Pietro de Torrus que em 1773 publicou “Eccelenze di S. Giuseppe”, Antonio Paralta que em 1727 publicou “Dissertationes Scholasticae de S. Joseph”, Trombelli que em 1767 escreveu “Vita e Culto de S. Giuseppe”. Por fim, não podemos esquecer São Leonardo de Porto Maurizio (+1751) e Santo Alfonso M. de Ligori (1797).
Entre o século XIX até o princípio do século XXI, a teologia Josefina não deixou de receber ênfase, basta dizer que a partir do século XIX tivemos Manuel Maria de Sanlúcar, um capuchinho que escreveu “Nueva Josefina”, Francisco Saverio Butiná que publicou em Barcelona em 1889 “Glorias de San Jose”. Mais tarde Cipriano Macabiau (+1915), o qual esforçou-se muito para que o nome de São José fosse colocado logo depois do nome de Maria na liturgia e em outros momentos da missa, inclusive com um pedido assinado por 66 cardeais e 826 bispos, procurou apoiar sua ação com dois escritos: “De culto S. Joseph amplificando postutatum e Primauté de S. Joseph”, o primeiro publicado pela primeira vez em 1887 e o segundo em 1897.
Ainda neste período alguns dos principais teólogos empenharam em produzir reflexões sobre São José, sobretudo antes do Concílio Vaticano II. Dentre os quais destacamos o teólogo Henri-Marie Lépicier (1863-1936), o qual escreveu “Tractatus de S. Joseph” em 1908; Eugenio Cantera, que publicou “São José en él plan Divino” em 1917; Urbano Holzmeister, com a publicação em 1945 “De Sancto Joseph quaestiones biblicae”; Bonifacio Llamera, que publicou a obra ‘Teologia de S. José” em 1953 e Roland Gauthier com “La paternité de S. Joseph” em 1953. Trinta anos depois o Pe. Tarcisio Stramare, professor de Teologia Bíblica na Pontifícia Universidade Laterahense em Roma, publicará “San Giuseppe nella Sacra Scritura nella teologia e nel culto”.
Depois do Concílio Vaticano surgiram muitos escritores e comentadores que por meio de livros e revistas focalizaram a pessoa de São José e juntamente com eles surgiram Centros de Estudos Josefinos, Centros de Documentações e Investigações sobre São José e Revistas de estudos com cunhos científicos sobre este assunto. Além destes surgiram também os Simpósios Internacionais de Teologia realizados em diferentes países reunindo riquíssimos volumes de estudos Josefinos que abarcaram os 20 séculos de nossa história.
O certo é que de Pio IX em diante também os papas deram um grande impulso ao conhecimento, à doutrina e à devoção a São José através de Pronunciamentos, Homilias e Documentos, até chegar em 1989 com a mais completa publicação, a qual é como que uma síntese de toda a doutrina Josefina, com a Exortação Apostólica de João Paulo II, “São José, o Guarda do Redentor”, a “magna charta” da teologia de São José.
José, filho de David, não tenhas medo
CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA PARA AS FAMÍLIAS
NO ESTÁDIO DESPORTIVO “LIBERATI”
HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II
Terni, 19 de Março de 1981
1. “Felizes os que moram em vossa casa (Senhor): podem louvar-vos continuamente” (Sl 83/84, 5).
Caros Irmãos e Irmãs
Depois do encontro de manhã no lugar do trabalho, reunimo-nos agora neste amplo estádio a fim de participarmos na Eucaristia. Mais uma vez desejo exprimir-vos gratidão, porque — no dia em que a Igreja venera São José, “homem justo”, que em Nazaré trabalhou junto do banco de carpinteiro — me foi dado encontrar-me convosco dentro da sede de uma das fábricas, onde se encontra o banco de trabalho de tantos homens, residentes em Terni, e nas localidades circunstantes. Este nosso encontro foi centrado no grande problema do trabalho humano, para o qual o dia de hoje dirige de modo particular os nossos pensamentos e os nossos corações.
Aqui vos saúdo pela segunda vez num círculo mais amplo: acompanhados pelas vossas famílias, pelas vossas mulheres e pelos filhos, pelos vossos familiares, parentes, vizinhos e conhecidos. José de Nazaré, “homem justo” — cuja solenidade nos permite olhar com os olhos da fé para a grande causa do trabalho humano — é ao mesmo tempo chefe da casa, chefe da famílias da Sagrada Família; assim como cada um de vós, meus Irmãos e Irmãs, é marido e pai, ou esposa e mãe, responsável pela família e pela casa. Há estreito laço entre o trabalho e a família: entre o vosso trabalho e a vossa família. É São José, a título particular, patrono deste laço. E por isso bem é que, depois do nosso encontro matutino, que nos viu recolhidos à volta do banco do vosso trabalho, nos possamos encontrar aqui para dedicar às famílias a Santa Missa da solenidade. A cada família e a todas as famílias.
Precisamente estas famílias desejo eu convidar de modo mais cordial para a comunidade eucarística, que exprime a nossa unidade familiar com Deus, Pai de .Jesus Cristo e nosso Pai — e ao mesmo tempo manifesta a unidade recíproca dos homens, sobretudo daqueles que formam uma só família.
2. A Eucaristia manifesta e realiza a unidade familiar de toda a Igreja. Para participar no sacrifício de Cristo, para alimentar-se do Seu Corpo e do Seu Sangue, a Igreja reúne-se como uma família junto da mesa da Palavra Divina e junto da mesa do Pão do Senhor.
Hoje, nesta solene assembleia eucarística participa, e modo particular, toda a Igreja de Terni, Narni e Amélia.
Desejo saudar cordialmente esta Igreja como a família do Povo de Deus com o Bispo, Santo Bartolomeo Quadri, que é o seu pastor, e com todo o presbitério. Saúdo os membros dos Cabidos, os Educadores do Seminário, os Párocos e os seus Colaboradores. Saúdo também os Religiosos e as Religiosas das Ordens e das Congregações, que realizam o seu trabalho na região, oferecendo e seu precioso contributo à edificação do povo de Deus. Dirijo um deferente pensamento às Autoridades civis, que desejaram honrar com a sua presença esta nossa Celebração. Uma palavra de saudação quero reservar para a representação da paróquia de Castelnuovo di Conza, vítima do recente terremoto, com a qual os fiéis desta Terra se ligaram louvavelmente como gémeos, para a solidariedade. Saúdo também com particular cordialidade os leigos comprometidos no apostolado, especialmente os que entre si aceitaram inserir-se activamente nas várias formas associativas que operam a nível quer diocesano quer paroquial. E saúdo os jovens, que vejo aqui presentes tão numerosos: saibam eles conservar o coração sempre aberto aos valores anunciados no Evangelho, empenhando-se por construir sobre eles um futuro mais digno do homem. Uma saudação, enfim, a todos os fiéis das Comunidades diocesanas que, no quotidiano desempenho das suas tarefas familiares e sociais, atestam diante dos irmãos a solidez das suas convicções cristãs.
As Igrejas de Terni, Narni e Amélia podem orgulhar-se de antigas tradições de fé, seladas pelo sangue de Mártires ilustres: Valentim, Juvenal e Firmina são nomes que vos são bem conhecidos; evocam a recordação de tempos difíceis, em que a adesão a Cristo comportava o sacrifício até da própria vida. O exemplo de impávida fortaleza, que os vossos santos Patronos vos deixaram como património imperecedouro, seja, para todos os filhos desta terra, constante incitamento àquela corajosa coerência de vida, sem a qual não é possível sentirmo-nos e sermos autenticamente cristãos. A exemplo daqueles antigos cristãos que morreram, pela fé, sabei vós, hoje, viver a fé!
3. A leitura do Evangelho segundo São Mateus convida-nos a meditar num momento particular da vida de José de Nazaré, momento cheio de conteúdo divino e ao mesmo tempo de profunda verdade humana. Lemos: “O nascimento de Jesus deu-se do seguinte modo: Maria, Sua Mãe, tornara-se noiva de José e, antes de terem vivido em comum, encontrara-se grávida, por virtude do Espírito Santo”‘ (Mt 1, 18). Quando ouvimos estas palavras, vêm-nos à mente aquelas outras bem conhecidas, que rezamos quotidianamente na oração da manhã, do meio-dia e da tarde: “O Anjo do Senhor anunciou a Maria e Ela concebeu por obra do Espírito Santo”.
Por obra do Espírito Santo foi concebido o Filho de Deus para se tornar homem: filho de Maria. Este foi o mistério do Espírito Santo e de Maria. O Mistério da Virgem, que às palavras da anunciação respondeu: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).
E assim aconteceu: “E o Verbo fez-se homem e habitou entre nós” (Jo 1, 14). E sobretudo veio habitar no seio da Virgem que — permanecendo virgem — se tornou mãe: “achou-se que tinha concebido por virtude do Espírito Santo” (Mt 1, 18).
Este foi o mistério de Maria. José não conhecia este mistério. Não sabia que n’Aquela de quem ele era esposo, ainda que, em obediência à lei hebraica não a tivesse ainda acolhido sob o seu tecto, se tinha cumprido aquela promessa da Fé feita a Abraão, de que fala na segunda leitura de hoje São Paulo. Isto é, que se tinha cumprido nela, em Maria da estirpe de David, a profecia que em tempos o profeta Natán dirigira a David. A profecia e a promessa da Fé, cuja realização esperava todo o Povo, o Israel da divina eleição, e toda a humanidade.
Este foi o mistério de Maria. José não conhecia este mistério. Não lho podia transmitir Ela, porque era mistério superior às capacidades da inteligência humana e às possibilidades da língua humana. Não era possível transmiti-lo com algum meio humano. Só se podia aceitá-lo de Deus — e crer. Assim como creu Maria.
José não conhecia este mistério e por isto muitíssimo sofria interiormente. Lemos: “José, o esposo dela, que era justo e não queria expô-la à difamação, resolveu repudiá-la em segredo” (Mt 1-19).
Mas chegou certa noite, quando também José creu. Foi-lhe dirigida a palavra de Deus e tornou-se claro para ele o mistério de Maria, da sua Esposa e Cônjuge. Ele acreditou que n’Ela se tinha cumprido a promessa da fé feita a Abraão e a profecia que ouvira o Rei David. (Ambos, José e Maria, eram da estirpe de David).
“José, filho de David, não tenhas receio de trazer Maria, tua Esposa, para junto de ti, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo. Dará à luz um Filho, ao qual porás o nome de Jesus, pois Ele há-de salvar o seu povo dos Seus pecados” (Mt 1, 20-21).
“Assim que despertou do sono — conclui o Evangelho — José fez como lhe ordenara o Anjo do Senhor” (Mt 1, 24).
4. Nós, aqui reunidos, ouvimos estas palavras — e veneramos José, homem justo: José que amou mais profundamente Maria, da casa de David, porque aceitou todo o seu mistério. Veneramos José, no qual se espelha mais plenamente do que em todos os pais terrenos a Paternidade de Deus mesmo. Veneramos José que ao Verbo Eterno construiu a casa familiar na terra — assim como Maria Lhe deu o corpo humano. “O Verbo fez-se homem e habitou entre nós” (Jo 1, 14).
Deste grande mistério da fé dirigimos os nossos pensamentos para as nossas casas, para tantos casais e famílias. José de Nazaré é particular revelação da dignidade da paternidade humana. José de Nazaré, o carpinteiro, o homem do trabalho. Pensai nisto vós — precisamente vós —, homens do trabalho de Terni, de Narni, de Amélia e de toda a Itália, toda a Europa e todo o mundo. Sobre a dignidade da paternidade humana — sobre a responsabilidade do homem, marido e pai, assim como também sobre o seu trabalho — apoia-se a família. José de Nazaré dá-nos disso testemunho.
As palavras que Deus lhe dirige “José, filho de David, não tenhas receio de trazer Maria, tua Esposa, para junto de ti” (Mt 1, 20) não são porventura dirigidas a cada um de vós? Caros Irmãos, maridos e pais de família! “Não tenhais receio de trazer…”. Não abandoneis! Foi dito no princípio: “Por este motivo, o homem deixará o pai e a mãe para se unir à sua mulher” (Gén 2, 24), E Cristo acrescenta: “Aquilo, pois, que Deus uniu não o separe o homem” (Mc 10, 9). A solidez da família, a sua estabilidade é um dos bens fundamentais do homem e da sociedade. Na base da solidez da família está a indissolubilidade do matrimónio. Se o homem, se a sociedade procuram os caminhos que privam o matrimónio da sua indissolubilidade e a família da solidez e da estabilidade, então cortam quase a raiz mesma da sua salvação, privam-se de um dos bens fundamentais, sobre que é construída a vida humana.
Irmãos queridos! Aquela voz, que ouviu José de Nazaré naquela noite decisiva da sua vida, chegue até vós sempre, em particular quando está iminente o perigo da destruição da família, “Não temais perseverar”! “Não abandoneis”! Comportai-vos assim como fez aquele Homens justo.
5. José, filho de David, não tenhas medo de trazer Maria para junto de ti e Aquele que foi gerado nela (cf. Mt 1, 20), Assim diz Deus-Pai ao homem, com que, em certo modo, partilhou a Sua paternidade. Deus, caros Irmãos, partilha em certo sentido a Sua paternidade com cada um de vós. Não do modo misterioso e sobrenatural, como o fez com José de Nazaré… Contudo, toda a paternidade na terra, toda a paternidade humana, d’Ele toma o seu princípio, e n’Ele encontra o seu modelo. A vossa paternidade humana, caros Irmãos, relaciona-se sempre com a maternidade. E aquele que é concebido no seio da mulher-mãe une-vos a vós esposos, marido e mulher, com um particular laço que Deus-Criador do homem abençoou “desde o princípio”. Este é o vínculo da paternidade e da maternidade, que se forma desde o momento em que o homem, o marido, encontra na maternidade da mulher a expressão e a confirmação da sua paternidade humana.
A paternidade é responsabilidade pela vida: pela vida primeiro concebida no seio da mulher, depois dada à luz, para que nela se revele um novo homem, que é sangue do vosso sangue e carne da vossa carne. Deus que diz “Não abandones a mulher, tua esposa”, diz ao mesmo tempo: “acolhe a vida concebida nela! Assim como o disse a José de Nazaré, embora José não fosse o pai carnal d’Aquele que foi concebido por obra do Espírito Santo em Maria Virgem.
Deus diz a cada homem: “Acolhe a vida concebida por tua obra! Não te permitas suprimi-la!”. Deus diz assim com a voz dos seus mandamentos, com a voz da Igreja. Mas Ele diz assim sobretudo com a voz da consciência. A voz da consciência humana. Esta voz é unívoca, não obstante tudo o que se faça para impedir que ela seja ouvida e para sufocá-la, isto é, para que o homem não oiça e a mulher não oiça esta voz simples e clara da consciência.
Os homens do trabalho, os homens do trabalho duro, conhecem esta voz simples da consciência. O que eles sentem do modo mais profundo é precisamente aquele laço que une o trabalho e a família. O trabalho é para a família, pois o trabalho é para o homem (e não vice-versa) — e exactamente a família, e primeiro que tudo a família, é o lugar próprio do homem. É o ambiente em que ele é concebido, nasce e cresce; o ambiente pelo qual ele assume a responsabilidade mais séria, no qual ele se realiza quotidianamente; o ambiente da sua felicidade terrena e da humana esperança. E por isso hoje, no dia de São José, conhecendo os corações dos homens do trabalho, a sua honestidade e responsabilidade, exprimo a convicção de que precisamente eles assegurarão e consolidarão estes dois bens fundamentais do homem e da sociedade: a solidez dá família e o respeito da vida concebida sob o coração da mãe.
6. “Felizes os que moram em vossa casa, Senhor” (cf. Sl 83/84, 5).
Desejo-vos, caros Irmãos e Irmãs, a felicidade. Desejo-vos aquela felicidade que brota da consciência pura. Desejo-vos aquela felicidade que oferece o lar doméstico. Desde a casa nazaretana de José, de Maria e de Jesus, desde aquele modesto banco de trabalho, unido com ela, traço no pensamento e no coração quase uma linha contínua até estes modernos estaleiros do trabalho industrial, nos quais vós vos esfalfais — e levo-a mais longe: até às vossas casas, às vossas famílias. Reine nelas a felicidade que provém de Deus. Seja ela mais forte que todas as provas da vida, das quais nunca está isento o homem na terra. E sobretudo nas vossas casas, nas vossas famílias, desenvolva-se o homem segundo a medida própria da sua dignidade.
Da dignidade que lhe deu Jesus de Nazaré… Jesus de quem se falava como do “filho do carpinteiro” (Mt 13, 55). Apesar de Ele ser da mesma substância do Pai, o Filho de Deus que encarnou e nasceu como homem da Virgem Maria por obra do Espírito Santo.
E crescia em Nazaré ao lado de José. Sob o seu olhar vigilante e desvelado
São José, esposo da Bem-aventurada Virgem Maria
DECRETO
Pelo seu lugar singular na economia da salvação como pai de Jesus, São José de Nazaré, colocado à frente da Família do Senhor, contribuiu generosamente à missão recebida na graça e, aderindo plenamente ao início dos mistérios da salvação humana, tornou-se modelo exemplar de generosa humildade, que os cristãos têm em grande estima, testemunhando aquela virtude comum, humana e simples, sempre necessária para que os homens sejam bons e fiéis seguidores de Cristo. Deste modo, este Justo, que amorosamente cuidou da Mãe de Deus e se dedicou com alegre empenho na educação de Jesus Cristo, tornou-se guarda dos preciosos tesouros de Deus Pai e foi incansavelmente venerado através dos séculos pelo povo de Deus como protetor do corpo místico que é a Igreja.
Na Igreja Católica os fiéis, de modo ininterrupto, manifestaram sempre uma especial devoção a São José honrando solenemente a memória do castíssimo Esposo da Mãe de Deus como Patrono celeste de toda a Igreja; de tal modo que o Beato João XXIII, durante o Concílio Ecuménico Vaticano II, decretou que no antiquíssimo Cânone Romano fosse acrescentado o seu nome. O Sumo Pontífice Bento XVI acolheu e quis aprovar tal iniciativa manifestando-o várias vezes, e que agora o Sumo Pontífice Francisco confirmou, considerando a plena comunhão dos Santos que, tendo sido peregrinos conosco neste mundo, nos conduzem a Cristo e nos unem a Ele.
Considerando o exposto, esta Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, em virtude das faculdades concedidas pelo Sumo Pontífice Francisco, de bom grado decreta que o nome de São José, esposo da Bem-aventurada Virgem Maria, seja, a partir de agora, acrescentado na Oração Eucarística II, III e IV da terceira edição típica do Missal Romano. O mesmo deve ser colocado depois do nome da Bem-aventurada Virgem Maria como se segue: na Oração Eucarística II: “ut cum beata Dei Genetrice Virgine Maria, beato Ioseph, eius Sponso, beatis Apostolis”, Na Oração Eucarística III: “cum beatissima Virgine, Dei Genetrice, Maria, cum beato Ioseph, eius Sponso, cum beatis Apostolis”; na Oração Eucarística IV: “cum beata Virgine, Dei Genetrice, Maria, cum beato Ioseph, eius Sponso, cum Apostolis”.
Para os textos redigidos em língua latina utilizam-se as formulas agora apresentadas como típicas. Esta Congregação ocupar-se-á em prover à tradução nas línguas ocidentais mais difundidas; para as outras línguas a tradução devera ser preparada, segundo as normas do Direito, pelas respectivas Conferências Episcopais e confirmadas pela Sé Apostólica através deste Dicastério.
Nada obste em contrário.
Sede da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, 1 de Maio de 2013, São José Operário.
Antonio Card. Cañizares Llovera
Prefeito
+ Arthur Roche
Arcebispo Secretário
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